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17 julho 2006

Será o Benedito?


Para os que nasceram na era do vídeo, e, agora, do disquinho mágico, nada muito surpreendente. Mas para aqueles, como eu, que nasceram em priscas eras, em meados do século passado (1950, para ser mais preciso), com o tempo passando rápido - ó tempo suspende o teu vôo!, implacável, o advento do VHS foi uma surprêsa, e a do DVD, com tantos dreyers e bergmans, minnelis e langs, hawks e fellinis, espalhados por aí, quase um assombro. Alguém já disse que foi pelo assombro que o homem começou a filosofar, mas, isto, outra história. Acontece que, antigamente, as imagens em movimento somente eram possíveis de ser contempladas no escurinho das salas exibidoras, havendo, para isso, de se pagar um ingresso. A televisão, naquela época, era muito ruim em termos de imagem. Assim, havia duas características no que diz respeito à psicologia da recepção: a inacessibilidade e a impossibilidade de o espectador intervir na temporalidade. Na primeira, quando dentro do cinema, e sala enorme, com quase dois mil lugares, verdadeiros palácios, a imagem que se via na tela era algo mágico, inacessível. Lembro-me que havia um senhor que vendia fotogramas de filmes na Praça da Piedade (aqui em Salvador), e que também oferecia para compra uma lata que, devidamente furada, continha, em uma de suas extremidades, uma lente de óculos que permitia ver os fotogramas com mais nitidez do que a ôlho nu.

Se um determinado filme era exibido e, por acaso, estivesse doente ou viajando, retirado de cartaz, podia perdê-lo para sempre, excetuando-se os grandes sucessos que sempre eram recolocados. E, na segunda característica, a impossibilidade de intervenção na temporalidade. Projetado o filme, este se desenrolava na tela - ou no écran, como se dizia então, e ninguém podia pará-lo, retrocedê-lo, avançá-lo, salvo se entrasse na cabine de projeção e, revólver em punho, ameaçasse o operador. Mas a inacessibilidade e a temporalidade se tornaram favas contadas com o surgimento do VHS e do DVD. Há, inclusive, creio, uma perda da aura cinematográfica. Se os disquinhos funcionam como o resgate do cinema, por outro lado, no entanto, perdeu-se a magia do espetáculo, visto em comunhão numa platéia. O indivíduo hoje já nasce vendo imagens em movimento e, por isso, elas se tornaram vulgares.

Quando me contaram que, nos Estados Unidos, inventaram um aparelho pelo qual se podia ver filmes, que ficavam dentro de uma caixinha, não acreditei. Era o vídeo que então estava inventado e restrito ao território de Tio Sam. Precisei, como São Thomé, ver para crer, o que aconteceu em torno da metade dos anos 80, quando comprei o meu primeiro aparelho de VHS, um Sharp, que me deu muito trabalho de sintonizar. E as cópias eram péssimas. Precisou-se esperar que o DVD surgisse para que o cinema recebesse uma punhalada nas costas (na região pulmonar). Mas vou contar uma história.

Corria o ano de 1973. Estava no Rio de Janeiro a passar as férias de julho. O jornal da época era o Jornal do Brasil, com seu excelente Caderno B. Neste, tomei conhecimento que Ladrões de bicicleta ia ser exibido na Cinemateca do Museu de Arte Moderna numa única sessão pela tarde. Conhecia muitos filmes, nesta ocasião pré-vídeo, de ouvi dizer e de leitura, alguns importantes com muitas informações. Era o caso de Ladri di biciclette, de Vittorio De Sica, que nunca tinha visto por falta de oportunidade e, também, porque nunca foi exibido em Salvador durante o meu itinerário existencial (depois passou algumas vezes). Assim, fiquei a postos, esperando o horário, com certa expectativa, expectativa, aliás, que não tenho mais para quase nada. Chovia fino. Entrei na sala da saudosa Cinemateca. Mas, quando saí, um toró se abateu sobre a cidade, que ficou completamente engarrafada. Difícil pegar um táxi. Depois de algum padecimento embaixo da marquise do museu, resolvi ir andando do Flamengo, onde fica este, até Laranjeiras, onde estava hospedado. Cheguei encharcado e, no outro dia, com febre alta, ameaçado de pneumonia. Mas estava feliz por ter visto Ladri di biciclette. Atualmente, tenho-o em VHS, que fica guardado, parado.

Não seria mais possível um sacrifício tal para ver um filme. Tenho um amigo, por exemplo, que ia sempre à Paris para se meter na Cinematheque Française e ficar o dia todo vendo obras clássicas. Hoje tem um home theater chez toi e há anos que não viaja. Viajava somente para ver filmes.

5 comentários:

Anônimo disse...

Setaro:
Sem querer tirar a razão de seu amigo "tres chic" que deixou de ir à França para ver os seus clássicos do coração em casa, penso que nada é capaz de substituir a apreciação de um filme no telão do cinema. Eu ainda corro, aflito, para ver um filme no cinema, mesmo que ele já esteja disponível na videolocadora do bairro ou passível de ser "dowloadeado" no computador do vizinho - já que o meu tem a mania irritante e frequente de se auto-aposentar para reparos hehehe!!! Telas enormes como a do Cine XIV ou mesmo do Multiplex, com ou sem a rotineira horda de bárbaros pipocômanos que tanto lhe apavora, valem o sacrifício. Já diante de telas com notório complexo de inferioridade e/ou em caso de salas com projeções indignas dos filmes que exibe, confesso pensar melhor a respeito e não raras vezes o aconchego do lar é mais sedutor. Mas é inegável que os disquinhos mágicos reinventaram a cinefilia. Senão, onde mais apreciar a qualquer hora do dia a beleza monumental de "Ludwig" ou o humor selvagem de "Some Like it Hot" ou "Vitor ou Vitória" ? Abraços,
Julio

Iris de Oliveira disse...

Moro em Itapuã ( um bairro que eu amo mas que não tem cinema). Minhas deliciosas jornadas ao cinema eram quase sempre solitárias ( até arranjar um amado que também ama cinema). Pegava meu ônibus 12h e escolhia: Barris, Museu ou XVII, o negócio era aproveitar a tarde e ver os 3 filmes que estávam em cartaz. De itapuã para esses lugares ( em dias de trânsito tranquilo) dá mais de uma hora ( uma para ir e outra pra voltar) . E eu voltava já de noitinha, ônibus vazio, cabeça cheia, curtindo a cidade e no pânico dos assaltos. e quase todo final de semana eu viajava pra ver cinema.
Eu trabalho com edição, meu namorado comprou um computador com gravador de DVD, piratiamos e baixamos qualquer negócio mas até hoje não consigo ver longas na telinha do PC, acho que nunca vou negar um convite para dar um passeio no outro lado da cidade.
Abraços Professor!
Iris

Anônimo disse...

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