Uma das principais figuras da Nouvelle Vague, Erich Rohmer desapareceu aos 89 anos - idade, convenhamos, boa para se morrer. Crítico da Cahiers du Cinema no auge de sua fama (anos 50 e 60), a partir de 1959, quando realiza o seu primeiro longa, O signo do leão, começa uma filmografia singular, original e sem concessões. Autor de Le cinema selon Hitchcock, escrito em parceria com Claude Chabrol, Rohmer defendia, com unhas e dentes, a excelência cinematográfica do mestre Hitch, assim como alguns cineastas americanos de sua preferência, a exemplo de Nicholas Ray. Como exegeta de filmes, gostava de cineastas da ação e da emoção, mas, enquanto cineasta, um cineasta quase da inação, caracterizava-se por filmes nos quais os diálogos eram abundantes. Os diálogos, nos filmes de Eric Rohmer, eram um condutio para a expressão de suas idéias em seus contos morais e nas suas comédias e filmes proverbiais. Entre os seus filmes, destacam-se Conto de primavera, Conto de verão, Conto de inverno, Minha noite com ela (Ma nuit chez Maud, 1969), com Jean-Louis Trintgnant, A duquesa e o duque, O raio verde, e outros, muitos outros. Rohmer era um cineasta da palavra.
Até os anos 90, era muito difícil ver um filme de Eric Rohmer. Um ou dois foram lançados comercialmente e um deles, Minha noite com ela, já no ocaso da década de 60. Mas nos 90, a Estação Botafogo, quando planejou uma retrospectiva do autor, nunca pensou no sucesso que atingiria. O êxito, surpreendente, fez com que alguns filmes permanecessem por muito tempo em exibição, a provocar, com isso, um rohmerismo entre os cinéfilos mais atentos e exigentes - Rohmer não é para qualquer cinéfilo meia-sola. A morte deste autor reverenciado - e apreciado por poucos - se dá quando faltam dois meses para o cineasta completar os rigorosos 90 anos. Entre outros filmes do realizador de Ma nuit chez Maud: O joelho de Claire (Le genou de Claire,1970), que foi lançado no mercado brasileiro ainda que meio escondido e com lançamento queimado em outras capitais, Noites de lua cheia (Les nuits de la pleine lune, 1994), A mulher do aviador (La femme de l'aviateur, 1981), Perceval le gallois (1978), Pauline na praia (Pauline à la plage, 1983), L'amour l'après midi (que tenho especial admiração) etc.
Para gáudio dos rohmeristas, a Europa tem em seu acervo de DVDs vários de seus filmes. Esta mesma Europa que massacrou, pondo-o em full screen, o belo Menina de ouro, de Clint Eastwood, e gosta muito de enganar o consumidor alterando os formato soriginais de seus filmes originariamente feitos em cinemascope e espichados para a tela cheia. Mas em relação a Rohmer, a Europa se comportou direitinho.
Para gáudio dos rohmeristas, a Europa tem em seu acervo de DVDs vários de seus filmes. Esta mesma Europa que massacrou, pondo-o em full screen, o belo Menina de ouro, de Clint Eastwood, e gosta muito de enganar o consumidor alterando os formato soriginais de seus filmes originariamente feitos em cinemascope e espichados para a tela cheia. Mas em relação a Rohmer, a Europa se comportou direitinho.
7 comentários:
Com exceção do Joelho de Claire e do Minha Noite com ela,André,as cópias que saíram no Brasil estão meia-boca,com visual até desbotado.
No www.alessandrocoimbrablog.blogspot.com também fiz uma notinha pro homem.
Abr
Há menos de duas semanas um amigo francês disse, em tom de chacota, que nos filmes de Eric Rohmer, os atores pareciam ler livros, num tom monocórdio. Na hora não entendi bem, fiquei martelando aquilo na minha cabeça. Sempre gostei de seus filmes (de Rohmer) e os descobri indiretamente graças a você Setaro. Através das suas aulas percebi que temos que nos imaginar parte da obra e dar um tempo para o filme. Acho que ele não percebeu bem isso. Muitas vezes temos que superar nossas mesmas resistências e procurar uma imersão. Pensar na época em que foram feitos, deixar nossos preconceitos do lado de fora da sala. Sempre penso no livro "Grandes Sertões" que é uma leitura difícil no começo e, depois de uma resistência de umas 50 páginas, se torna maravilhoso.
Obrigado Omar,
Você sabe apreciar a arte do filme. E obrigado pela parte que me toca.
Realmente uma pena.
Criar birras, antagonistas, mal-estar é facil. Rohmer fazia filmes puros, sensíveis, belos, até inocentes, porém sinceros. O cinema perde muito sem ele.
Ps: André, criei um blog faz uns 20 dias. Pretendo fazer com que os alunos de cinema do 3º período escrevam regularmente nele. Poderia adicionar link?
http://cultureinjection.wordpress.com
Grato
Já está linkado, Guilherme.
A.Setaro, você falaria sôbre o filme "Lula o Filho do Brasil", daria o seu parecer, algo assim? Agradeço-lhe a atenção. Helena
Postar um comentário