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20 março 2010

Los Angeles Brazilian Film Festival 2010


Recebi da comissão organizadora do Los Angeles Brazilian Film Festival a programação para este ano. O evento já se encontra na sua terceira edição. A organização é de dois brasileiros: Nazareno Paulo, que se formou na Faculdade de Comunicação da UFBa, onde vim a conhecer a sua esfuziante personalidade, e Meire Fernandes, sua esposa. Transcrevo aqui o informativo enviado. O texto não é meu, portanto. A imagem é de Carlotta Joaquina, de Carla Camuratti, que será exibido durante o festival.


Los Angeles, Califórnia – Em sua 3ª edição, o Los Angeles Brazilian Film Festival - LABRFF 2010 celebra os 15 Anos da Retomada do Cinema Brasileiro, com uma seleção de filmes que marcaram o período que ficou conhecido no mundo inteiro como um dos melhores momentos do cinema nacional, comparável apenas ao Cinema Novo. O LABRFF acontece de 27 de abril a 2 de maio, na capital mundial do cinema, Los Angeles, e exibirá mais de 60 filmes entre longas e curtas metragens, documentários, animações e projetos de vídeos.

O festival vai incluir na sua grade de programação uma Mostra Tributo ao Cinema da Retomada com filmes que resistem à passagem do tempo, e revelam ter se tornado referências para o cinema brasileiro. Considerado o marco inicial desse período, o filme “Carlota Joaquina”, de Carla Camurati (Copacabana Filmes, 1995), será exibido juntamente com “Terra Estrangeira”, de Walter Salles e Daniella Thomas (Videofilmes, 1995), “Cidade de Deus”, de Fernando Meirelles (O2, 2003), “ O Quatrilho” de Fábio Barreto (LC Barreto, 1994) e “Lavoura Arcaica”, de Luiz Fernando Carvalho (Videofilmes, 2001).

A homenagem à Retomada chega num momento em que se discute a reformulação da Lei do Audiovisual. E pretende demonstrar o alto nível da produção nacional alcançada graças às leis de incentivo que fomentaram o ressurgimento do cinema brasileiro. “Na década de 80 e parte dos anos 90, o cinema brasileiro praticamente desapareceu. Por falta de qualquer apoio à produção, durante este período eram lançados menos que dez longas por ano. Na metade dos anos 90, foram criadas leis de incentivo ao cinema e retomou-se assim a produção. Em 2009, foram produzidos perto de 90 filmes brasileiros, e os números continuam crescendo de forma sólida. Mais filmes significa mais qualidade e oportunidade em todas as áreas. Houve uma renovação quase completa de equipes e talentos. Este boom foi chamado de Retomada, e caracteriza-se pela pluralidade temática e de estilos dos filmes. Por isso assistir um ou dois filmes não significa que se conheça o que foi feito no período. Surpresas aparecem o tempo todo. Vale garimpar”, declarou o diretor Fernando Meirelles.

Sobre a seleção dos filmes da Retomada, o fundador do LABRFF, Nazareno Paulo, explica: “São filmes simbólicos. Filmes ícones da Retomada que todo mundo conhece, identifica seus realizadores, comenta a obra, e tem como referência do cinema nacional. É como se fosse uma marca para o País. Quando se fala em futebol ou carnaval, o imaginário coletivo voa e vai buscar referências em imagens clássicas do Brasil. Assim funciona também para o Cinema da Retomada. Quando falamos em qualquer um desses filmes a serem homenageados, estamos nos referindo a filmes que se estabeleceram como sucessos de crítica, público ou bilheteria. E para muitos a primeira cena que vem à cabeça quando se remete a este período é a da Carlota Joaquina, ou a do Zé Galinha, por exemplo”.


Mostras Competitivas

A Seleção Oficial LABRFF 2010 será composta por mais de 60 filmes, com dez longas metragens e quatro documentários integrando as mostras de competição avaliadas pelo Júri Oficial, composto por nomes consagrados e emergentes da indústria cinematográfica nacional e estrangeira. Já os curtas metragens selecionados concorrem na categoria de melhor prêmio escolhido pelo voto popular. Outras duas categorias que também serão premiadas pela votação do público são as de projetos de vídeos e curtas metragens realizados por brasileiros nos Estados Unidos.

