Como é público e notório, detesto pipoca em cinema. Achei na internet um excelente texto que tomo a ousadia de publicá-lo sem pedir autorização ao autor, Guss de Lucca. O site, que recomendo, é: http://screamyell.com.br/site/2010/05/27/censura-a-pipoca-no-cinema/
"Um boato sobre a produção surge na internet. Semanas depois o estúdio confirma o projeto. Não custa muito para que divulguem os roteiristas, diretor e nomes que encabeçam o elenco. O coração palpita e a imaginação vai a mil por hora. Você pensa no ator vestindo o figurino da personagem, imagina algumas cenas e tenta até adivinhar as escolhas da direção.
Meses depois um site divulga a primeira foto. Misteriosa, ela serve para aguçar a necessidade de saber mais sobre a produção. Nos fóruns de discussão as pessoas já comentam e muito tempo depois surge o primeiro trailer. Imagem e som editados. Atores em ação. Sequências desconexas sobre uma possível grande história. “Uau! Preciso ver esse filme ontem”, você pensa enquanto assiste ao trailer pela vigésima vez.
A data de lançamento é marcada e você compra o ingresso para a pré-estreia. O dia parece que não passa. O relógio, que até então avançava vagarosamente, só começa a correr quando você deixa o trabalho e voa para a sala de cinema. Não se atrasar pode ser a garantia de um bom lugar, caso você prefira o disputado miolo da sala de projeção.
Já acomodado em sua poltrona você se distraí com a música ambiente e observa a enorme tela branca, ciente de que em poucos minutos o processo que começou meses atrás - às vezes anos! - está para se encerrar. As luzes se apagam. O projetor é ligado. Você prende a respiração. O filme começa. E nesse momento mágico um filho da puta enfia a mão no gigantesco saco de pipoca de seu colo e começa a mastigar aquele milho salgado e barulhento.
Feita a introdução, vamos ao que interessa.
Quem gosta ver filmes não come no cinema. Ponto. E não há argumento algum que me convença de que tal afirmação está errada. Assistir a um filme é uma atividade que requer atenção, concentração e conforto. Se você é uma das pessoas que não consegue ficar sem comer, beber, ir ao banheiro e conversar durante duas horas de sua vida, considere-se uma idiota.
Uma pessoa idiota, de acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa Novo Aurélio, sofre de idiotia, que nas palavras da mesma obra consiste em “atraso intelectual profundo, caracterizado por ausência de linguagem e nível mental inferior ao da idade normal de três anos”. Uma ótima definição para quem não consegue prestar atenção durante o tempo de um filme.
Pessoas inteligentes não falam no cinema. Tampouco comem. Elas se alimentam antes ou depois das sessões. Jamais durante. E sempre vão ao banheiro antes do filme começar, afinal, dentro do cinema seu objetivo é um só: assistir a uma história.
Quando compram um ingresso na bilheteria do cinema, as pessoas que gostam de filmes sabem que estão pagando por uma poltrona e pelo direito de assistir a uma projeção sossegadamente. E seria justo que as demais pagantes se portassem de acordo com a ocasião, respeitando o direito sagrado de ver um filme no mais completo silêncio. Se isso não fosse importante, para que construiriam salas com proteção acústica?
Defensores da pipoca dizem que ela tem tudo a ver com cinema. Sempre que ouço isso eu lhes pergunto: Como assim?! Pipoca é um dos alimentos mais barulhentos do mundo. E de boa, é também um dos mais sem graça - tem gosto de sal, fede a manteiga, suja os dedos de quem come e enche os vãos dos dentes de lascas. E sequer é nutritivo ou mata a fome. Comer pipoca e não comer nada só não é a mesma coisa porque o nada não faz barulho.
E até onde sei, quem come pipoca no cinema não o faz nos teatros, igrejas ou durante o sexo - bom, alguns devem comer pipoca durante o sexo, mas não vou me ater a bizarrices. Então por que diabos as pessoas precisam comer pipoca durante um filme? É tão difícil imaginar-se durante uma sessão de cinema sem comer nada, emitir opinião ou ir ao banheiro?
