Mas creio dever citar toda a equipe do Filmes Polvo. O editor é Rafael Ciccarini. E o Conselho Editorial está assim constituído: Gabriel Martins, Leonardo Amaral, Mariana Souto, Úrsula Rösele. E como redatores: João Toledo, Leonardo Cunha, Marcelo Miranda, e Nísio Teixeira. Ia já me esquecendo de colocar, aqui, o link para que vocês, leitores deste blog, tenham a oportunidade de visitar (e a visita se faz obrigatória para quem gosta de cinema) o site: www.filmespolvo.com.br
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29 fevereiro 2008
Polvo coloca a crítica da web em cena
Mas creio dever citar toda a equipe do Filmes Polvo. O editor é Rafael Ciccarini. E o Conselho Editorial está assim constituído: Gabriel Martins, Leonardo Amaral, Mariana Souto, Úrsula Rösele. E como redatores: João Toledo, Leonardo Cunha, Marcelo Miranda, e Nísio Teixeira. Ia já me esquecendo de colocar, aqui, o link para que vocês, leitores deste blog, tenham a oportunidade de visitar (e a visita se faz obrigatória para quem gosta de cinema) o site: www.filmespolvo.com.br
28 fevereiro 2008
Não há cidades para homens velhos
Este décimo-segundo longa de Joel e Ethan Coen está a disputar oito indicações para o Oscar, incluindo filme e direção. Baseado em romance de Cormac McCarthy, Onde os fracos não têm vez faz referência, no título, a um lugar onde poucos são aqueles que conseguem envelhecer, e muitos os que, por causa da extremada violência, encontram a morte ainda jovens. Daí porque "no country for old men". Achei muito acertado o final repentino que, inclusive, surpreende os desatentos, que, atônitos, ficam mais atônitos ainda com a subida dos créditos. Vale notar, também, a maestria dos irmãos na utilização do silêncio e dos ruídos.
Poucos os filmes desta chamada contemporaneidade que conseguem me entusiasmar, como ocorria, quase sempre, no passado. Considerando que é do assombro que nasce o pensar, a visão de No country for old men deixa, no espectador, um impacto capaz de lho acompanhar muito tempo depois da saída da sala exibidora. A raridade do acontecimento faz com que este filme seja uma obra de visão obrigatória para todos aqueles que ainda gostam do bom cinema - e não do cinema que aí está no mercado. O bom cinema de um tempo que o vento levou. Assim, o filme de Joel e Ethan Coen quase que faz redimir a cinematografia contemporânea acusada de não fazer mais nada que preste.
A ação se localiza em 1980, o que se poderia dizer que se trata de um western anacrônico. Um homem desiludido com a sua condição existencial (Josh Brolin), encontra, no deserto, paisagem árida (bem explorada pela luz pungente de Roger Deakins, iluminador constante na filmografia dos cineastas), uma valise a conter milhões de dólares. A sorte, porém, lhe será madrasta, pois passa a ser perseguido por um psicopata assassino (interpretação inexcedível do espanhol Javier Bardem), que mata como se joga cara ou coroa, sem nenhum vestígio de contração emocional. E, além do mais, a caça ao homem se faz dupla quando entra na jogada o xerife local (Tommy Lee Jones, a se destacar como um dos maiores atores do cinema americano atual).
O cinema é que tem vez nos filmes de Joel e Ethan Coen. É a partir da articulação dos elementos da linguagem cinematográfica (nunca é demais repetir) que se estabelece a produção de sentidos nas suas brilhantes "mises-en-scènes". Um movimento de câmera a perscrutar a geometria da ação, os planos de detalhes que transformam os objetos retratados em elementos da fabulação, o silêncio como transformador estético da atmosfera e da criação de clima. Realizadores que procuram fazer uma revisão e uma reflexão do cinema de gênero, encontram-se sempre a oferecer uma leitura nova, a provocar, com a narrativa, o sentimento da emoção e da estesia. Nunca meros fabuladores, contadores de histórias, mas realizadores que procuram, através destas, o enunciado, o princípio do cinema, e, por extensão, da "mise-en-scène" criadora. Importante se observar o comportamento da câmera em relação ao comportamento dos personagens em ação. A fábula aqui, em Onde os fracos não têm vez, assim como nos seus outros filmes, é um pretexto, por assim dizer para a emergência narrativa.