A Seleção Oficial LABRFF 2010 completa, incluindo os filmes de animação e as mostras paralelas de longas metragens e documentários convidados, será divulgada dia 25 de março.

Agenda do LABRFF 2010:
1º dia, 27 de abril, terça-feira:
Eventos: Tapete vermelho, cerimônia de abertura, premiére americana de um filme brasileiro (a ser anunciado), festa.
2º dia, 28 de abril, quarta-feira:
Eventos: Exibição de mostras o dia todo.
Film market: Painel de discussão 1 (tema e palestrantes a serem anunciados)
3º dia, 29 de abril, quinta-feira:
Eventos: Exibição de mostras o dia todo.
Film market: Painel de discussão 2 (tema e palestrantes a serem anunciados)
4º dia, 30 de abril, sexta-feira:
Eventos: Exibição de mostras o dia todo, coquetel.
Film market: Painel de discussão 3, Workshop (temas e palestrantes a serem anunciados)
5º dia, 1 de maio, sábado:
Eventos: Exibição de mostras o dia todo, tapete vermelho, cerimônia de entrega de prêmios, premiére americana de filme brasileiro (a ser anunciado), coquetel de premiação.
Film Market: Seminário (tema e palestrantes a serem anunciados)
6º dia, 2 de maio, domingo:
Eventos: Exibição de filmes.
Noite de encerramento com a premiére americana de um filme brasileiro (a ser anunciado), festa de encerramento.


Missão do LABRFF:

O Los Angeles Brazilian Film Festival – LABRFF tem como foco principal a promoção e difusão do audiovisual brasileiro na Califórnia, estimulando oportunidades de negócios através de painéis que discutem a coprodução de cinema entre Brasil e Estados Unidos, locações, legislação e outros assuntos ligados às atividades do setor.
O festival cria visibilidade e promove a cultura brasileira através da mídia mais importante do mundo: o cinema. Para os negócios, o LABRFF vem provando ser mais do que uma opção de mercado, e sim uma oportunidade para estabelecer um intercâmbio legítimo entre profissionais da área, e encontros entre roteiristas, diretores e produtores executivos que querem investir em novos projetos de filmagens no Brasil.

Sobre o Festival:
Histórico:
Fundado em 2007 pela produtora Meire Fernandes e pelo jornalista Nazareno Paulo, o LABRFF tem conquistado a cada ano um aumento significativo na participação de produtores, artistas e espectadores, somando-se um público geral de mais de 12.000 pessoas até o momento. Em duas edições, 2008 e 2009, o LABRFF exibiu 104 filmes, entre longas e curtas metragens, documentários, filmes de animação e projetos de vídeos.

O festival abriu uma janela inédita para a exibição de filmes brasileiros na Califórnia, trazendo produções nunca vistas na costa oeste americana, e sendo responsável pela estréia de mais de 40 filmes nos Estados Unidos. Além disso, já foram distribuídos mais de 15 prêmios, e promovidos seminários, painéis de discussão e workshops sobre destino Brasil de filmagem, e coprodução.

Responsabilidade Social:
O LABRFF tem parcerias com as seguintes instituições:
Turma do Bem
Bravo Youth Foundation

Proteção ao Meio Ambiente:
O LABRFF tem parceria com a seguinte instituição a fim de minimizar o impacto provocado pela emissão de CO2 no meio-ambiente:
METRO

Patrocinadores:
O Los Angeles Brazilian Film Festival não seria possível sem o apoio e dedicação dos seus patrocinadores e parceiros. Cada um deles divide com o LABRFF o amor pelo cinema brasileiro, e reconhece a importância de compartilhar o trabalho e as contribuições de artistas e cineastas brasileiros com o maior público possível.

