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29 março 2007

Por que todo filme de Blake Edwards é bom?


Por que todo filme de Blake Edwards é simpático, fluente, agradável de ver, inusitado em certos momentos, dotado de timing surpreendente? Não é, no entanto, um realizador tão valorizado como deveria ser, ainda que tenha, pelo mundo, admiradores que guardam na memória seus filmes. Mas é verdade que às vezes somos exagerados, como o estou sendo aqui, neste blog, pois Edwards tem, na sua ficha filmográfica, pequenos filmes incapazes de se assomarem como obras surpreendentes. Mas, de uma maneira geral, o dito acima (Por que todo filme de Blake...) não fica deslocado porque são tantos os filmes atraentes de Edwards que ficamos impressionados com a sua sensibilidade, o seu senso de humor notável, a sua picardia, o seu extraordinário sentido de espetáculo como se fazem ver em obras como Victor/Victoria (1982), talvez a última comédia do grande cinema americano, A corrida do século (The great race, 1965), Um convidado bem trapalhão (The party, 1968), esta uma comedia de antologia, uma das mais engraçadas de todos os tempos, Bonequinha de luxo (Breakfast at Tiffany’s, 1961), A pantera cor-de-rosa em seu conjunto, excetuando-se aquela do filho desta, oportunismo do autor, O que você está fazendo na guerra, papai? (What Did You Do in the War, Daddy? ,1966), entre outras. Blake também se faz implacável em dramas ásperos e sérios, dotados de contundência e tensão inusitadas, a ver em obras como Vício maldito (Days of wines and roses, 1962), ou em Escravas do medo (Experiment in terror, 1962), um exercício de thirller a fazer valer o que fizera em seriados acima da média como Peter Gunn e Mr. Lucky. E, de repente, revendo em televisão que se diz ‘cult’, ainda que em tela deformada e cheia, o abominável full screen, perceber que há, e muito, encantamento num filme perdido de sua filmografia, Minha adorável espiã (Darling Lili, 1970), com Rock Hudson e Julie Andrews.
Mas o assunto renderia muito mais. Blake Edwards é inesgotável. Pena aqueles que lhe fazem reservas geralmente tão mal humorados e tão medíocres.Na foto, Blake Edwards quando, ano passado ou retrasado, recebia, pelo conjunto da obra, um Oscar honorário.

28 março 2007

Macarrão de linha



Com a perversa dolarização da economia, as contas mensais de um classe média brasileiro não fecham. O energúmeno do FHC detonou o processo (que se poderia dizer inicado por Collor, mas houve um homem mais nobre, Itamar Franco, que, substituindo este, deteve um pouco o processo de esfacelamento do Brasil, que, sim, foi efetuado com a garra e disposição necessárias pelo príncipe dos sociólogos). Por ser um classe média, e no intuito de melhorar meus proventos, abri uma fábrica artesanal de macarrão que, graças a Deus e a Edelzuita, está dando certo - veja a foto de um produto de minha empresa micro que, dia que passa, anda, célere, para se tornar macro. Como me sinto como empresário? Bem, muito bem. O lucro, ainda não o vi, pois, agora, tudo é investimento. Mas me vejo no futuro com um cachimbo a tomar Johnny Walker selo azul, que custa, cada garrafa, cinco mil dólares. Deus seja louvado!

27 março 2007

"Mise-en-transe"


Em Terra em transe, de Glauber Rocha, quando Jardel Filho se desloca de metralhadora em punho no pátio onde se encontram vários personagens, que rodeiam José Lewgoy – e, entre eles, Francisco Millani, Mário Lago, Paulo César Pereio,Glauce Rocha etc, pode-se falar com toda a pertinência de uma mise-en-scène, pois as pessoas entram e saem de campo, do enquadramento, como se estivessem a executar alguma dança. Assim, metteur-en-scène seria aquele que mete em cena, ou, melhor, aquele que coloca em cena, e, em conseqüência, mise-en-scène, colocado em cena, metido em cena. Terra em transe não é à toa que pode ser considerado o maior de todos os filmes brasileiros, pois aqui encontramos pura mise-en-scène, puro cinema, para se ser mais exato. Nesta obra ímpar, de singularidade majestosa, sente-se a influência de um Orson Welles aqui,deum Godard ali,de um Alain Resnais acolá.