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03 agosto 2012

Lançamento do livro "Jorge Amado e a sétima arte"


Recebi este release, que publico abaixo, anunciando o lançamento do livro Jorge Amado e a sétima arte, organizado por Bohumila S. de Araújo, Maria do Rosário Caetano e Myriam Fraga. Considerando a comprovada competência das organizadoras, um livro para comprar, ler e guardar.

Duas sessões de autógrafos em Salvador marcam lançamento de livro que integra as comemorações do centenário de nascimento de Jorge Amado
 No mês em que se comemora o centenário de nascimento de Jorge Amado, a Editora da Universidade Federal da Bahia (EDUFBA), em coedição com a Casa de Palavras, apresenta o livro Jorge Amado e a sétima arte, de Bohumila S. de Araújo, Maria do Rosário Caetano e Myriam Fraga (Org.). No dia 8 de agosto, quarta-feira, às 18h30, durante o VIII Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (ENECULT), acontece o pré-lançamento do livro. No dia 10, sexta-feira, às 18h, evento na Fundação Casa de Jorge Amado concretiza o lançamento.
Um híbrido entre trabalho acadêmico e livro de depoimentos, Jorge Amado e a sétima arte contém diversos relatos sobre a relação do escritor baiano com o cinema. Conta com declarações e entrevistas com autores, cineastas, atores, roteiristas e diretores, além de bibliografia e filmografia completas, reunindo um rico material sobre Amado. José Calasans Neto, Guido Araujo, Walter da Silveira, Sonia Braga, Maria do Rosário Caetano, Bohumila Araujo, Myriam Fraga, Hélio Pólvora, Germano Tabacof, Ana Rosa Ramos, José Umbelino, Marise Berta, Guido André Araujo, Nelson P. dos Santos, Cacá Diegues, Nélia Belchote e João Carlos Sampaio são alguns dos nomes que contribuíram com textos, ensaios, depoimentos e entrevistas.
Nascido no dia 10 de agosto de 1912 no município de Itabuna, no interior baiano, e falecido em 6 de agosto de 2001, Jorge Amado, ao lado de Nelson Rodrigues, é o autor brasileiro com maior número de adaptações para o cinema e para a televisão. Seus romances foram traduzidos para 49 idiomas e são conhecidos e premiados mundialmente. Foi um grande disseminador da cultura baiana, que ganhou dimensão nacional e mundial através de sua obra.

Pré-lançamento de Jorge Amado e a sétima arte
Onde: Auditório do PAF III da UFBA (Campus de Ondina, Salvador, Bahia)
Quando: 08 de agosto, quarta-feira, às 18h30
Mais informações: www.enecult.ufba.br

Lançamento de Jorge Amado e a sétima arte
Onde: Fundação Casa de Jorge Amado (Largo do Pelourinho, Salvador, Bahia)
Quando: 10 de agosto, sexta-feira, às 18h
Realização: Fundação Casa de Jorge Amado/ Editora Casa de Palavras

Informações adicionais sobre o livro
ISBN: 978-85-232-0976-6
Formato: 16 x 23 cm
Número de páginas: 216
Ano: 2012
Preço especial de lançamento: R$ 30,00

01 agosto 2012

Bye, bye, Birdie!

A existência em DVD de Adeus, amor! (Bye, bye, Birdie!, 1963), comédia romântica musicada de George Sidney, provocou a nostalgia deste comentarista e uma viagem ao passado, quando o cinema americano, ainda que com certa ingenuidade, tinha, além de engenho e arte, graça e envolvimento, fazendo do espectador um verdadeiro cúmplice do espetáculo. Este comentarista adquiriu o DVD de Bye, bye, Birdie! e passou duas belas horas a contemplá-lo. Muitos poderiam achar neste filme um teor narrativo já gasto, preocupados que se encontram com a desconstrução de tudo. É bem de ver que um filme narrativo clássico, se bem feito, se realizado com talento, pode ser até melhor do que muitos outros que procuram ‘mostrar’ que aqueles os fazem são cineastas, são autores. O filme para ser bom precisa, antes de mais nada, de talento. E George Sidney o tem para dar e vender.

