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27 novembro 2007

O bloguista vira colunista do Terra Magazine

Hoje faço minha estréia como colunista do Terra Magazine. E aproveito o blog para avisar a meus leitores que podem também me encontrar por aqui: http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI2102741-EI6791,00.html Para a coluna incial, escolhi o polêmico filme brasileiro Tropa de elite, de José Padilha, a fim de tecer, sobre ele, alguns comentários. Segundo ficou combinado, a coluna vai sair sempre às terças, e, para mim, bloguista em circuito fechado, é uma grande oportunidade para escrever sobre a vida e o cinema. A foto que ilustra este post é a de um momento do filme de Padilha, com Wagner Moura, ator baiano que, indo ao Rio de Janeiro, alcançou a fama, mas, consciente de seu mister, nunca se deitou na cama da glória. O seu Capitão Nascimento de Tropa de elite tem sido muito elogiado e é bastante convincente, não há dúvida. Wagner Moura tem talento desde o nascedouro. É como se diz: ator desde criancinha.
Wagner Moura teve alta hoje do hospital onde realizou cirurgia do calcanhar direito e se encontra agendado para ficar de molho durante 45 dias. Enquanto espera, convalescente, prepara-se para montar nada menos do que Hamlet.
O crítico cinematográfico Júlio Gomes me enviou uma mensagem que acho de bom alvitre publicá-la aqui por causa de suas observações bastante pertinentes a respeito de Tropa de elite, de José Padilha, filme que comento na minha estréia no Terra Magazine. Ele faz certas ponderações, que creio-as elucidativas. Abrindo aspas:
"É com grande prazer que vejo seus escritos saindo do fechado circuito blogueiro e subindo a pedestais mais altos e merecidos. Só lamentei a falta de espaço para comentários (vícios de visitante de blog, quiçá). Enriquece o debate, penso.

E, falando em debate, o que acho mais fascinante em Tropa de Elite é justamente essa falsa idéia de apologia ao mundo da violência que ele semeia. Falsa, pois por mais que se fale de adesão aos métodos do Capitão Nascimento, a adesão é (nossa?) do espectador conivente com essa "faxina" social promovida pelo Bope, e não do filme. Basta perceber o olhar nada complacente com que Padilha de debruça sobre Nascimento e sua desenvoltura em torturar criancinhas/"falcões" do tráfico, para não falar do filme de horror à parte que é o treinamento em si.

Além do que, nunca é demais lembrar, o filme assume o ponto de vista narrativo do policial truclento, logo é parcial. Mas a rasteira final, a jogada de mestre, mesmo, vem na sequencia final, com a "conversao" do equilibrado Matias em um selvagem com a arma apontada para nossa própria cara/câmera, num banho de água gelada aos "nascimentistas", chamando-(n)os de volta à realidade. Como diz a letra daquela canção: "A minha alma está armada e apontada para a cara do sossego".

26 novembro 2007

Uma "Falcatrua" em maus lençóis

Apesar das advertências em todos os DVDs de que estes se destinam, apenas, às exibições domésticas, a verdade é que os disquinhos são exibidos à torto e à direito. Entre os locais proibidos, naquele assustador WARNING!, com o logotipo do FBI, estão inclusos plataformas submarinas, petrolíferas, hospitais, conventos, etc, alguns, como estes, de fazer rir. O fato é que pela primeira vez no Brasil uma institutição está a ser condenada pela Justiça e, no caso, a Universidade Federal do Espírito Santo porque seu Cine Falcatrua (o nome, sugestivo e irônico, pois significa: artifício para burlar; ardil, fraude, logro, embuste.) exibiu cópias de filmes baixadas da internet consideradas ilegais. A SOCINE (Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual) já deu nota pública contra a decisão judicial. Publico aqui o relato do caso e, a seguir, abaixo, a nota da entidade que pesquisa o cinema no Brasil.

