1.) O teatro rigorosamente dentro do cinema, isto é: peças que são montadas entre intervalos de sessões de filmes. Um iniciativa do TEATRONUCINEMA (veja o cartaz), cujo comandante é Gil Vicente Tavares, um dos mais sérios e competentes diretores de teatro que pontificam na Bahia. Maiores informações sobre o que vai acontecer no site http://www.teatronu.com
2.) Morreu Peter Yates (1929/2011), aos 81 anos. Yates se celebrizou já no seu segundo longa em 1968: Bullit, thriller com Steve McQuenn dotado de rigorosa precisão rítmica e com uma sequência eletrizante de perseguição automobilística cuja montagem foi copiada ad infinitum. Realizou em seguida John & Mary, notável observação sobre dois jovens (Dustin Hoffman e Mia Farrow) envolvidos com os problemas de sua geração. Seu melhor filme, porém, é O fiel camareiro (The dresser, 1983), com interpretações inexcedíveis de Albert Finney e Tom Courtenay, que retrata os bastidores do teatro num paralelo entre o que acontece nos camarins e o que acontece no palco (a encenação de Rei Lear, de Shakespeare). Também é muito bom o thriller Sob suspeita (Suspect, 1987), com Dennis Quaid e Cher. Há mais outros que merecem ser citados.
3.) Verificando as antologias de críticas já publicadas (Paulo Emílio, Walter da Silveira, Almeida Salles, Grunewald, Moniz Vianna, Ely Azeredo, entre outros), nota-se que, nos anos 50 e anteriores, principalmente, os ensaístas e críticos somente se preocupavam com os realizadores que possuíam, em seus filmes, temas nobres a tratar.Os dois volumes das críticas de Paulo Emílio (que foi, diga-se de passagem, um mestre incomparável) se preocupam mais com Eisenstein, Orson Welles, Neorrealismo, Expressionismo, Rossellini etc. Nada sobre Hawks, Douglas Sirk, Frank Tashlin, Billy Wilder, considerados, por eles, menores. Foi preciso que os jovens do Cahiers du Cinema abrissem os olhos da crítica acadêmica para a valorização de autores importantes do cinema americano. É o que faz, por exemplo, Inácio Araújo no seu recente Cinema de boca em boca - Escritos sobre cinema, editada pela Aplauso.
4.) O livro de Inácio Araújo é um exemplo mais que perfeito de como a crítica de cinema deve ser exercida. Para a pergunta que se faz sempre, o que é crítica de cinema, a resposta está em Cinema de boca em boca. E a leitura é extremamente agradável, lê-se de um fluxo, e quando se o começa não se quer mais largar. Muitos críticos procuram a obscuridade para se fazer parecer mais profundos. Em Inácio Araújo, o caso é oposto: claro, objetivo, bem escrito, e com profundidade. Livro que deveria ser recomendado para todas as escolas de cinema que pipocam neste país de cineastas. Principalmente agora que todos se dizem críticos, a lembrar, nisso, os milhões de técnicos de futebol existentes no Brasil. A crítica é um processo lento, acumulativo, um exercício de paciência, como disse, certa vez, o autor.
5.) Paulo Emílio Salles Gomes tem um artigo em seu livro de críticas no qual ataca o Hitchcock de O homem errado (The wrong man, 1956), que é, na verdade, uma obra extraordinária. Sobre ser um exegeta de grande envergadura, Paulo Emílio tinha preconceito contra o grande cinema americano, esta a verdade. Assim como Walter da Silveira, que, em Fronteiras do cinema, que reúne vários de seus ensaios, no texto As vertigens de Alfred Hitchcock também promove a diminuição do valor do mestre inglês, como se tudo que fez não passagem de vertigens. A compreensão do gênio hitchcockiano veio com os franceses, com a revista Cahiers du Cinema e seus redatores-exegetas como Eric Rohmer, François Truffaut, Claude Chabrol, Jacques-Doniel Valcroze, Jean-Luc Godard, Jacques Rivette, Jean Douchet, entre outros. Inácio Araújo, nesse particular, sempre está a exaltar o gênio do autor de Vertigo.