 Visto em meados dos anos 60 no antigo cinema Liceu da rua Saldanha da Gama, Adeus amor (Bye bye Birdie, 1963), com exceção de uma rápida aparição na televisão (no Cineclube da Globo, quando passava filmes no original e com legendas em português), desapareceu de circulação até a sua chegada em DVD distribuído pela Columbia. É um musical anacrônico, quando o gênero já dava sinais de exaustão (o último musical clássico, na acepção da palavra, foi Gigi, em 1958, de Vincente Minnelli), mas muito inventivo e divertido. Após este, o gênero, que dominou Hollywood por décadas, ainda apareceu em grandes produções, a exemplo de Amor sublime amor (West Side Story, 1961), A noviça rebelde (The sound of music, 1965), ambos de Robert Wise, Positivamente Millie, de George Roy Hill, entre poucos outros, até entrar em profunda decadência com o fiasco de Hello Dolly, de Gene Kelly, em 1970.

O diretor George Sidney é um especialista do gênero e tem pleno domínio dos recursos do espetáculo musical, considerando ter feito alguns Ziegfeld Follies, Os três mosqueteiros, com Gene Kelly, filme de aventura todo cantado e dançado, O barco das ilusões (Show boat), Dá-me um beijo (Kiss me Kate), Meus dois carinhos (Pal Joey), Amor a toda velocidade (Viva Las Vegas, 1964), o melhor filme de Elvis Presley, e A moedinha do amor (Hal a sixpence, em 1967, que assinala o encerramento de um carreira que começou em 1937). Além do capa/espada coreográfico, um dos melhores filmes de aventura de todos os tempos: Scaramouche, com Stewart Granger.

Visão satírica do advento dos ídolos do rock e a conseqüente histeria provocada em seus fãs, Bye bye Birdie tem um personagem cantor que remete a Elvis Presley (o filme é de 1963, e este estava ainda no auge da carreira). Visão também irônica do american way of life, mas o que encanta sobremaneira no filme é a excelência de alguns números musicais, a suavidade com que Sydney trata o tema, a engenhosidade do argumento e, principalmente, a graça e a beleza de Ann-Margret, que depois ficaria cativa do diretor em filmes como Amor a toda velocidade, entre outros. Sydney também investe na contemplação da 'cultura pop' então emergente e que causou uma devastação no cenário musical tradicional.

Conrad Birdie (Jessie Pearson) é um cantor de rock, um super 'star', que, convocado para o exército, causa revolta em seus fãs, que realizam intensas passeatas em Washington (É bom lembrar que o mesmo, nos anos 50, aconteceu com Elvis Presley, que serviu o exército para desgosto de seus admiradores e, quando voltou, trabalhou em Saudades de um pracinha). Albert F. Peterson (Dick Van Dyke) é um empresário musical que está quase em falência. Mas, com a notícia da convocação de Birdie, sua noiva, Rose De Leon (Janet Leigh), combinando com Ed Sullivan, famoso 'show man' americano que aparece como ele mesmo ('himself'), tem a idéia de escolher uma adolescente do interior para ser beijada por Birdie na sua despedida antes de partir. Birdie cantaria, então, uma música de Pearson, que venderia, em conta pequena, mais de um milhão de discos, salvando-o assim da falência.


Sullivan aceita o acordo e Birdie é levado à cidadezinha onde mora Kim McAffe, e a sua chegada chama a atenção de todo o lugar, com discursos, inclusive o do prefeito. Birdie desencadeia uma verdadeira polvorosa. Kim e suas colegas exultam, menos o noivo dela, Hugo (Bobby Rydell), que, ciumento do astro, acaba consentindo, ainda que contrariado. O número de Birdie aconteceria no show televisivo de Sullivan 'coast to coast', sucedendo a um balé russo. Mas os empresários deste revelam que a apresentação vai consumir todo o tempo do programa, ficando Birdie para o fim e sem poder cantar a música de Peterson (objetivo de todas as tratativas de Rose para tirar o noivo da falência, possibilitando uma vendagem da gravação de sua música pelo astro pop). Mas tudo se resolve segundo o figuro, graças aos esforços de Rose, vivida por uma Janet Leigh a todo vapor. A sequência em que dança para o comitê soviético, na tentativa de enganá-lo, foi cortada da versão que passou nos cinemas, mas aqui, no DVD, está integral. A partitura musical é do consagrado Charles Strouse ('Annie'), e quem escreveu as canções, Lee Adams.

