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31 julho 2010

Aprisionados no Seminário?

Aprisionados estão os realizadores baianos aos editais governamentais, sejam eles da Secretaria de Cultura do Estado, do Ministério da Cultura, da Petrobras, não importa. Na Cena tenta revelar um estado de perplexidade no tom anárquico e de non chalance que o caracteriza. Há gente que não gosta dos espetáculos dados por Moreira e Sader (vide os comentários aos vídeos postados), mas o fato é que os clips de Na Cena ajudam a sacudir a letargia e a apatia. Não estou aqui com o fito ou a disposição de criticar nada, pois achei o Seminário saudável e produtivo. A natureza de Moreira, no entanto, é de dar uma certa graça àqueles que não possuem graça nenhuma. Tanto é que (vejam o vídeo), diante de pergunta esdrúxula que me fez, restou-me apenas o latido canino. O que fica de mais patente, e, a rigor, de mais simbólico, está na expressão final de Lula Meteorango na sua idade da razão. O resto é silêncio ou latidos subtextuais.
Mas não seria de bom-tom separar o verdadeiro Cinema de certas apoplexias digitalizadas?


29 julho 2010

Pirlimpimpim na água do Seminário.

Os participantes do VI Semcine parece que beberam uma água estranha com pirlimpimpim. É o que se pode deduzir deste vídeo elaborado com a non chalance típica do jornalista e cineasta Raul Moreira (que nunca teve papas na língua) e Cássio Sader. Vamos ver?

'Blackout' no VI Semcine


E foi acontecer logo na noite de abertura a falta de luz que deixou atônitos e estupefatos os espectadores que já estavam acomodados nas poltronas do majestoso Teatro Castro Alves, onde se realiza o VI Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual. O imbatível registro de Na Cena comprova o acontecimento no vídeo que se dá aí em cima. Raul Moreira e Cássio não perderam tempo e filmaram o bafafá todo, ainda que o primeiro quase perdesse a cena porque apressado para preparar o seu já famoso talharim ao molho de não sei o quê para servi-lo a contento na já famosa Praia do Livro (Farol da Barra). Alguns dos presentes acharam que houve um dedo misterioso responsável pelo acontecido e, surrealisticamente, atribuíram-no a Mick Jagger e até mesmo ao coitado do Índio Galdino. Não seria a Coelba que está a cortar não somente a luz, mas a paciência de seus pobres consumidores que atrasam um pouquinho o pagamento da volumosa conta?

28 julho 2010

"Leonel Mattos a vinte e quatro quatros por segundo" no VI Semcine

O cineasta baiano Tuna Espinheira (aqui ao lado do artista plástico Leonel Mattos) nunca foi jangadeiro, mas devia ter sido, pois um navegante consumado. Mas, se não o foi, é, porém, um navegante das imagens em movimento pelas quais se expressa. Consumado documentarista (tem mais de uma dezena de curtas), quando se decidiu pelo longa, fê-lo ficcional, embora com um empenho documentário evidente (no sentido de documentar um problema social), que foi Cascalho (que já está devidamente gravado em DVD para distribuição). O único curta de ficção que fez, em 1982, O cisne também morre, que ele pensava perdido, de repente o encontrou em cópia 16mm (tenho curiosidade em revê-lo porque trabalho como ator no papel de um agente de funerária que, para passar o tempo, ao lado dos ataúdes, bebe formol).
O motivo deste post, no entanto, é anunciar aos quatro ventos que o derradeiro opus de Tuna Espinheira, Leonel Mattos a vinte e quatro quadros por segundo, está na mostra competitiva de curtas do VI Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual que ora acontece na cidade no majestoso Teatro Castro Alves. A sua exibição se dará quinta, dia 29, às 20 horas e 30 minutos, nesta casa de espetáculos. Vale ressaltar que Leonel Mattos a vinte e quatro quadros por segundo, elogiado por Sílvio Tendler, somente foi possível porque ganhou o Edital do Minc (Ministério da Cultura), e, pronto, recebeu, na Jornada Baiana passada, o Troféu Diomedes Gramacho na categoria de melhor produção baiana, e o Premio Especial do Júri do Festival de Cinema Digital de Jericoacoara.
A ver, portanto, obrigatoriamente.

