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09 abril 2006

Sam Peckinpah, cineasta implacável



Thriller vigoroso, sem falsos moralismos (o crime, afinal, para o casal protagonista, compensou), Os implacáveis (The getaway, 1972), de Sam Peckinpah (1924/1984), incorpora, inclusive, procedimentos resnaisianos ao gênero (como nos lances de memória, que se poderia dizer flashes de memória, quando Steve McQueen, logo na apresentação, dentro da cela, pensa na mulher que deixou, Ali MacGraw), além da montagem procurar, ao mostrar o trabalho dos presidiários, uma associação não de continuidade, mas de significações através das ações humanas e dos objetos que adquirem, na composição peckinpahniana, um sentido que é acrescido à representação da imagem, como queria André Bazin. Há quase trinta e cinco anos de sua realização, The getaway se mostra uma obra ágil, vibrante, como se tivesse sido realizada nos dias atuais. Aliás, Peckinpah em Meu ódio será tua herança (The wild bunch, 1968) já preconizava um cinema de cortes rápidos em determinadas seqüências (como a do tiroteiro final avassalador e terminal), nunca, porém, como se faz hoje, com a abominável estética da tesourinha, quando a narrativa cinematográfica vira um papel picado não deixando ao olhar qualquer possibilidade de contemplação. The wild bunch é um filme que detona uma escrita que seria tomada como base pelos cineastas (como o uso da câmera lenta para enfatizar e robustecer a violência).

Em 1994, seguindo à risca o roteiro de Walter Hill (que viria a dirigir ótimos filmes de ação), Roger Donaldson realizou um remake de The getaway, que serve de exemplo, apesar de um filme fraquíssimo, como a mão de um grande diretor é que determina a excelência de um filme. O caso de Gus Van Sant no remake de Psicose é também exemplar, porque, mesmo contando com os préstimos do mesmo roteirista de Hitch, o resultado foi desastroso. O primeiro filme notável de Peckinpah, depois de realizados vários filmes de ação, está em Pistoleiro ao entardecer (Ride the high country, 1961), western outonal, crepuscular, que prenuncia a morte do gênero, com Joel McCrea e Randolph Scott como dois velhos pistoleiros que já sentem sinais do tempo, mas, assim mesmo, insistem na permanência como cowboys. Obra melancólia, de rara beleza, que também pode ser comparada a O homem que matou o facínora, do grande John Ford, também um western do crepúsculo.

McQueen, um tipo admirável, raro se se pensar no cinema contemporâneo tão cheio de adamascados, teve um affair impeduoso e implacável com Ali MacGraw, que, na época, era esposa do presidente da Paramount. Na cena em que ele bate nela, encostados num carro numa estrada, Peckinpah o orientou no sentido de socá-la com vontade

4 comentários:

Saymon Nascimento disse...

Apesar da ausência de cults como Alfredo Garcia e este Pistoleiros do Entardecer no formato digital no Brasil, já dá pra se conhecer parte da obra de Peckinpah, seis filmes, mais a série The Rifleman. Destes seis filmes que vi, meu preferido talvez não seja The Wild Bunch, apesar de ser este filme absolutamente genial. Sob o Domínio do Medo deve ser um dos maiores thrillers da história, violência e suspense em dose extra-forte. Não há quase nenhum cineasta tão excessivo como Peckinpah. Viva o excesso.

André Setaro disse...

Via, quando menino, na televisão em preto e branco, a série 'Homem do rifle', com Chuck Connors (não sei se a grafia está certa), que, vim saber depois, era dirigida por Peckinpah. 'The wild bunch' é um western traumatizante, que se fixou num momento e veio a detonar toda uma 'forma' de exercitar a narrativa da ação e violência. Sim, Saymon, 'Straw dogs', com Dustin Hoffman, é impactuante, de uma violência desmedida, principalmente para 1971, ano de sua realização.

Anônimo disse...

Que sorte a minha, resolvo visitar esse blog e me deparo com um 'post' sobre "Os Implacáveis", trata-se do meu cineasta favorito em um filme roteirizado pelo seu maior discípulo e gde diretor (Walter Hill) e com um astro (Steve McQueen) como Hollywood jamais conseguiu reproduzir, enfim, um filme extraordinário mas pouco revisto, na mesma linha, eu diria q. "Cruz de Ferro" é outro filme q. precisa ser re-descoberto, inclusive e principalmente por ser um dos filmes mais anti-belicitas feito por um diretor q. filmava a violência como poucos.

Anônimo disse...

Em se tratando de faroeste crepuscular, Peckinpah era mestre. Não bastasse o próprio Wild Buch e Pistoleiros do Entardecer, tem ainda o ótimo e melancólico "Pat Garret e Billy the Kid", também obra-prima.

Setaro, vc conhece o primeiro longa dele, "Parceiros da Morte", que a Aurora lançou no Brasil? Muito bom, mas sente-se certas imposições de produtor que, depois, ele mandaria às favas na carreira. ..