PATROCÍNIO OFICIAL
Consulado Geral do Brasil em Los Angeles - Ministério das Relações Exteriores
EMBRATUR - Ministério do Turismo
Governo da Bahia - Secretaria de Cultura
IRDEB - Instituto de Rádiodifusão Educativa da Bahia

COMPANHIA AÉREA OFICIAL
Korean Air

APOIO CULTURAL
Stella Artois
Havaianas
JetBlue Airways
Beverly Hills Aesthetic
Fogo de Chão Steakhouse
The Goddess Collection
Jóia Brasil
Agua Luca

PARCEIRO DE INDÚSTRIA
NALIP – National Association of Latinos Independent Producers
ABRAFIC – Brazilian Film Commission Alliance
Newport Beach Film Festival
Kinoforum
Fórum dos Festivais

17 março 2010

"La Notte", de Michelangelo Antonioni


Falar de A Noite (La Notte, 1961), de Michelangelo Antonioni, é falar de uma obra-prima, de um filme emblemático da história do cinema. Responsável pela sublimação da linguagem no ser fílmico, Antonioni praticou um corte longetudinal na evolução da narrativa cinematográfica, com a desdramatização, ou seja, a recusa do espetáculo, a desteatralização, que pode também ser vista em Roberto Rossellini em seu fundamental Viagem à Itália (Viaggio in Itália, 1953), que, a bem da verdade, precedeu o realizador de La Notte. Segundo Marcel Martin, a partir dos anos 50, assiste-se a um progressivo ultrapassar da linguagem, àquilo que se poderia chamar de rejeição das regras tradicionais - da gramática de ferro - para fazer da narrativa fílmica não mais um meio, um veículo de sentimentos e idéias, mas um fim em si: a própria narrativa tornando-se o objeto primeiro da criação. Assim, ficou mais difícil aplicar aos filmes que se colocaram na vanguarda da pesquisa estilística - como a famosa trilogia de Antonioni constituída de A Aventura/L'Avventura, 1960, A Noite, e O Eclipse/L'eclisse, 1962 - os velhos esquemas da "explicação de textos" habitual, ou seja, a distinção escolástica entre a forma e o conteúdo se tornou impossível e absurda. Antonioni, pode-se dizer, instaurou a estética do filme.

Giovanni Pontano (Marcello Mastroianni), um escritor de sucesso, encontra-se prisioneiro em um universo fictício, incapaz de escrever algo sério, verdadeiro. Sua mulher, Lídia, (Jeanne Moreau) se sente excluída do mundo do marido. A morte de um amigo de ambos (interpretado pelo diretor alemão Bernhard Wicki) faz ainda mais patente o abismo aberto entre eles. Gherardini, o poderoso industrial, tenta comprar o escritor, apesar de seu elevado nível de vida e o orgulho que sente por seu poderio capitalista. Sua filha Valentina (Mônica Vitti), afogada no vazio de seu próprio ambiente burguês, sente uma urgente necessidade de se libertar. Cada um desses personagens de Michelangelo Antonioni permanece preso num beco sem saída. Está exposta a equação existencial tão ao gosto do cineasta de A Aventura.

Antonioni, que rodou o filme em Milão, fixou sua atenção sobre os meios industriais e intelectuais da populosa cidade italiana. A mesma Milão que serviu de cenário a outra obra-prima do cinema italiano: Rocco e seus Irmãos(Rocco i suoi Fratelli), de Luchino Visconti, tragédia exemplar que estabelece a cinematografia italiana como a mais poderosa do momento cinematográfico nos sessenta, agrupando verdadeiros gênios como Antonioni, Visconti, Fellini, entre tantos outros como Valério Zurlini. Assim, a fixação da inação em Milão não é aleatória mas tem um objetivo e um propósito. Antonioni quando elege a profissão de seus personagens sabe perfeitamente o que está a fazer: "Exijo sobretudo intelectuais, porque são os que têm a consciência mais exata da realidade, além de uma sensibilidade, uma intuição, mais sutil, através da qual posso filtrar a realidade que desejo expressar" A expressão dessa realidade nos seus filmes se faz pelo exterior ou pelo interior.

Antonioni em A Noite aprofunda a linha estabelecida em A Aventura. O esquema dramático maneja uma série de abstrações até então inéditas no cinema de Antonioni. Que, pela primeira vez, reúne Jeanne Moreau e Mônica Vitti, as duas atrizes que melhor souberam expressar as facetas da mulher moderna - a mulher contemporânea dos anos 60, quando a libertação se fazia urgente, e o cinema um conduto que muito bem expressava o profundo estado de crise da sociedade burguesa. Um estilo que se caracteriza pelas tomadas longas, estabelecendo, com isso, uma espécie de antinarrativa cuja exasperação chegou em O Eclipse.