25 julho 2010

VI Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual


Recebi da organização do VI Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual o release que vai abaixo, assim como veio.
"Um dos eventos mais esperados e concorridos do VI Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual (SemCine), que acontecerá no final de julho, em Salvador, é a série de Mesas Redondas, que, este ano, terá a participação de convidados renomados do Brasil, Itália, França, Espanha, Alemanha, Argentina e EstadosUnidos. As Mesas costumam atrair um público constituído, na sua maioria, de estudantes e profissionais daárea, tais como produtores, diretores, artistas, críticos, teóricos e professores. Em cada dia, serão ministradas palestras sobre temas específicos, seguidas de debates que visam contar com a participação ativa do público.
As Mesas terão lugar na Sala Principal do Teatro Castro Alves, de 27 a 29 de julho, em duas sessões diárias, das 10h às 13 horas e das 15 às 18 horas, com seis grandes temas em destaque: A existência da Itália cinematográfica - Pasolini e A fronteira sutil entre realidade e ficção (dia 27), A arte da montagem e O presente da imagem em movimento (dia 28) e Dramaturgia nas telas e O erotismo no cinema (dia 29). Segundo a curadora das Mesas, a psicanalista Marcela Antelo, o SemCine persiste em considerar o cinemacomo instrumento do pensamento, pensar através dele sobre o que se faz, saber graças a ele o que se pensa. “Moved by movies” como disse o reitor da UFBA, Naomar Almeida, na abertura da sua primeira edição.
Idealizado e comandado pelo cineasta baiano Walter Lima, o SemCine é uma realização da VPC
Cinemavídeo e UFBA, com o patrocínio do Ministério da Cultura, Governo do Estado da Bahia(Fazcultura) e Oi Futuro, e copatrocínio da Petrobras, Cinema do Brasil, Apex e da Embasa. Os ingressos para as mesas têm o valor de R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia).

Convidados - Entre outros profissionais, atuarão nas palestras e debates o cineasta baiano Sérgio Machado (Cidade Baixa e Quincas Berro d’Água); a professora Maria Rosaria Fabris da ECA USP; as montadoras Susan Korda, dos Estados Unidos, e Isabelle Rathery, da França; o premiado editor alemão Peter Przygodda; a filósofa, psicanalista e escritora francesa Clotilde Leguil, autora do Ensaio sobre as heroínas do cinema dos filmes As virgens suicidas, A vida dos outros e Mulholland drive; a professora da UFF e autora de O show do eu, a intimidade como espetáculo, Paula Sibilia; a premiada cineasta argentina Lucrecia Martel; o diretor da Ancine Paulo Alcoforado, o professor israelense Ariel Schweitzer, doutor em investigação cinematográfica e audiovisual na Université de la Sorbonne Nouvelle, o realizador em novas mídias Lucas Bambozzi, o festejado diretor de cinema norte-americano Mark Amerika, teórico de mídias, editor de web e VJ de performances internacionais, e o professor e cineasta haitiano Michelange Quay, do premiado filme."

Em seguida, um artigo de minha autoria que foi publicado originariamente quinta passada no jornal soteropolitano Tribuna da Bahia:

O Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual, já na sua sexta edição, acontece em Salvador entre os dias 26 e 31 de julho do ano em curso, o que significa dizer: a partir da segunda que vem. Organizado por Walter Lima, Waltinho, desde 2005, é um evento importante e pleno de atividades desde mostras competitivas de filmes, mesas redondas e quadradas, cursos e oficinas, retrospectivas especiais e a presença de nomes consagrados da cinematografia brasileira e internacional.

Lembro do primeiro seminário, em 2005, ainda não realizado no Teatro Castro Alves, mas na Reitoria da Universidade Federal da Bahia, quando da vinda do famoso cineasta Costa-Gravas, autor de obras consagradas como Z, Estado de Sítio, Desaparecido, A confissão etc, que participou ativamente como espectador atento e também palestrante de quase todas as atividades. No último dia, no telão imenso do TCA, houve a avant-première mundial de O corte (L'écouperer).

