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28 julho 2008

"Rastros de ódio" é o melhor western



Entre os 37 votantes na enquete que pergunta sobre o melhor western, Rastros de ódio (The seachers, 1956), de John Ford, ganhou folgado, obtendo 12 votos (32%). Realmente o filme é uma obra-primíssima, um dos monumentos da arte do século XX. Surpreendeu, no entanto, o tracinho para Consciências mortas (The ex-box incident, 1943), western aclamadíssimo de William Wellman, com Henry Fonda, Anthony Quinn, Dana Andrews, que, sobre ser uma obra de forte conotação social e denúncia contra a hipocrisia de uma sociedade, é bem típica do gênero. Ainda que lançado em DVD, Consciências mortas parece que é um filme apenas conhecido de alguns críticos mais velhos e que possuem a tal necessária base referencial.

Acredito que The seachers ganhou em primeiro lugar porque é um filme hoje bastante citado. E mais por isso mesmo. Considero particularmente a obra maior de John Ford e um dos melhores filmes que já pus os olhos. Mas, a julgar pelo resultado da enquete, os filmes que estão mais em exposição, e estão sempre em referências nas alusões críticas, possuem mais probabilidade de serem votados. E a preferência dos votantes recaiu, ao que parece, numa ligação mais afetiva do que histórica, a considerar os minguados dois votos (5%) para No tempo das diligências (Stagecoach, 1939), de John Ford, obra emblemática e arquetípica, ponto de partida do western moderno.


Se a enquete tivesse sido feita há duas, três décadas, Matar ou morrer (High noon, 1952), de Fred Zinnemann, não ficaria com um voto mirrado (2%). Paráfrase sobre o maccarthismo, foi um filme muito admirado em sua época, um sucesso, que deu origem, inclusive, a uma paródia de Carlos Manga com Oscarito e Grande Otelo: Matar ou correr. Em High noon - a música fica no ouvido, estou a ouvi-la digitando esta, Gary Cooper é um xerife que se vê ameaçado por três criminosos. Mal termina a cerimônia de seu casamento com Grace Kelly, tem que se defender, e defender a sua cidade, mas seus habitantes, por covardia, negam-lhe apoio. O homem que matou o facínora (The man who shoting Liberty Valance, 1962) é um belíssimo (redundância a considerar que a maioria dos filmes de Ford é belíssimo) Ford, que Peter Bogdanovich tem como obra que sentencia o fim do gênero. Teve 5 votos (13%).


Depois de Rastros de ódio quem obteve mais votos foi Os brutos também amam (Shane, 1953), de George Stevens, com Alan Ladd (9/24%), o segundo colocado, portanto. Entre os especialistas, um notável e muito reverenciado é Onde começa o inferno (Rio Bravo, 1959), de Howard Hawks, mas, aqui, recolheu 4 votos (10%).


Parece que ninguém viu Pistoleiros do entardecer (Ride the high country, 1962), de Sam Peckinpah, western crepuscular, sobre a decadência de dois pistoleiros (Joel McCrea e Randolph Scott). Um filme vigoroso e poético. Por falar em Peckinpah, esqueci de colocar na enquete Meu ódio será tua herança (The wild bunch, 1968), com William Holden, Robert Ryan. Pena!