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10 março 2010

Todas as mulheres do mundo

Elogio à beleza da mulher amada e do amor, crônica da vida ociosa de Ipanema e Leblon no ápice de seu encantamento como paraíso da alegria de viver, Todas as mulheres do mundo (1967), de Domingos Oliveira, pode ser considerada como uma das melhores comédias do cinema nacional em todos os tempos. Realizada nos sisudos tempos do Cinema Novo, quando a discussão da problemática do drama do homem brasileiro surgia como preocupação principal dos cineastas, Domingos Oliveira, aqui em sua obra de estréia como realizador, nada contra a corrente e propõe o retrato de uma geração, na sua busca pelo amor, visto no filme como uma necessidade vital. A inspiração, veio-lhe de Leila Diniz (que poucos anos depois se tornaria uma figura emblemática da vida carioca), que fora sua mulher por um tempo, mas houve a separação, dolorosa para Domingos, porque ainda a amava. Segundo declarações do cineasta, Todas as mulheres do mundo é um filme feito com o propósito de reconquistá-la. Se o filme se tornou um êxito, o realizador, porém, não alcançou sucesso no seu objetivo precípuo.O cinema de Domingos Oliveira é um cinema que reflete as relações afetivas e amorosas.
O realizador sabe construir seus textos em função da explicitação dos mistérios do amor. Todas as mulheres do mundo, surpreendentemente em se tratando do primeiro filme de Oliveira, possui uma estrutura narrativa ágil e inteligente, diálogos ricos, engraçados e envolventes. Apesar de uma produção realizada com pouco orçamento, com as locações feitas em casas de amigos e no próprio apartamento do autor, além das externas em pontos do Rio de Janeiro, o filme se realiza dentro das restrições impostas pela produção. Há uma dinâmica rítmica que faz lembrar alguns filmes do inglês Richard Lester nessa fase. O filme revela que Domingos Oliveira estava a par das últimas novidades conquistadas pela linguagem cinematográfica naqueles anos efervescentes dos 60. Assim, materiais de diversas procedências se inserem no desenrolar da narrativa, como livros abertos, desenhos, e uma fala coloquial nova no cinema brasileiro da época.O cineasta, após o sucesso de Todas mulheres do mundo, fez vários outros filmes ainda na mesma década: Edu, coração de ouro (1968), As duas faces da moeda (1969), e, ainda, um documentário sobre um fenômeno da época: É Simonal. (filme pouco referido quando se comenta a filmografia desse realizador)
A década de 70 lhe propiciou uma obra atípica: A culpa, entre outras. Depois de um lapso de tempo sem fazer cinema, voltou em 1998 com Amores, que se aplica a tratar do relacionamento amoroso entre os indivíduos, assim como outros que se lhe seguiram: Separações (2002), Feminices (2004), e Carreiras,e Juventude. Todos realizados com pouca verba e no sistema de cotas, compartilhadas pela equipe.
Em Todas as mulheres do mundo, dois amigos se encontram. Um, Flávio Migliaccio, é celibatário, não acredita no amor. O outro, Paulo José, pensa o contrário, e conta a sua história. O filme, portanto, desenrola-se em flash-back, a mostrar o encontro de Paulo com Leila Diniz, que vem a conhecer numa festa. O filme é o retrato apaixonado do relacionamento dos dois: o cotidiano deles, suas brigas e separações. Mas o seu amor por ela fez com que ele abandonasse ‘todas as mulheres do mundo.’ É a celebração de Leila Diniz, mulher bela, cativante e de esfuziante personalidade que veio a se tornar uma celebridade dos agitados anos 60. Envolvente, belo, Todas as mulheres do mundo é uma obra que, além de marcar uma época, retratando-a, é também, uma análise arguta e bem humorada dos sentimentos humanos.

08 março 2010

Fofoca baiana

O cineasta baiano Tuna Espinheira, autor do longa Cascalho, baseado em livro homônimo de Herberto Salles, cochicha, em off, sobre a possibilidade de Francis Ford Coppola vir a Salvador para fazer um filme sobre a cultura negra. Estupefato, e, mesmo assim, meio assombrado, ouço o que ele diz. "Posso colocar no meu blog?", perguntei, mas ele diz que ainda é um "segrêdo de estado." Mas creio não estar a revelar os detalhes, que são, estes sim, significativos e provocará, na certa, um certo trauma no corporativismo dos cineastas ditos baianos. E nada mais digo.

07 março 2010

Um domingo com Monica Vitti

Será possível que esta beleza de mulher, musa de Michelangelo Antonioni, já esteja com 78 anos? Ó tempo cruel! Monica Vitti (cujo verdadeiro nome de Maria Luisa Caciarelli) nasceu em 3 de novembro do já distante ano de 1931. Vitti participou de alguns obras-primas, filmes-faróis, do cinema contemporâneo: a famosa trilogia de Antonioni composta por A Aventura (L'Avventura, 1959), A Noite (La Notte, 1960), e O Eclipse (L'Eclisse, 1962), O Deserto Vermelho (Il Deserto Rosso, 1964), também do mesmo realizador antológico e, ainda com este, O Mistério de Oberwald (Il Mistero de Oberwald), uma experiência em vídeo e na função dramatúrgica das cores. Vitti era, também, excelente comediante: está na sua quintessência em Modesty Blaise (1966), de Joseph Losey, assim como no episódio La Minestra, de Franco Rossi, de As Bonecas (Le bambole, 1965).
Há um filme de Ettore Scola, comédia fascinante, que tem Monica Vitti e Marcello Mastroianni. Trata-se de Ciúme à italiana (Dramma della gelosia [tutti i particolari in cronaca], 1970). Abandonou o cinema e a televisão em 1991, há quase vinte anos, portanto. Ficou, porém, para sempre, na memória dos cinéfilos. Este domingo é de Monica Vitti.