A melhor seqüência de Bye bye Birdie! é a do café/boite, quando Anne-Margret mostra todo o seu imenso 'sex-appeal' além de seus atributos como dançarina e cantora. Há, também, aqui, uma erupção de seu lado sensual, escondido no resto do filme, mas que se revela à toda velocidade neste momento. Um desafio lançado por ela em direção a Hugo, seu namorado, que também faz emergir de seu ar juvenil um sentimento de maturidade. O momento em que Dick Van Dyke encontra Janet Leigh no jardim, aborrecida, e tenta fazê-la alegre, é desenvolvido com a naturalidade estilizada de Sydney e, também, pela 'performance' de Van Dyke. A rigor, quase todas as sequências musicais são boas, bem dirigidas, com um sentido exato de inspiração, contenção e, se for o caso, explosão.

30 julho 2012

Da ação e da reflexão


Carlos Heitor Cony, em artigo há alguns anos na Folha de S.Paulo, escreveu sobre a literatura de ação e a literatura de reflexão, e citou Glauber Rocha, que disse certa ocasião que a obra de José de Alencar é um rio caudaloso enquanto a de Machado de Assis uma torneira que pinga. Queria o realizador de Deus e o diabo na terra do sol dizer que nos livros de Alencar a ação prepondera em detrimento da reflexão enquanto nos de Machado é esta que determina a sua fruição. O mesmo poderia ser aplicado ao cinema.

O que se convencionou chamar erroneamente de cinema de arte não passa, na verdade, de uma falácia. O cinema de arte não existe e, inclusive, a expressão foi dada pelos exibidores (que são comerciantes) para designar, na década de 50, os filmes de tomadas demoradas, sem ação, quando da explosão no mercado das obras de Ingmar Bergman, Michelangelo Antonioni, Robert Bresson, Roberto Rossellini, entre tantos outros. Os exibidores é que denominaram estes de filmes de arte porque filmes que não tinham ainda muito público e o mercado era restrito. Queriam eles dizer, na verdade, se tivessem mais noção da arte do filme, que os filmes de arte se caracterizavam pela reflexão em detrimento da ação.

O fato é que não existe, a rigor, cinema de arte. O filme pode ser excelente seja ele de ação ou de reflexão. Sobre produzir um monte de lixo, a indústria cultural de Hollywood também realiza grandes filmes, como, por exemplo, Sangue negro, de Paul Thomas Anderson, Onde os fracos não têm vez, dos Irmãos Coen. E os primorosos filmes de Clint Eastwood, Martin Scorsese, Sidney Lumet, entre outros tantos, não são oriundos da indústria? Se vingar a expressão cinema de arte como a significação do verdadeiro e bom cinema, filmes que são obras-primas como Rastros de ódio (The seachers), de John Ford, por serem de ação, estariam fora dela. O que seria um absurdo e uma patologia mental.

O que determina o valor de uma obra cinematográfica é a maneira pela qual o realizador articula os elementos da  sua linguagem. Não importa se a articula em função da ação ou da reflexão. O que importa, na verdade, é o talento, o engenho e a arte. Também na literatura o que determina o valor literário de um livro é a maneira pela qual o escritor articula a sintaxe da língua. A ação pela ação (e também a reflexão pela reflexão), se não estiver apoiada numa escrita bem articulada, nada vale.

A confusão, porém, ainda é muito grande. A maioria dos pseudo-cinéfilos que toma conta das salas alternativas da cidade somente considera filmes válidos aqueles voltados para a reflexão. Mas se a reflexão não tiver aporte numa expressão estilística elevada não tem valor e, muitas vezes, é veículo para a aporrinhação do espectador. Neste caso, muito mais vale um filme de ação bem articulado do que um de reflexão de pouca polivalência no estilo.

Um belo dia, deparei-me com um impertinente pseudo-cinéfilo, desses que gostam mais de ficar na sala de espera para ser visto do que no interior da sala exibidora, e ele ficou admirado quando manifestei minha admiração pelos filmes de Clint Eastwood. "Mas não é aquele cowboy italiano que depois virou o perseguidor implacável?"

Existem, por outro lado, cineastas que a priori pensam fazer cinema de arte e, na verdade, seus filmes são estímulos fortíssimos à sonolência. O verdadeiro cineasta faz seu filme de acordo com a sua necessidade de expressão. Se vai conseguir um bom mercado exibidor ou ficar restrito às salas alternativas, isto, outra história.

