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14 dezembro 2005

OS DEZ MELHORES FILMES DE 2005

1) MENINA DE OURO (Million dollar baby, 2004), de Clint Eastwood. Através do itinerário de uma garota que luta para alcançar a glória no boxe, uma análise do homem e sua circunstância, um olhar arguto e ajustado nos trâmites determinados pela sociedade americana que provocam a solidão e a marginalização. Mais uma comprovação do talento soberbo de Eastwood, talvez o maior cineasta americano vivo.

2) OLIVER TWIST (Oliver Twist, 2005), de Roman Polansky. Para os exegetas de vanguarda e os hermenêuticos de plantão, ávidos de novidades inexistentes, um filme que, talvez, para eles, não faça jus ao passado do autor. Mas é um espetáculo cinematográfico de rara beleza, que envolve e encanta. Polansky possui uma carpintaria narrativa extraordinária, uma varinha de condão que faz de suas seqüências pura emoção.

3) BOM DIA, NOITE (Buongiorno, notte, 2003), de Marco Bellochio. Um realizador com aquilo que Truffaut considerava essencial a todo cineasta: estilo particular e visão de mundo. À luz de seu cinema, singular, marcante, uma interpretação do assassinato de Aldo Moro, mesclando o ‘affair’, em si, com uma pungente análise do ser enquanto criatura condicionada pelos fatos. Filme brilhante, um verdadeiro presente para o medíocre cinema da chamada contemporaneidade.

4) OS SONHADORES (The dreamers, 2003), de Bernardo Bertolucci. A ação se localiza nos agitados dias de Maio de 1968 em Paris, quando jovens fazem um inter-relacionamento nada disciplinar entre o sexo e o cinema. O cinema, aqui, é a vida. E, neste ‘recuerdo’, uma obra que possui um frescor nostálgico do próprio autor. E seu cinema é sempre brilhante, um sentido de ‘mise-en-scène’ ‘sui generis’, que faz do cineasta um dos mais importantes de sua geração.

5) MANDERLAY (Manderlay, 2005), de Lars Von Trier. Depois de ‘Dogville’, o que se podia esperar de Von Trier? Mas, aqui, não deixa de surpreender, abordando, com uma maneira única, a questão racial, tendo, nos negros, seu foco principal. Talvez, no oásis de talentos e de criadores, seja ele um dos raros em que se possa esperar a redenção do cinema enquanto produção de sentidos não amparada nos grilhões da mesmice.

6) AS MARCAS DA VIOLÊNCIA (A history of violence, 2005), de David Cronemberg. O plano-seqüência inicial faz lembrar aquele genial de ‘A marca da maldade’, de Orson Welles. O cartão de visitas já se mostra aí, neste momento. Um homem, casado, pacato, com vida bucólica, dono de uma lanchonete, mata um assaltante e a partir daí começa a ter o cotidiano modificado. A violência está dentro de cada um de nós. Filme exemplar, maduro, de um mestre.

7) GOSTO DE SANGUE (Blood simple, 1984), de Joel Cohen. A inserção dessa primeira obra de Coen, realizada nos anos 80, se justifica porque quando lançada fora cortada pelos produtores e somente agora se pôde ver, na íntegra, o filme como imaginado pelos irmãos realizadores. A produção de sentidos, aqui, advém do silêncio, dos movimentos de câmera, do corte, de um ruído específico, em suma, é o cinema vivo e sua expressão.
8) FILME FALADO, de Manoel Oliveira. Realizador português, com mais de 90 anos, faz uma reflexão sobre o mundo contemporâneo, seus modismos, seus vazios, por meio de uma viagem de navio, quando os personagens conversam e da dialogação é que surgem os significados. Impressionante a lucidez de um homem dessa idade, quando a maioria dos cineastas contemporâneos está míope e bárbara. A ver obrigatoriamente em DVD.
9) O TEMPÊRO DA VIDA (Politiki kouzina, 2005), de Tassos Boulmetis. Filme grego de inusitada importância que passou em brancas nuvens. Boulmetis, ao tratar de uma história familiar, faz o encontro do intimismo com o realismo numa singular bifurcação que resulta poética, principalmente quando o contexto em que ela está inserida é a dos conturbados anos da guerra civil da década de 60 em seu país.

10) O JARDINEIRO FIEL (The constant gardener, 2005), de Fernando Meirelles. Baseado em um livro de John Le Carré (autor, entre outros, de ‘O espião que saiu do frio’), obra de grande beleza visual na qual Meirelles articula um sentido agudo de ‘mise-en-scène’, fornecendo, em doses homeopáticas, as informações necessárias para a compreensão de seu discurso imagético, que resulta belo e envolvente. É, sim, um grande cineasta, este Meirelles. Belíssimo filme.

4 comentários:

Anônimo disse...

Oi!
Dessa super lista confesso que Gosto de sangue é o meu preferido. Assisti no cinema ( Sala Walter), na doida, sem saber do que se tratava. Resultado: porrada no estômago, um filme incrível, denso, quem assiste consegue sentir o peso da direção. Tenho assistido tanta besteira no cinema, esse filme de 84 me deixou tão feliz!!
Ah! queria muuuito uma crítica sua sobre Cinema, aspirinas e urubus ( se tiver um tempinho, claro)
Abraços.

Anônimo disse...

O problema é que Lars Von Trier está na mesmice dele mesmo...

Anônimo disse...

Na minha lista eu colocaria em primeiro lugar o filme Caché, do Mikael haneke.

Anônimo disse...

E Machuca?