O cinema é o instrumento utilizado para se contar uma história, e a única maneira de entender uma história é prestar atenção em quem a conta - no caso, um diretor por meio de uma câmera. Quem não tem interesse em ouvir - ou no caso assistir - uma história, não deve ir a uma sessão de cinema. Mas a relação das pessoas com os filmes é diferente.
Com o passar dos anos, ir ao cinema tornou-se um programa qualquer, deixando de ser uma grande ocasião. E é curioso analisar que as pessoas não vão a um restaurante quando não estão com fome, ou não vão ao motel quando não querem fazer sexo - mais uma vez melhor ignorar as bizarrices. Porém, muitas vão ao cinema sem sequer saber qualquer informação sobre o filme que assistirão. Idiotas que, para infelicidade geral, só sabem atrapalhar.
Não custa imaginar o futuro, sonhar com o surgimento do “cinema dos justos”, que um dia há de ser construído e onde não serão permitidos alimentos, conversas e idas ao banheiro durante a projeção. Em suma, um cinema à prova de idiotas. Será que vai demorar muito?
*******Este texto é dedicado ao amigo e editor do site Marcelo Costa, que se divertiu com minha inflamada defesa da proibição da pipoca nos cinemas durante um almoço e me convenceu a escrever isso.
*******
Guss de Lucca é jornalista e historiador, e trabalha no iG Cultura.
Meses depois um site divulga a primeira foto. Misteriosa, ela serve para aguçar a necessidade de saber mais sobre a produção. Nos fóruns de discussão as pessoas já comentam e muito tempo depois surge o primeiro trailer. Imagem e som editados. Atores em ação. Sequências desconexas sobre uma possível grande história. “Uau! Preciso ver esse filme ontem”, você pensa enquanto assiste ao trailer pela vigésima vez.
A data de lançamento é marcada e você compra o ingresso para a pré-estreia. O dia parece que não passa. O relógio, que até então avançava vagarosamente, só começa a correr quando você deixa o trabalho e voa para a sala de cinema. Não se atrasar pode ser a garantia de um bom lugar, caso você prefira o disputado miolo da sala de projeção.
Já acomodado em sua poltrona você se distraí com a música ambiente e observa a enorme tela branca, ciente de que em poucos minutos o processo que começou meses atrás - às vezes anos! - está para se encerrar. As luzes se apagam. O projetor é ligado. Você prende a respiração. O filme começa. E nesse momento mágico um filho da puta enfia a mão no gigantesco saco de pipoca de seu colo e começa a mastigar aquele milho salgado e barulhento.
Feita a introdução, vamos ao que interessa.
Quem gosta ver filmes não come no cinema. Ponto. E não há argumento algum que me convença de que tal afirmação está errada. Assistir a um filme é uma atividade que requer atenção, concentração e conforto. Se você é uma das pessoas que não consegue ficar sem comer, beber, ir ao banheiro e conversar durante duas horas de sua vida, considere-se uma idiota.
Uma pessoa idiota, de acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa Novo Aurélio, sofre de idiotia, que nas palavras da mesma obra consiste em “atraso intelectual profundo, caracterizado por ausência de linguagem e nível mental inferior ao da idade normal de três anos”. Uma ótima definição para quem não consegue prestar atenção durante o tempo de um filme.
Pessoas inteligentes não falam no cinema. Tampouco comem. Elas se alimentam antes ou depois das sessões. Jamais durante. E sempre vão ao banheiro antes do filme começar, afinal, dentro do cinema seu objetivo é um só: assistir a uma história.
Quando compram um ingresso na bilheteria do cinema, as pessoas que gostam de filmes sabem que estão pagando por uma poltrona e pelo direito de assistir a uma projeção sossegadamente. E seria justo que as demais pagantes se portassem de acordo com a ocasião, respeitando o direito sagrado de ver um filme no mais completo silêncio. Se isso não fosse importante, para que construiriam salas com proteção acústica?
Defensores da pipoca dizem que ela tem tudo a ver com cinema. Sempre que ouço isso eu lhes pergunto: Como assim?! Pipoca é um dos alimentos mais barulhentos do mundo. E de boa, é também um dos mais sem graça - tem gosto de sal, fede a manteiga, suja os dedos de quem come e enche os vãos dos dentes de lascas. E sequer é nutritivo ou mata a fome. Comer pipoca e não comer nada só não é a mesma coisa porque o nada não faz barulho.