Howard Hawks, brilhante realizador americano, fez um filme que mistura ação e reflexão numa solução de gênio em Onde começa o inferno (Rio Bravo, 1959), com John Wayne, Dean Martin, Angie Dickison. Western clássico, a ação de Rio Bravo, tirante poucos momentos de ação, transcorre quase toda dentro de uma pequena sala da delegacia ou no interior de um hotel das circunvizinhanças. A reflexão, a análise do comportamento dos personagens, e os diálogos são mais importantes do que a ação. Em outro filme desse genial diretor, Hatari!, a sua maior parte está concentrada na espera da caça e não nesta, quando se tem a ação. Hatari!, filmado in loco, na África, é sobre um grupo de caçadores de nacionalidades diferentes que está à procura de animais selvagens para os levar para os zoológicos de seus países. Mas Hawks concentra todo o filme nos momentos fracos, nos momentos de pausa, nos momentos em que os personagens estão à espera da caçada. Uma característica de Hawks, um realizador que se dividiu entre os westerns e as comédias com admirável talento (inexistente no cinema contemporâneo).

29 julho 2012

Violência e política

Marlon Brando em Queimada (1969), de Gillo Pontecorvo

Ensaio do Professor Jorge Moreira especialmente para o Setaro's Blog

Lista de filmes de resistência à aliança imperialista entre Hollywood e governo dos EUA.

Colocado diante da pergunta, quais os filmes de ficção que você recomendaria para estimular uma geração de jovens a procurar uma adequada perspectiva histórica sobre a questão do poder e da dominação política no Brasil, na América Latina e em outras regiões do mundo?,  penso sugerir  uma modesta lista de filmes que o leitor verá  adiante neste texto.

Sem ser sistemático, exaustivo ou enciclopédico, decidi responder à pergunta, utilizando a minha memória para fazer uma rápida relação dos filmes que me impressionaram no passado e ainda me impressionam no presente. Esta lista que cobrirá um período de 40 anos não terá por objetivo relacionar o conjunto dos meus dez filmes favoritos, sejam eles do gênero político ou de qualquer outro gênero cinematográfico.

Por isso, informo ao leitor que alguns dos filmes políticos que considero excepcionais e preferidos não serão incluídos nesta lista. Esta é, por exemplo, a situação de filmes como Ivan o Terrível (1945) e O Encouraçado Potemkin (1925) de Sergei Eisenstein; Cidadão Kane (1941) de Orson Welles; A  Chinesa (1967) e Tudo vai Bem (1972) de Jean Luc Godard, alem de outros da mesma categoria.  Em síntese, meu objetivo não é oferecer aqui uma valorização artística desses filmes, mas sim mostrar que eles estão relacionados por uma visão de mundo e política (em oposição a costumeira visão de mundo autoritária da classe dirigente) que favorecem uma leitura ou interpretação da história social desde o ponto de vista dos setores subalternos e dominados, com um alto grau de veracidade cognitiva, e que decanta-se a favor da luta na defesa dos interesses dos indivíduos e dos povos oprimidos.

Assim, os filmes da lista foram selecionados por disporem de pelo menos duas das seguintes características: a veracidade da sua referencia histórica (quase documental*); a utilização de um enfoque didático sem cair no panfleto; - a brilhante qualidade artística devido a sua originalidade da relação forma/conteúdo; o rigor da sua representação da história quando o tema é o período de transição do modo de produção colonial ao modo de produção capitalista/imperialista dos nossos dias; e a sua reconhecida  popularidade  que se traduz na probabilidade  do filme ser mais facilmente localizado pelo público no mercado de filmes no formato DVD.

Não se pode ignorar que gerações de jovens têm sido submetidas à bárbara produção comercial e ideológica de filmes estadunidenses atuais (1) como Killers (2010) de Robert Luketic ou This Means War (2012) de Joseph McGinty Nichol, que se caracterizam por emitirem um discurso oficial a favor da violência e por construir uma representação apologética das guerras imperialistas, de crimes dos mercenários e dos espiões da CIA (alem das intervenções militares de agentes conspiradores de organizações ilegais).