6.) Prefiro os filmes nos quais os realizadores usam tripé, porque câmera na mão que balança abusa e tira do filme um certo rigor, à exceção, talvez, de alguns cineastas que se caracterizam justamente pelo desequilíbrio na apreensão da tomada, como é o caso de Lars Von Trier, cineasta a respeitar. O mais irritante, no entanto, é quando a câmera na mão é usada dentro de uma estrutura narrativa de cortes rápidos. Fica, pelo menos para mim, insuportável. Gosto de tomadas mais demoradas, feitas com tripé, com elegância, ou uma panorâmica bem executada, assim como um travelling audacioso. A tendência atual, no entanto, e para a infelicidade de cinéfilos como eu, é o steadycam.
4.) O livro de Inácio Araújo é um exemplo mais que perfeito de como a crítica de cinema deve ser exercida. Para a pergunta que se faz sempre, o que é crítica de cinema, a resposta está em Cinema de boca em boca. E a leitura é extremamente agradável, lê-se de um fluxo, e quando se o começa não se quer mais largar. Muitos críticos procuram a obscuridade para se fazer parecer mais profundos. Em Inácio Araújo, o caso é oposto: claro, objetivo, bem escrito, e com profundidade. Livro que deveria ser recomendado para todas as escolas de cinema que pipocam neste país de cineastas. Principalmente agora que todos se dizem críticos, a lembrar, nisso, os milhões de técnicos de futebol existentes no Brasil. A crítica é um processo lento, acumulativo, um exercício de paciência, como disse, certa vez, o autor.
5.) Paulo Emílio Salles Gomes tem um artigo em seu livro de críticas no qual ataca o Hitchcock de O homem errado (The wrong man, 1956), que é, na verdade, uma obra extraordinária. Sobre ser um exegeta de grande envergadura, Paulo Emílio tinha preconceito contra o grande cinema americano, esta a verdade. Assim como Walter da Silveira, que, em Fronteiras do cinema, que reúne vários de seus ensaios, no texto As vertigens de Alfred Hitchcock também promove a diminuição do valor do mestre inglês, como se tudo que fez não passagem de vertigens. A compreensão do gênio hitchcockiano veio com os franceses, com a revista Cahiers du Cinema e seus redatores-exegetas como Eric Rohmer, François Truffaut, Claude Chabrol, Jacques-Doniel Valcroze, Jean-Luc Godard, Jacques Rivette, Jean Douchet, entre outros. Inácio Araújo, nesse particular, sempre está a exaltar o gênio do autor de Vertigo.
6.) Prefiro os filmes nos quais os realizadores usam tripé, porque câmera na mão que balança abusa e tira do filme um certo rigor, à exceção, talvez, de alguns cineastas que se caracterizam justamente pelo desequilíbrio na apreensão da tomada, como é o caso de Lars Von Trier, cineasta a respeitar. O mais irritante, no entanto, é quando a câmera na mão é usada dentro de uma estrutura narrativa de cortes rápidos. Fica, pelo menos para mim, insuportável. Gosto de tomadas mais demoradas, feitas com tripé, com elegância, ou uma panorâmica bem executada, assim como um travelling audacioso. A tendência atual, no entanto, e para a infelicidade de cinéfilos como eu, é o steadycam.
3 comentários:
Gostei muito desta postagem com tópicos e iniciada com este cartaz, um belo exemplar das artes gráficas que me recorda os "afiches" tchecos e poloneses do pós guerra.
Setaro, obrigado pela divulgação espontânea! Conto com sua presença lá nos dois espetáculos.
Em maio devo voltar com "Os Javalis". Na altura você saberá e espero poder ter sua presença também!
grande abraço,
GVT.
Setaro, o grande Rogério Sganzerla valorizava diretores como Hawks, Ray e Fuller em seus artigos no "Estadão", nos anos 60, assim como cineastas brasileiros do quilate de Humberto Mauro e Saraceni. Os textos foram compilados em dois belos volumes, editados pela Universidade Federal de Santa Catarina. Já os leu? Altamente recomendado.
Postar um comentário