Desde o primeiro longa dos fratelli Coen, uma revisão do film noir, Gosto de sangue (Blood simple, 1984), um estilo revelador, o surgimento, na condução da trama via procedimentos específicos do cinema, da “alta tensão” de seus silêncios, de suas pausas. A seguir, uma outra forma de expressão, a da “screwball comedy”, em Arizona, nunca mais (Raising Arizona, 1987), com seus planos-seqüências devastadores a fazer reviver os bons tempos da comédia americana. Três anos se passaram até o surgimento de uma homenagem aos filmes de gangsteres: Ajuste final (Miller’s crossing, 1990). Já um estilo “desenhado”, já uma maneira particular de expressão cinematográfica que viria a se cristaliza em Barton Fink (1991), uma metaficção, um filme inesperado e asfixiante dotado de síndromes inovadoras e surtos irônicos e insólitos.
Tenho particular admiração por um Coen menos celebrado: Na roda da fortuna (The Hudsucker proxy, 1994), um Capra redivivo com salpicos de Billy Wilder. Toda uma tradição de um específico gênero cinematográfico realizado com engenho e arte e graça insuperável. Mas em 1995 apareceu Fargo para a consagração definitiva (como não estivessem já consagrados) dos irmãos Coen. E mais, muito mais.
André Bazin escreveu certa ocasião: “Quanto mais fácil for se contar, pela narrativa oral, um filme, menos cinematográfico ele é; quanto mais difícil for se contar um filme, pela narrativa oral, mais cinematográfico ele é”.
Onde os fracos não têm vez é cinema puro. E, portanto, difícil de ser contado.
27 fevereiro 2008
Sangue nas nuvens de "Revoada"
"Oito e meio" ganha, apertado, a parada
Quarenta leitores votaram na enquete sobre qual o maior Fellini. Na minha opinião, Otto e mezzo é, disparado, o seu melhor filme e um dos maiores de toda a história do cinema. Poderia dizer mesmo que o cinema se divide em antes de depois de Otto e mezzo. Mas fiquei com receio que o escolhido fosse Amarcord, a considerar que se pensou fosse ultrapassar a obra-prima de Federico Fellini em determinado momento da enquete no ar. Sobre ser um belíssimo filme, Amarcord é, segundo ainda meu ponto de vista, inferior a 8 1/2. Dezesseis votantes quiseram ver este no topo da lista, felizmente, mas catorze optaram por Amarcord. Já A doce vida (La dolce vita), que despertou tanta celeuma quando do seu lançamento, admirado e exaltado por muitos, e visto de soslaio por outros menos fellinianos, teve a metade dos votos do vencedor. Apenas 8. A estrada da vida conseguiu, a fórceps, dois votos, mas Os boas-vidas (I vitelloni) não obteve votos. Mas houve, devo confessar, uma falha na enquete: faltou As noites de Cabíria (Le notti di Cabiria), que para muitos é o melhor filme de Fellini. A falha é do bloguista ou blogueiro. Peço desculpas àqueles que adoram o filme maravilhosamente interpretado por Giulietta Massina em performance de clown chapliniano. Mas o que é que se pode fazer?
25 fevereiro 2008
O grande vencedor do Oscar
Muito mais do que ser um sistema de aferição do valor cinematográfico de um filme, o Oscar premia aquelas obras que ajudam à consolidação da indústria. É um grande espetáculo, sem dúvida, mas uma festa do cinema americano. Neste ano, porém, a surpreender incrédulos, vários filmes de excelente qualidade foram indicados e o grande vencedor da noite de ontem foi Onde os fracos não têm vez (No country for old men), de Joel e Ethan Coen, que ganhou também mais outras três estatuetas: a de melhor ator coadjuvante para o espanhol Javier Bardem (foto ao lado), a de roteiro adaptado, e a de diretor (no caso, dois, pois os fratelli Coen). Sangue negro, que é também muito bom, deu a Daniel Day-Lewis o cobiçado Oscar de melhor ator (e se não ganhasse seria grande injustiça).