Em 2007, participei de uma mesa sobre cinema baiano e, lá pelas tantas, Edgard Navarro se aborreceu comigo e quase fomos às vias de fato. Mas a polêmica fez sucesso e virou o acontecimento do seminário daquele ano com uma repercussão na mídia nacional - saiu uma matéria sobre o imbroglio até no Estadão. Mas, hoje, me relaciono bem com Navarro. O que aconteceu foi um fogo de palha e pertence ao passado.

Neste mesmo ano, o talentoso Marcondes Dourado resolveu realizar um espetáculo de encerramento e chamou todos os participantes do seminário para, de mãos dadas, ascenderem do fundo do poço da orquestra para que aparecessem, de repente, na beirada do palco. Apesar da beleza da mise-en-scène douradiana, para mim, que tinha tomado um comprimido para hipertensão, foi um suplício, pois tive uma baixa de tensão quando cheguei ao topo, e, se caísse, porque de mãos dadas, levaria muitos comigo. Mas consegui conter e corrigir a baixa tensional, ainda que suando frio, e, ciente do que podia acontecer, em pânico.

Mas mudando de água para vinho, neste ano o seminário programou uma mostra completa do realizador Pier Paolo Pasolini, um dos mais importantes cineastas do século passado, que preconizou o cinema de poesia em oposição ao cinema de prosa. Para ele, este é um cinema de narrativa opaca, que esconde aquele que faz o filme por meio de uma narrativa invisível, segundo a lei de progressão dramática instaurada pelo americano David Wark Griffith. Já o cinema de poesia é um cinema de desmistificação, da transparência, onde as regras gramaticais não são seguidas, permitindo ao cineasta desenvolver suas idéias através de uma liberdade na construção de suas cenas e sequências. E fazendo ver ao espectador a presença de um autor que está a fazer o filme, dando a este a consciência de estar vendo uma obra cinematográfica na qual há um narrador.

Pasolini foi polêmico na sua época e, acredito que o seja ainda hoje. Saló, por exemplo, baseado em livro do Marquês de Sade, derradeiro opus do cineasta, que morreu logo em seguida esquartejado na periferia de Roma, com seu corpo desfigurado pela passagem de um automóvel em cima dele, Saló é um filme que não permite uma unanimidade: ou se gosta ou se detesta. Mas vamos ver toda a sua rica filmografia constituída de belos e significantes exemplares, a exemplo da fábula Gaviões e passarinhos, com o célebre Totó, O evangelho segundo São Mateus, que destrói toda a iconografia tradicional dos filmes sobre a vida de Cristo, Teorema, obra magistral, Decameron, entre muitos outros.

Salvador congrega anualmente pelo menos quatro eventos de expressão: o Seminário Internacional de Cinema (organizado por José Walter Pinto Lima), geralmente em julho, a Jornada Internacional de Cinema da Bahia (organizada por Guido Araújo e que acontece em setembro), o Panorama Internacional Coisa de Cinema (organizado por Cláudio Marques no Espaço Unibanco Glauber Rocha), o Festival Sala de Arte (organizado por André Trajano e Marcelo Sá no circuito do mesmo nome, e geralmente com data em outubro).

Todos concentrando uma avalanche significativa de filmes. Destes festivais, o mais antigo é a Jornada, que existe desde 1972, e, fazendo as contas, 38 anos, quase quatro décadas, mas, a rigor, 36, porque houve dois anos (1989 e 1990) em que não foram realizadas. O seminário de Lima já está na sexta edição e parece que foi ontem que começou na Reitoria. O tempo passa e, quando se percebe, as coisas, os eventos e as pessoas já pertencem ao pretérito. Há também outros eventos cinematográficos alternativos. Em Cachoeira, por exemplo, já está consolidado o festival Bahia África (organizado por Lázaro Farias).

Vários cursos e oficinas estão programados, entre eles um de direção com o famoso cineasta chileno Miguel Littin. Para maiores informações sobre a programação do seminário, acesse este site:
http://www.seminariodecinema.com.br/2010/index.html