"Uma sentença da juíza substituta da 6ª Vara Federal Cível, Renata Coelho Padilha Gera, julgou parcialmente procedente os pedidos indenizatórios do Consórcio Europa contra a Universidade Federal do Espírito Santo por contado Cine Falcatrua. Trata-se de um projeto defendido em curso de extensão da universidade que, em 2004, promoveu exibições públicas de cinema usando cópias de filmes ilegais obtidas através da Internet. O caso é relevante também por ter sido o primeiro no Brasil a envolver a questão dos downloads ilegais de conteúdos audiovisuais pela Internet, explica o advogado Marcos Bitelli, autor da ação. O Consórcio Europa pediu a abstenção das exibições públicas de obras por ela licenciadas e a destruição dos equipamentos usados para as exibições. Além disso, pediu indenização por danos patrimoniais e morais.A UFES deverá pagar multa diária de R$ 10 mil por novas infrações semelhantes. Também, foi condenada a pagar ao Consórcio Europa, a título de dano material, o valor correspondente aos custos de aquisição para distribuição da obra exibida,Conforme a fundamentação na sentença da juíza, os pedidos do Consórcio Europa partem do pressuposto de que a UFES violou normas de direitos autorais, de propriedade intelectual e de exclusividade quanto à distribuição de produtos. No caso analisado, referente à exibição do filme "Fahrenheit 911", a juíza Renata Coelho Padilha Gera considerou que "a autora (o Consórcio Europa) não pode valer-se da violação a direitos autorais ou de propriedade industrial, uma vez que não é a detentora de tais direitos". Contudo, "a ré (a UFES), ao adquirir a mesma obra, para fins de exibição pública, através de canal não autorizado, causou prejuízo à autora,de ordem patrimonial, uma vez que referido produto só poderia ser adquirido licitamente através da distribuição desta". Da Redação - TELA VIVA News
Agora a nota da SOCINE:
"A Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual (SOCINE) vem por meio desta diante dos fatos abaixo noticiados defender a importância de livre acesso à informação, em especial, de exibição de material audiovisual, quando realizada em atividades públicas, gratuitas e sem fins lucrativos, notadamente quando possuindo finalidades acadêmicas, de pesquisa e deextensão. A SOCINE também defende o livro acesso para fins didáticos ao acervo de filmes, vídeos e programas de televisão em Centros de Estudos, Arquivos e Videotecas."
Assino esta nota.

25 novembro 2007

Mr. Stewart, I Presume?