O apresentador Jon Stewart, ainda que esforçado e simpático, deixou a desejar. Gostava de Billy Cristal. O grande momento da noite foi a entrega do Oscar honorário para Robert Boyle, desenhista de arte de obras-primas da história do cinema, a exemplo de Intriga internacional, Marnie, e Os pássaros, todos de Hitchcock, além de muitas outras. Perto de um século de existência (está com 98), compareceu à cerimônia e falou bem, firme e forte. Um grande homem e um grande artista.
24 fevereiro 2008
Supercalifragilisticexpialidocious
Não quero falar sobre Mary Poppins especificamente, essa introdução foi só para lembrar um dos cineastas mais avançados que surgiram nesse pouco mais de um século de história do cinema, me refiro a Walt Disney. Chamá-lo de gênio é cair no lugar comum e, pior, dizer pouco. Disney foi um dos pouquíssimos homens de cinema que enxergou com rara lucidez as potencialidades do novo meio que surgia. Ainda nos anos 20, quando as imagens em movimento assombravam as platéias pela capacidade de imitar a vida real, Walt radicalizou e partiu para experimentos no campo do desenho animado. Aí ele criou seu próprio universo, com árvores falantes e um bestiário que incluía ratos, patos, ursos e cachorros inteligentes que nada ficavam a dever aos seres humanos. Pena que o extremismo político dos anos 60-70 tenha induzido a uma interpretação maniqueísta da obra desse extraordinário artista (especialmente no livro Para Ler o Pato Donald, de Ariel Dorfman e Armand Mattelart, publicado no Chile em 1970), fazendo com que gerações de leitores confundissem o artista com as produções mantidas pela empresa que leva o seu nome (não custa lembrar que Disney morreu em dezembro de 1966). Uma visão mais aprofundada dos filmes de Disney, notadamente os que foram dirigidos ou supervisionados diretamente por ele, vão revelar muita coisa além da nossa vã ideologia. Vamos descobrir, por exemplo, como ele já antecipava muitas questões que estão em voga hoje nas melhores cartilhas políticas de qualquer país do planeta, como a necessidade de um diálogo racional com a natureza já que o enfrentamento selvagem que promovemos até agora só tem produzido resultados catastróficos. Nos desenhos de Disney os homens conversam, cantam e dançam com os seres dos reinos vegetal e animal, maior integração impossível! (em Alice no País das Maravilhas, de 1951, essa interpenetração é potencializada ao nível do que Freud chamou de inconsciente). Mesmo com as limitações impostas pela bi-dimensionalidade da tela cinematográfica, Disney criou uma arquitetura original para prover espaço para suas inimagináveis criações, para isso ele rompeu em seus filmes com a tridimensionalidade euclidiana e penetrou na quarta e quinta dimensões. Em Fantasia (de 1940, mas só compreendido em 1990), ele uniu música e pintura numa combinação transcendental.
Num momento em que a Física de partículas avança na descoberta de novas realidades ocultas nos prótons e elétrons, saindo do mundo celular atômico e penetrando pouco a pouco no mundo molecular eletrônico, o cinema de Walt Disney se coloca na vanguarda desse novo olhar, pois profetizou, ainda no século 20, a realidade quântica que se projeta para este século que engatinha agora. Pena que a estreiteza do nosso pensamento, ainda preso à lei da gravitação dos corpos no espaço, ainda vai precisar consumir esses 92 anos que nos separam do século 22 para poder penetrar livremente, sem nenhum tipo de amarra física ou psíquica, no hiper-espaço criado por esse cineasta que precisa urgentemente de uma reavaliação de sua magnífica obra, o Cidadão do Mundo, nascido em Chicago, USA, no dia 5 de dezembro de 1901, Walt Disney."
O mais belo animal do mundo
Chaplin: o tempo, implacável, o esqueceu
Folha - O filme foi acusado de "fascista". Você achou surpreendente que um festival presidido por um cineasta de esquerda, como Costa-Gavras, premiasse "Tropa"?