Embora os objetivos centrais desses filmes comerciais sejam essencialmente ganhar muito dinheiro e defender ideologicamente os valores da classe dominante, os filmes também tratam de naturalizar e justificar o uso da violência contra os países e as classes subalternas e dessa forma procurarem legitimar a hegemonia da classe no poder seja por consenso, seja por repressão.

As razões anteriores me motivaram  a responder à pergunta inicial, selecionando alguns filmes que me parece tem funcionado como uma resposta contra discursiva e como uma representação contra hegemônica ao discurso e à representação oficializada. Em poucas palavras, os filmes selecionados foram aqueles que, na minha opinião, lutam simbolicamente para deslegitimar e desnaturalizar o uso da violência pelo poder contra os oprimidos; violência que cresce e se expande pelos quatro cantos do mundo.

No passado recente, as gerações de jovens tiveram que engolir produções de um conjunto de filmes que apelavam sistematicamente para a violência por razões econômicas e ideológicas tais como Dirty Harry de Don Siegel, Rambo de Sylvester Stallone ou os filmes do canastrão Chuck Norris. Hoje filmes como os citados Killers, This Means War ou Iron Man (2008) de Jon Favreau tomaram o lugar dos citados e são duplicações assombrosas do uso da violencia pelo poder estabelecido.

Não é necessário ser grandes analistas (ou interpretes) da ficção contemporânea para perceber que tais filmes de violência como Inglourious Basterds de Quentin Tarantino são reflexos diretos ou indiretos da realidade da militarização do mundo  pelo imperialismo dos EUA que são resultantes da produção de guerras de conquistas intermináveis contra os povos do Iraque, do Afeganistão, do Paquistão, da Palestina, do México, da Colômbia e dos países africanos, para assegurar o fornecimento e o controle de matérias primas e alimentos baratos.

Ainda que os filmes tratem de discutir e denunciar uma série de problemas especificamente produzidos pelo modo de dominação colonial e capitalista, poucos destes filmes são capazes de oferecer uma perspectiva revolucionária para resolver as contradições do sistema, pois a maioria não acredita que se possa resolver os problemas desta sociedade através de uma mudança revolucionária. Na sua grande maioria, os filmes se limitam a discutir ou denunciar os problemas da sociedade capitalista dentro de uma perspectiva liberal-reformista, ou seja, eles duplicam a ideologia, bastante difundida, de que ainda é possível resolver as contradições do capitalismo dentro do próprio capitalismo, através de reformas do sistema que as produziu. 

Os filmes selecionados foram ordenados seguindo o período em que os eventos representados sucederam na realidade histórica dos países mencionados.

1)     The Mission (1986) de Roland Joffé com Roberto de Niro, Jeremy Irons e outros.
2)     Queimada (1969) de Gillo Pontecorvo com Marlon Brando, Renato Salvatori e outros.
3)     Terra prometida (1974) de Andrzej Wajda com Daniel Olbrychski, Wojciech Pszoniak,
4)     Deus e o diabo na terra do sol (1964) de Glauber Rocha com Geraldo del Rey e Yoná Magalhães
5)     A Batalha de Argel (1966) de Gillo Pontecorvo com Brahim Haggiag, Jean Martin, Saadi Yacef
6)     Terra em Transe (1967) de Glauber Rocha com Jardel Filho, Paulo Autran
7)     Missing (1982) de Costa Gavras com Jack Lemmon e Sissy Spacek
8)     O americano tranqüilo (2002) de Phillip Noyce com Michael Caine e Brendan Fraser
9)     Thirteen Days (2000) de Roger Donaldson com Kevin Costner, Bruce Greenwood e otros
10) Syriana (2005) de Stephen Gaghan com George Clooney, Matt Damon

Antes de comentar os filmes listados na ordem apresentada, gostaria de esclarecer que nenhum deles receberá um tratamento especial; um tratamento extenso ou profundo. Assim, me limitarei a alguns poucos aspectos que me parecem relevantes para cumprir os objetivos deste texto.


A Missão (The Mission)

O filme inglês The Mission está baseado num fato histórico, a denominada Guerra Guaranítica (1750 - 1756) que é o nome que se dá aos violentos conflitos (3) e à guerra entre os índios guaranis e as tropas espanholas e portuguesas nos Sete Povos das Missões, no sul do Brasil, após a assinatura do Tratado de Madrid, em 1750. 

