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17 novembro 2006

Um filme é para sempre

Um filme é para sempre, de Ruy Castro, reúne 60 preciosos artigos que o autor publicou durante a sua brilhante carreira jornalística em diversos jornais e revistas. Se não se pode classificá-los de críticas cinematográficas, como dizem alguns jornalistas, o fato é que são verdadeiros ensaios sobre a magia do cinema poucas vezes dados à luz por aqueles que se intitulam críticos da arte do filme. Li-o com voracidade, terminando pela madrugada sem poder largá-lo para dormir. O texto de Ruy Castro é excelente, suas informações deliciosas, sua maneira de abordar tem um estilo, uuma particularidade que acaba por reunir as duas funções essenciais do jornalismo cultural: informar e formar. Editado pela Companhia das Letras, Um filme é para sempre não pode deixar de ser lido por quem gosta de cinema. Não ler Um filme é para sempre é uma prova de não gostar de cinema.

A Companhia das Letras, aliás, já lançou dois outros livros essenciais, que reúnem críticas escolhidas de Jose´Lino Grunewald e Antonio Moniz Vianna. Os dois organizados por Ruy Castro.

12 novembro 2006

Vermelho rubro do céu da boca


Em Vermelho rubro do céu da boca, segundo curta baiano de Sofia Federico, a característica mais marcante é a inclusão do realismo mágico no desenvolvimento da fabulação. Há dois momentos particularmente mágicos, por assim dizer: o plano final, quando a mulher, frente a frente com o homem, abre a boca e, nela, encontram-se várias rosas, e no momento em que ela, saindo de casa, vê-se amarrada por um fio de tricô que, na medida em que caminha pelas trilhas do matagal, faz com que o vestido, pendurado na casa, venha a se desfazer.
Para a constatação das constantes temáticas e estilísticas de um realizador(a) cinematográfico(a), faz-se necessária uma filmografia de várias filmes a fim de que se possa identificar os pontos de similitude. Mas no caso de Sofia Federico, no cotejo de Vermelho rubro do céu da boca com seu curta anterior, Cega seca, já se pode constatar, se não um estilo estabelecido, uma maneira pessoal na abordagem temática. Seus filmes não se preocupam muito com o desenvolvimento de uma intriga em si, mas procuram observar os personagens, as situações e a paisagem circundante. É um cinema que se encontra em busca de uma poética. A rosa em Vermelho rubro do céu da boca é o leitmotiv do filme, é ela que vem a determinar e condicionar as ações dos personagens.Há um momento, em Cega seca, de um corte no olho, que vem aludir ao famoso Un chien andalou (1928), de Luis Buñuel. Mas Vermelho rubro no céu da boca vem a comprovar que mais do que uma simples alusão, o corte, insólito, do primeiro curta, faz parte do universo mágico a que se propõe os filmes de Sofia Federico, vindo a inaugurar, neste particular, no curtametragismo baiano, uma poética em que a magia toma o lugar do registro documental ao rés do chão que caracteriza boa parte dos curtas feitos na Bahia. O cinema não deve copiar o mundo, mas recriá-lo. E é o que Sofia Federico vem propondo nos seus filmes.Na foto ao lado, Paulo César Pereio, que integra o elenco ao lado de Bertho Filho, Frida Gutman, entre outros.