E até onde sei, quem come pipoca no cinema não o faz nos teatros, igrejas ou durante o sexo - bom, alguns devem comer pipoca durante o sexo, mas não vou me ater a bizarrices. Então por que diabos as pessoas precisam comer pipoca durante um filme? É tão difícil imaginar-se durante uma sessão de cinema sem comer nada, emitir opinião ou ir ao banheiro?
O cinema é o instrumento utilizado para se contar uma história, e a única maneira de entender uma história é prestar atenção em quem a conta - no caso, um diretor por meio de uma câmera. Quem não tem interesse em ouvir - ou no caso assistir - uma história, não deve ir a uma sessão de cinema. Mas a relação das pessoas com os filmes é diferente.
Com o passar dos anos, ir ao cinema tornou-se um programa qualquer, deixando de ser uma grande ocasião. E é curioso analisar que as pessoas não vão a um restaurante quando não estão com fome, ou não vão ao motel quando não querem fazer sexo - mais uma vez melhor ignorar as bizarrices. Porém, muitas vão ao cinema sem sequer saber qualquer informação sobre o filme que assistirão. Idiotas que, para infelicidade geral, só sabem atrapalhar.
Não custa imaginar o futuro, sonhar com o surgimento do “cinema dos justos”, que um dia há de ser construído e onde não serão permitidos alimentos, conversas e idas ao banheiro durante a projeção. Em suma, um cinema à prova de idiotas. Será que vai demorar muito?
*******Este texto é dedicado ao amigo e editor do site Marcelo Costa, que se divertiu com minha inflamada defesa da proibição da pipoca nos cinemas durante um almoço e me convenceu a escrever isso.
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Guss de Lucca é jornalista e historiador, e trabalha no iG Cultura.
7 comentários:
Não há nada mais desrespeitoso numa sala de cinema do que um saco de pipocas, celular e "conversinhas".
Adorei o texto. Tem pessoas que passam dos limites quando o assunto é comer no cinema! Já vi gente levando pizza família pra dentro da sala de projeção. ô país aculturado!
Cultura? O lugar é aqui:
http://culturaexmachina.blogspot.com
E pipoca (popcorn) era hábito antigo dos estadunidenses, conhecidos também como 'ianques', 'gringos' ou seja lá qual o nome.
Nós aqui por 'Terras Brasilis' sempre recorremos ás balas (nada perdidas). Quando eu era menino havia até "baleiros" dentro dos cinemas. Depois ficaram acomodadas na 'bombonière'.
Mas, como alguem aí em cima disse, somos aculturados. Após a 'infuence française', mais sofisticada vieram, junto como o "Multiplexes" (segundo o Professor Setaro), essas modas de hamburgueres e pipocas da vida.
Só pra chatear!
escrever é um ato de liberdade. você não acha que comer pipoca no cinema também é? de que cinema você é assíduo frequentador? você imagina que tipo frequentaria seu cinema particular? quais os cinemas da europa que você visitou podem ser citados como exemplo? um cinema de distinção? um cinema polido burguês? um cinema? um discurso inflamado é o bastante?
só, por agora.
Um amigo meu me contou que ficou admirado quando foi aos cinemas em Paris. O público, em silêncio tumular, respeita o que assiste. E é proibido se comer dentro da sala de projeção. Jonga Olivieri, aliás, que vai sempre ao cinema da Estação em Botafogo, também me disse que nesta sala as pessoas são educadas e comportadas.
Aqui na Bahia a coisa é diferente. E, inclusive, o público que frequenta as salas ditas alternativas é extremamente mal educado. São uns pseudocinéfilos, pseudointelectuais, que gostam somente de aparecer, da badalção pura e simples.
Nada pior do que um pseudo cinéfilo. Irrita.
para deleite desses "idiotas, segundo o autor, o tamanho dos sacos, na verdade baldes de pipoca, cada dia aumenta mais. Quem suporta esse ruminar primitivo?
Bom, posso falar pela Alemanha, pois minha esposa é nascida lá. No país em questão, e olha que é o dito 1ª Mundo, terra da Filosofia, a situação é quase a mesma.
A melhor coisa é ver o filme em casa numa cópia Bluray - tão facilmente encontrada.
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