Em A Noite, o industrial Gherardi e sua esposa são realmente figuras da alta burguesia milanesa, assim como em sua maioria os convivas são sócios do Barlassina Golf Club (perto do lago Como), transformado em residência daqueles. Antonioni não incide no jogo duplo em relação a esses atores voluntários. Sua serenidade de artista permite-lhe colocar, ao lado da análise implacável nos diálogos e nos planos, o orgulho do capitalismo que escreve ou roteiriza segmentos da História com personagens verdadeiros, casas verdadeiras, cidades verdadeiras.

Walter da Silveira, ensaísta baiano, após a primeira visão de La Notte, entusiasmado, escreveu um ensaio sobre Antonioni do qual destaco aqui esta parte - que se encontra no livro Fronteiras do Cinema: "Ao contrário do que se tem dito, Antonioni seria, por um paradoxo, o cineasta que mais acredita na sensibilidade e na inteligência do público, dispensando-se de ser evidente para ser claro. E se constrói seu relato fílmico sem excluir o elemento não visual do cinema, dando-lhe a importância de um fator de interpretação ou acentuação da imagem, no final de cada filme transmite-nos uma longa cena silenciosa em que só o gesto define e comunica toda a sua essência vital, ética. Em A Aventura, a mão de Claudia desce, hesita, volta a descer sobre o ombro de Sandro, numa indecisa porém insistente vontade de existência a dois, numa dolorosa porém aguda intuição de que, malgrado todas as demissões, resta ainda ao homem uma tênue possibilidade de libertar-se. Em A Noite, o par cujo casamento já no décimo ano foi tomado pelo tédio, a lassidão conduzindo à incerteza, abraça-se sobre a relva numa cópula de desespero, inseguro da permanência além da madrugada. E em O Eclipse já nem se vêem os recantos em que se encontravam - documentação e também metáfora de uma vida comum abandonada."

A iluminação dessa obra-prima é de um artista: Gianni Di Venanzo.

15 março 2010

Duas palavrinhas

1) Filme extraordinário, Nasce uma estrela (A star is born, 1955), de George Cukor, além de sua fina sensibilidade no tratamento temático e dos belos números musicais, reinventa o cinemascope quando ainda o formato tinha poucos anos de existência plena. Cukor, sábio, sabe usar a sua largura em função da mise-en-scène. Judy Garland, inexcedível, é uma aspirante a atriz que se casa com um famoso ator alcóolatra (James Mason), mas, com a convivência, ela atinge o estrelato, consegue se livrar do vício maldito, enquanto o marido entra em profunda decadência e na embriaguês quase permanente. Se existem muitas mulheres fascinantes no cinema (e como existem!), Judy Garland é, porém, a mais esplendorosa de todas pelo seu imenso talento e seu fascínio como intérprete e cantora. Claro, não tem o sex appeal de Bardot, de Monroe, de tantas. Mas vê-la em cena é uma benção e uma glória.
Quando do lançamento do filme nos anos 50, a Warner, por achar excessivo um musical com três horas de duração, cortou 27 minutos, desfigurando, com isso, esta obra-prima. Há pouco mais de vinte anos, um abnegado pesquisador do American Film Institut pediu ajuda à Academia de Artes e Ciências de Hollywood para que esta solicitasse à Warner permissão para que o pesquisador desse uma busca nos depósitos da companhia. Atendido o pedido, este começou a procurar e acabou por encontrar os 27 minutos cortados. Estragados, precisou restaurá-los, ficando três minutos apenas em fotos fixas pela impossibilidade de revivê-los no celulóide. O DVD duplo, portanto, é uma preciosidade, pois o resgate de um filme extraordinário, que assinala a maior interpretação de Judy Garland no cinema. Ela, na época, estava profundamente depressiva - sempre dependendo de álcool e barbitúrios e, para conseguir trabalhar no filme, fez um esforço enorme para se livrar das drogas. Tem um desempenho maravilhoso como Vicky Lester, a cantora que, descoberta por Norman Mailer (James Mason, soberbo), ator famoso de Hollywood, e que se apaixona por ela, ascende ao estrelato enquanto Mailer, derrotado pelo alcoolismo, vê a sua decadência. Enquanto ela sobe, ele cai. É a segunda versão -e a melhor - dessa história - a primeira, dos anos 30, foi feita por William Wellman, com qualidades inegáveis já que este diretor era um especialista, mas a terceira, de Frank Pierson, com Barbra Streisand, de 1975, é um lixo.