No plano da representação, a ficção cinematográfica é desenvolvida através das ações de dois padres: o padre Gabriel (um jesuíta pacifico e angelical) e o padre Mendoza (um violento ex-mercador de escravos indígenas que converte-se em jesuíta devido ao  arrependimento pelo assassinato de seu irmão). Depois do fracasso da mediação dos Jesuítas na disputa entre os índios e os colonizadores, os dois padres decidem, na guerra, lutar ao lado dos índios guaranis contra os impérios português e espanhol.
Assim a temática da dominação colonial dos impérios de Portugal e da Espanha sobre o território brasileiro e sobre a população indígena (os que são habitantes originais das terras brasileiras) implicam a subtemática do assassinato, da escravidão, da guerra, da colônia versus metrópole, a religião, a opressão e a luta pela liberdade contra os conquistadores brancos de Portugal e da Espanha.

 O filme The Mission,  também fará eco, nos dias de hoje, da luta dos movimentos indígenas latinoamericanos (que resistem atualmente à invasão das corporações nacionais e das multinacionais imperialistas), cujo exemplo mais destacado é  a continuidade da luta de resistência contra as companhias capitalistas que querem impor pela força a construção da barragem de Belo Monte, mesmo que seja ao custo da destruição da floresta, da natureza dos índios do Brasil.

(Continuaremos comentando os nove filmes restantes, na segunda parte deste texto)

Notas

1) Antes da entrada dos Estados Unidos na Primeira Guerra Mundial, o presidente Woodrow Wilson pediu a seu conselheiro George Creel para criar um sistema nacional de propaganda, o Comitê de Informação Pública (CPI). Esta foi a primeira agência estatal no mundo que recorreu ao cinema para manipular as massas (este exemplo serviu mais tarde, para as manipulações de  Joseph Goebbels na Alemanha e Chakotin om a finalidSergei na URSS). Em 1917, George Creel criou um Comitê de Cooperação para a Guerra com a finalidade de estabelecer uma ligação com os líderes sindicais da indústria cinematográfica (Motion Picture of America). Desde então, os laços entre Hollywood e os governos (federal e estaduais) dos EUA nunca foram quebrados, ainda que historicamente, tenham existido períodos onde esses laços são intensificados e reforçados.
Tradicionalmente, o Poder Executivo EUA têm recrutado a indústria cinematográfica de Hollywood para servir ao governo mesmo em tempo de paz. Por exemplo, o falecido ator e presidente Ronald Reagan, por exemplo, apoiou a sua política externa exigindo que as produções de “Cannon films” minimizassem a derrota dos EUA no Vietnã e açoitassem a URSS. Muitos ainda devem lembrar do cinismo, da hipocrisia e da máxima ideológica de Ronald Reagan (um dos maiores inimigos da classe trabalhadora) contra o Estado e o povo russo: “A União Soviética é o império do mal”.
Após os ataques de 11 de setembro de 2001, e a raiz da guerra contra o Afeganistão e o Iraque, o Comitê de Cooperação de Guerra foi restabelecido por acordo entre a Casa Branca e Jack Valenti, ex-presidente da Motion Picture Association of America, um acordo que foi mais tarde estendido à Paramount,  CBS Television, Viacom, Showtime, Dreamwork, HBO e MGM.
Os produtos cinematográficos mais recentes de Hollywood sobre política e história nacional e mundial devem ser interpretados através deste acordo entre a Casa Branca e a indústria de entretenimento; um acordo  que exige que os filmes e os programas de TV tenham que se unir ao esforço da "guerra ao terrorismo”.
2) Anteriormente, escrevi e publiquei em Rebelion.org, um longo texto sobre a relação entre o cinema estadunidense e a violência do sistema. Neste texto, que se intitulava El pastiche de la violencia, la violencia del pastiche: la reescritura de la historia en la nueva película de Tarantino, procurei analisar a função do pastiche na representação da violência no filme de Quentin Tarantino “Inglourious Basterds” (Maldito Bastardos).  Aqui está o devido link:

3) Não devemos esquecer que a violência do oprimido é sempre uma reação e a última resposta à violência do Estado ou de  suas instituições (as forças armadas, a policia, o sistema penitenciário , etc) a serviço do sistema capitalista dominante.