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13 agosto 2008

Vito Diniz por José Umberto

Quando da criação dos prêmios para o festival de cinco minutos, um deles recebeu o nome de Vito Diniz. Nesta ocasião, José Umberto, que trabalhou com o fotógrafo em vários de seus filmes, inclusive no seu primeiro longa O anjo negro (1973), escreveu um belo texto sobre o artista da luz. Que faço aqui questão de publicar.

"O artífice da câmera na mão. Esta é a imagem primeira de Vito, aquele que registrou, com elegância e beleza clássica, os filmes baianos de fins dos anos 60, 70 e meados de 80. Sua câmera Arriflex 35mm, que trouxera da Itália, foi a responsável direta pela captação de imagens límpidas de diversos cineastas, sobretudo daqueles estreantes com todo o gás.

Com um olho na câmera e o outro na larga experiência de cineasta e fotógrafo, Vito Diniz é o protótipo do artesão renascentista, cuidadoso, exigente, calmo e nobre no trato.

Deixou o legado de uma marca. A marca da busca apaixonada da imagem com o traço de quem filtra a luz com a maestria de um acadêmico despojado e sem afetação. Trabalhava para os outros com a mesma disposição atlética com que realizava seus próprios filmes.

O seu curta metragem Gran Circo Internacional é um marco do cinema periférico no século XX. Primando pela sutileza, este pequeno grande filme sintetiza o rigor do ritmo numa unidade de respiração, de escala métrica do tempo, na passagem dos planos operacionalizada pela montagem poética. Vito imprimia a imagem do real com o sentido da transcendência. Com a urgência da plasticidade nos meandros do claro/escuro, na fonte primeva das sombras, no êxtase e na vertigem das cores, mas sempre na procura da criação de um humanismo.

A sua simplicidade, herança do neo-realismo italiano, implicava numa exigência estética do aprofundamento. Não lhe interessava a superfície das sensações, porém o mergulho na essência de uma sociedade marcada pelo sofrimento. E ele não se deixava abater pela dor porque sua intenção fundamental seria sublimá-la e transubstanciá-la com a visão de poeta da imagem.

Vito Diniz fez cinema como Francisco de Assis falava com os pássaros em Pádua. Sua generosidade como artista é o exemplo de uma linguagem sem subterfúgio, de uma metáfora sem vaidades mundanas, portanto claro como um entardecer na praia de Piatã com fachos delirantes de um vermelho que sinaliza sangue e fervor."

3 comentários:

Anônimo disse...

Oi, se vc ainda tiver interesse em fazer parte da Liga dos Blogues Cinematográficos, a seleção de novos membros começou: www.ligadosblogues.wordpress.com

vicsamp disse...

André, muito inspirado este texto do Zé Humberto, conseguiu sintetizar em poucas linhas a maestria do grande Vitão..., assim com ênfase mesmo... se puder dê meus cumprimentos a ele, que há de se lembrar de mim, apesar de já ter bons anos que não nos vemos.

Obrigado
Vicente

Anônimo disse...

Muito bonito o post de josé Umberto,onde consegue ir além das lembranças, transcrevendo a arte de Vito,imprime tambem a sua generosidade ao declarar a do outro e orientando,quer seja, conduzindo os mais novos à sensibilidade com a lente.
Aos amigos e principalmente aos parentes de Vito Sepulveda Dinis,que tambem era por parte da mãe ,neto do Conde Modesto Leal,um retorno bem lembrado descrito por UMBERTO.Meus tres filhos são sobrinhos de VITO,e, este post é muito importante para eles.