2) O Telecine Cult tem, na sua grade de programação, Avanti!, de Billy Wilder, obra crepuscular do autor de The apartment, mas de um fascínio que ainda surpreende. Avanti! não foi visto, quando do seu lançamento, com muita atenção, e se trata, pelo menos para mim, de um dos momentos gloriosos da filmografia wilderiana. É verdade que os críticos cariocas o elegeram, na ocasião, 1974, um dos melhores filmes do ano. Mas, com o passar do tempo, esta obra quase prima caiu no esquecimento. Já a vi mais de dez vezes e sempre que a revejo a admiração continua intacta.

14 março 2010

Mostra completa de Jean Rouch em Salvador

É a primeira vez que Salvador recebe uma mostra de tal magnitude do cineasta Jean Rouch. Oportunidade única de se ter uma visão geral e abrangente do poder desse realizador cinematográfico no registro das imagens em movimento. Transcrevo aqui o release que me foi enviado por Sérgio Borges:
O cineasta-antropólogo francês Jean Rouch, autor da obra mais importante de todos os tempos no campo do filme etnográfico, ganhou no ano de 2009 - ANO DA FRANÇA NO BRASIL - sua maior retrospectiva no país – comparável apenas à realizada pela Cinemateca Francesa, em 1999. Pesquisadores e cinéfilos brasileiros tiveram a oportunidade de assistir a rigorosamente todos os filmes do autor e participar de colóquios bastantes enriquecedores sobre sua obra, sua relação com a antropologia e com a linguagem cinematográfica. 91 filmes foram exibidos e debatidos por pesquisadores de renome internacional nas cidades de São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Brasília.

No intuito de levar a um público maior esta obra essencial para a construção do cinema etnográfico, a Associação Balafon (proponente do projeto), em parceria com a Secretaria do Audiovisual e o Ministério da Cultura, estendeu a retrospectiva para mais 07 capitais brasileiras, dentre elas Salvador.

A Sala Walter da Silveira exibe, entre os dias 19 de março e 01 de abril, filmes do grande documentarista francês. Curtas-metragens e produções raras – a maioria inédita no Brasil – serão exibidos ao lado de clássicos do cineasta, como “A Pirâmide Humana”, “Pouco a Pouco” e “Jaguar”.
 Sob a curadoria do doutor em filosofia, ensaísta de cinema e tradutor Mateus Araújo Silva, o atual ciclo trata-se de uma versão reduzida da mostra de 2009. Com um conjunto de 36 filmes, divididos em 17 programas (veja programação completa em anexo), Araújo delimitou um recorte mais conciso, mas não menos representativo da obra e do itinerário de Rouch nos aspectos temáticos, geográficos e nos valores estéticos.

O desenho da mostra oferece ao espectador brasileiro duas entradas ao universo de Rouch, como se ele pudesse observar a mesma paisagem com lunetas diferentes, verificando por conta própria sua fidelidade a suas preocupações, ou a constância de suas pesquisas, ou as transformações do seu estilo ao longo dos anos, ou as fases atravessadas em seu itinerário de cineasta.

Segundo Araújo “Se muitos sabiam que Rouch é um cineasta fundamental e um africanista importante, pouquíssimos haviam tido um contato direto e efetivo com o conjunto de sua obra. Seus escritos numerosos ainda esperavam a iniciativa de editores audazes para serem traduzidos entre nós, e sua vasta filmografia ainda esperava uma retrospectiva mais ampla”. O que torna a iniciativa da mostra em 2009 e seus desdobramentos – itinerância, lançamento do catálogo e do site - fundamental para o enriquecimento da nossa cultura cinematográfica.

Sobre Jean Rouch
Cineasta de mais de cem filmes e antropólogo de extensa obra escrita, Jean Rouch (1917-2004) atravessou o século como se vivesse sete vidas cheias de facetas e paradoxos. Ele foi ao mesmo tempo eminência parda do cinema francês moderno, antropólogo africanista com Doutorado defendido na Sorbonne em 1952 sobre os Songhay, pesquisador do CNRS por anos a fio e autor da obra mais importante de todos os tempos no campo do filme etnográfico. Como objeto privilegiado do seu trabalho, elegeu alguns países da África Ocidental (sobretudo Níger e Mali, mas também Costa do Marfim e Gana), dos quais nos deixou um acervo de imagens e sons sem paralelo. Mas também filmou muito na França e noutros países, revelando sempre, por onde tenha andado, curiosidade pelas diversas culturas e vontade de compreendê-las.