Já publiquei o que vai ser narrado abaixo. Mas o afogadilho da pressa, e para deixar o blog mais atualizado, obriga-me a dar um replay no texto.
Em 1984 - assusto-me, aqui, neste blog, hoje, 25 de novembro de 2007, há exatos 23 anos depois, quando, para mim, o que vou narrar parece que foi ontem, a CIC (Cinema International Corporation) - que, depois, se transformou na UCI, lançou um pacote contendo cinco filmes de Hitchcock que há vinte anos se encontravam proibidos de exibição por exigência do mestre - não se sabe lá bem o motivo. O fato é que Janela Indiscreta, Um Corpo que Cai (considerado pela Cahiers du Cinema um dos mais belos filmes de todos os tempos), O Terceiro Tiro, O Homem que Sabia Demais e Festim Diabólico, obras imprescindíveis de Hitch, puderam, duas décadas depois, serem reavaliadas e vistas pela primeira vez por toda uma geração de cinéfilos. Para prestigiar o lançamento do pacote, James Stewart esteve no Rio de Janeiro reunido com jornalistas das principais capitais do Brasil, do Oiapoque ao Chuí. O gerente regional da CIC, em Salvador, resolveu me convidar como o crítico representante da Bahia - tinha, para quem não sabe, uma coluna diária e enorme na Tribuna da Bahia. Fiquei entusiasmadíssimo, alvoroçado, pela oportunidade que teria de passar, um dia inteiro, com um veterano e mitológico intérprete do cinema americano. A empresa me reservou uma passagem de ida e volta - SSA-Rio-SSA, hotel de cinco estrelas - o mesmo onde ficaria hospedado o homem que matou o facínora, e a promessa de reembolso imediato nos gastos de locomoção e alimentação. Lembro-me bem do dia: 21 de outubro de 1984. Estava chovendo. Vento leste. Medo de voar naquelas condições que se foi vencendo com várias tulipas de chope no barzinho do aeroporto. Para um amante do cinema, um presente de Zeus. Apertando o cinco, feita a aterrissagem, cheguei ao Galeão, descortinando, antes de pousar, a bela paisagem da Cidade Maravilhosa. O Rio de Janeiro é de uma beleza indescritível. Mas a chuva continuava. Pensava em James Stewart, relembrava seus filmes enquanto sorvia mais algumas tulipas desta vez no bar do aeroporto do Rio. Telefonei para a CIC e me mandaram pegar um táxi, pois a reserva já se encontrava feita. Num hotel luxuoso em Copacabana - diria mesmo: seis estrelas. Quem sou eu, pobre comentarista de cinema, para gozar de tais mordomias! Gozei-as, entretanto. E como!
Cheguei num domingo. Dia livre, segundo a assessora de imprensa da CIC. Aproveitei para ver, no cinema Veneza, Janela Indiscreta (Rear Window). A sala estava lotada e, antes de entrar, fiquei observando as pessoas que saiam circunspectas, caladas ou comentando. Via pelas suas fisionomias que tinham acabado de assistir a um grande filme. Já na sala escura, as imagens de Janela Indiscreta me provocaram forte emoção - já o tinha visto nos anos 60 antes de sua retirada de circulação. Apesar de uma matinée num domingo, havia silêncio na sala, respeito pelo que se estava a ver. Há 23 anos passados. A patuléia, porque ainda não nascida, ainda não comandava o espetáculo! Saindo do cinema, fui andando até o hotel no posto seis de Copacabana. Uma caminhada e tanto. Ia pensando no encontro da segunda, o Dia D, cujas atividades se estenderiam pelo dia todo: de manhã, de tarde e de noite. Atravessei o comprido túnel, e, adentrando a Av. Atlântida, a pé, andei pelas suas calçadas cheias de bares com aquele chopinho único e especial que só se encontra no Rio de Janeiro (na Bahia não há chopp que preste, porque, na maioria das vezes, as pessoas não possume o savoir-faire para tirá-lo). Há uma cultura do chopp entre os cariocas inexistente, por exemplo, em Salvador. Difícil - ou impossível - se encontrar, aqui, um chope que possa ser bebido com tanto prazer como em relação ao chopp carioca. Assim, não resisti, cervejeiro que sou - e que, naquele tempo, jovem e disposto, era mais ainda, e sentei-me, lembro-me bem, no Cabral 1500. Impossível se ficar em apenas um chopinho. Este desce com uma leveza impressionante e, por isso, as tulipas se multiplicaram. Quando me levantei, a noite, ainda uma criança, dava sinais de que precisava parar e ir para o hotel descansar para o grande dia.
Acordei com o dia e por causa de um telefonema da assessora, Hannath de não-sei-o quê. Ela me disse que ficasse esperando uma caminhonete no saguão do hotel. Para ir ao centro da cidade à cabine da Paramount. Quando desci, encontrei um monte de gente também esperando: os críticos de outros estados que, a julgar pelos seus gestos e palavras, estavam eufóricos. Um, de Manaus, estava com vários colares e cocares indígenas para presentear James Stewart. Chegando à cabine, uma sala de projeção com poltronas de veludo, James Stewart estava lá ao lado da assessora de imprensa que nos apresentou, um a um, explicando a ele o que as pessoas faziam e de onde vinham. Entramos na cabine onde ia ser exibido Um Corpo que Cai (Vertigo). O filme se iniciou com a fabulosa perseguição pelos telhados e, em seguida, a apresentação dos créditos feita por Saul Bass, uma novidade. De repente, minha atenção se perturbou, pois James Stewart se sentou, por acaso, a meu lado. Enquanto o via na tela, sentia a sua presença. Não assistiu ao filme até o fim, retirando-se no primeiro terço e, na hora de sair, bateu em meu ombro e disse: "I see you later" ("Eu vejo você mais tarde")
Referia-se à grande entrevista coletiva que ia acontecer no salão do hotel no horário vespertino. A tarde chegou cedo, e o meu tempo, o psicológico, por fugaz, fez com que, mal terminada a projeção, já estivesse a postos no grande salão onde se realizaria a entrevista. Os lugares, todos marcados com os nomes dos jornalistas e, em cada cadeira, uma pasta contendo dados sobre os filmes e sobre Stewart, além de muitas fotografias. Lembro-me de Ruy Castro, que, naquele tempo, era free lance da Folha de S. Paulo Cada jornalista tinha de esperar a sua vez. Quando chegou a minha, perguntei a Stewart qual o seu filme preferido de Hitch. Olhando-me com aqueles dois olhos azuis resplandecentes, respondeu-me que Janela Indiscreta, fazendo longas considerações pelo motivo de sua preferência. À noite, um jantar no hotel. Conversei um pouco com Stewart, que, nessa ocasião, me apresentou à sua esposa, Gloria, de longa data. Fiquei de olho em Stewart e nas bandejas circulantes dos garçons, que continham um delicioso scotch. Depois da quarta dose, aproximei-me dele, que estava em pé, disponível, ao lado da intérprete. Foi então que conversamos mais. Ele me falou de sua infância difícil, da conquista, nos anos 40 (por A Mulher Faz o Homem/Mr.Smith goes to Washington, 1939, de Frank Capra) do Oscar de melhor ator, que o enviou ao pai, dono de uma loja comercial, que colocou a estatueta na vitrine. Falou-me de Hitch, de Capra, de John Ford (tinha medo de trabalhar com Ford e só entrou no cast de O Homem que Matou o Facínora por insistência de John Wayne, mas Ford gostou dele e o convidou para mais filmes).
Dentro do avião de volta, peguei a Folha de S.Paulo para ler. Fui direto à Ilustrada, que estampava: "O melhor filme de Hitch para Jimmy é Janela Indiscreta. Minha pergunta foi roubada, pensei com meus aflitos botões. Mas era tarde demais
Naquela época não havia internet e a matéria que fiz para o jornal, que tomou toda a capa do segundo caderno, foi batida quando já de volta ao lar.