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20 maio 2010

Se meu apartamento falasse

Talvez o melhor filme de Billy Wilder seja Se meu apartamento falasse (The apartment, 1960), uma obra-prima indiscutível que é uma sátira à engrenagem capitalista para se vencer na vida a qualquer preço, custe o que custar. Mas não por ser uma sátira ou qualquer justificação desse tipo pode explicar o valor deste filme maravilhoso. O seu valor se encontra justamente, e vamos repetir de novo, na maneira fluente de Wilder manejar os elementos da linguagem cinematográfica. As pessoas possuem a mania de dar valor a um filme apenas se o tema for nobre, desconsiderando - por ignorância - que o cinema, antes de ser um espetáculo, é uma linguagem. Na foto que está postada (e é bom que se clique nela para vê-la maior em outra janela), Billy Wilder conversa com a deliciosa Shirley MacLaine num intervalo das filmagens de The apartment.
Jack Lemmon é um funcionário de uma companhia de seguros que, solitário, mora sozinho num apartamento alugado em Nova York, e o empresta a colegas de trabalho para que eles levem suas amantes com o objetivo de ascender no plano de carreira. Para isso, sai do escritório mais tarde ou fica fora de casa esperando que seus colegas deixem vago o apartamento. Um belo dia, vem a prestar atenção à bela ascensorista da empresa intepretada por Shirley MacLaine e, aos poucos, se apaixona, sem saber que ela é amante do chefão da companhia (Fred MacMurray). E as coisas se complicam, pois este é casado e também frequentador do seu apartamento. No final, a decisão entre o sucesso na empresa e o amor ao pobre funcionário.
Nas comédias americanas dos anos 50, especialmente as de Billy Wilder e Frank Tashlin (ou, mesmo, George Cukor - vide o extraordinário Adorável pecadora/Let's make love, 1960, com Marilyn Monroe e Yves Montand), há sempre o elogio do amor em detrimento do sucesso profissional. Em Em busca de um homem (Will success spoil Rock Hunter?, 1957), de Frank Tashlin, por exemplo, um executivo larga tudo para se dedicar à sua vida rural e pacata, a cultivar rosas, sua mania e realização. Em A senhora e seus maridos (What a Way to Go! 1964), de J. Lee Thompson, MacLaine, depois de se casar com muitos milionários, termina com Dean Martin, um antigo pretendente que se une a ela para viver numa roça criando galinhas.
Há influência, sem desmerecer The apartment, de Will success spoil Rock Hunter? sobre The apartment, que foi realizado três anos depois do filme de Frank Tashlin. A conquista da chave do banheiro exclusivo (um grande momento com Tony Randall em Rock Hunter) também se repete em Se meu apartamento falasse. I.A.L. Diamond e Billy Wilder, os roteiristas deste, devem ter visto com muito prazer o filme de Tashlin e, não se pode negar, copiaram algumas sugestões do argumento. Como o mestre Hitchcock também assim agiu em relação ao clima do hotel e à sua atriz (Janet Leigh) de A marca da maldade (Touch of evil, 1958), de Orson Welles, para a criação da atmosfera (e com a mesma atriz) do consagrado Psicose. Influências geram influências. É normal e não causa demérito a nenhum dos filmes citados.

19 maio 2010

Morre William Lubtchansky: o Senhor da Luz

A morte, vinda aos 72 anos, do grande diretor de fotografia William Lubtchansky (na foto, ele se encontra na extrema esquerda, um senhor careca de terno preto e uma câmera pendurada) abalou o cinema europeu. Era o iluminador preferido de grandes realizadores, entre os quais Jacques Rivette com o qual iluminou 19 de seus filmes. Fotografou A mulher do lado (La femme d'a côte), de François Truffaut, 7 de Jean-Luc Godard, Shoah, de Lanzman, alguns Ferreri etc. No cômputo geral de sua extraordinária trajetória consta, como diretor de fotografia, mais de 100 longas metragens, sem contar os numerosos curtas. A importância de Lubtchansky, embora reconhecida pelas autoridades cinematográficas, ainda precisa ser analisada pelos historiadores para que seja colocado no panteão dos grandes mestres da iluminação.
Deixo aqui um link para um artigo sobre ele escrito por Serge Kaganski:

16 maio 2010

"Artistas e modelos", de Frank Tashlin

Eis aqui o the end de Artistas e modelos (Artists and models, 1956), de Frank Tashlin, quando Jerry Lewis, ainda em parceria com Dean Martin, começa a demonstrar ser um comediante de gênio. Este momento final apresenta a habilidade e a dinâmica de Tashlin, um importante comediógrafo do cinema americano hoje esquecido pela banalidade das coisas. Reparem, por exemplo, a panorâmica que, saindo dos dois casais, mostra um bolo de casamento, e, em movimento inverso, já os focaliza casados. Comecei a gostar de cinema vendo filmes assim na gloriosa década de 50 e ainda de calças curtas.