Seus filmes influenciaram a geração de cineastas da Nouvelle Vague e nos anos 60, ele fez parte de uma vertente do documentario que ficou conhecida como "cinema verdade". Sua obra, diversas vezes premiada em Veneza, Cannes e Berlim, se compõe de documentários etnográficos (“Maîtres fous” e “Sigui synthèse”), sociológicos (“Chronique d’un été”) e ficções (“Moi, un Noir”, “Cocorico Monsieur Poulet”).
Rouch inovou técnica, ética e esteticamente. Procurou tratar seus personagens como sujeitos e não apenas objetos do discurso fílmico. Na sua visão, o desejo de investigação do filme etnográfico oferece um ponto de convergência entre a subjetividade do criador e a objetividade do pesquisador –ou, de outro modo, entre arte e ciência. 
Em oposição a mestres da antropologia como Claude Lévi-Strauss (para quem o registro cinematográfico era “como um caderno de notas, que não deveria ser publicado”), Rouch entendia o documentário etnográfico como uma forma de estabelecer um diálogo com o sujeito do seu estudo, em vez de apenas descrevê-lo. Esta mudança de paradigma seria, para Rouch, uma maneira de contribuir para que a antropologia deixasse de ser “a filha mais velha do colonialismo”.
Sobre o Curador
Mateus Araújo Silva - Organizador, com Andrea Paganini e Juliana Araújo, das Retrospectivas e dos Colóquios Jean Rouch em 2009, Mateus Araújo Silva é Doutor em Filosofia pela Université de Paris I (Sorbonne) e pela Universidade Federal de Minas Gerais (com uma tese sobre o problema da imaginação em Descartes), ensaísta de cinema e tradutor. Publicou estudos filosóficos sobre Platão, Aristóteles, Descartes e Adorno, e ensaios críticos sobre o cinema de Humberto Mauro, Glauber Rocha, Jean-Luc Godard, Alain Resnais, Manoel de Oliveira, Serguei Paradjanov, Federico Fellini, Carmelo Bene, Jean-Marie Straub & Danièle Huillet, Pedro Costa e o pensamento de Ismail Xavier e Jean-Claude Bernardet, entre outros. Co-organizou o volume coletivo francês Glauber Rocha / Nelson Rodrigues (Magic Cinéma, 2005), um número especial da revista Devires (UFMG) sobre Jean Rouch (Vol.6, n.1, 2009) e traduziu Glauber Rocha na França (Le Siècle du Cinéma, 2006), onde vive e trabalha desde 1998.
Sobre a Instituição Proponente

ASSOCIAÇÃO BALAFON . Fundada em 2004, sediada em Belo Horizonte, dirigida pelo eminente percussionista Djalma Correa e pela professora e pesquisadora Juliana Araújo, a Associação Balafon vem desenvolvendo projetos sobre a cultura brasileira, seu patrimônio e seus diálogos, dos sinos das Minas Gerais à sua Estrada Real, dos acervos da nossa música popular às manifestações cinematográficas que dialogam com as nossas.

SERVIÇO
MOSTRA JEAN ROUCH Salvador – Um recorte conciso com 36 filmes da mais ampla retrospectiva do antropólogo-cineasta francês já realizada no país. Quando?: de 19 de março a 01 de abril em horários variados (programação em anexo), com copias em DVD legendadas. Onde?: Sala Walter da Silveira – R. General Labatut, 27 – subsolo da Biblioteca Pública dos Barris / 71-3116-8120. Quanto?: Entrada franca. Informações adicionais:
www.balafon.org.br.

CONTATOS:
Adolfo Gomes (programador da Sala Walter da Silveira)
cineadolfogomes@yahoo.com.br) / 71-3116-8120
site:
www.dimas.ba.gov.br e twitter: http://twitter.com/SalaWalter

Sérgio Borges: (coordenação de divulgação)
sergio@teia.art.br / 31 99792986