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O câncer, implacável, fez desaparecer, segunda passada, Sydney Pollack (1934/2008), diretor americano possuidor de uma grande filmografia, ainda que irregular. Pollack é o tipo de realizador que faz bons e eficientes filmes sem, contudo, detonar, neles, uma poética singular, uma marca registrada que o faça um cineasta maior. Mas impossível não lhe reconhecer alguns êxitos. Pessoalmente, o seu melhor filme, no sentido afetivo e não crítico, é Meu amor de ontem (The way we were, 1973), com Barbra Streisand e Robert Redford, filme que se passa no período da caça às bruxas do senador Joseph McCarthy. Pollack, aqui, soube tratar o melodrama com finura, engenho e arte, delicadeza. Alguns críticos querem reduzí-lo a mero artesão, a um eficiente diretor dramático, mas, a se verificar a sua folha corrida cinematográfica, há a pescar obras que estão bem acima da média, a começar mesmo de um de seus primeiros filmes: Esta mulher é proibida (This property is condemned, 1966), com Natalie Wood, Robert Redford, o o western ecológico Mais forte que a vingança (Jeremiah Johnson, 1972), com, novamente, Redford. Gostava de se associar a um ator ou atriz e fazer star vehicule (Redford, Streisand...). Em 1968, um drama intenso, cuja ação transcorre na época da Depressão, fez notar em Pollack um diretor afinado com o contemporâneo em A noite dos desesperados (They shoot horses, don't they?, 1969), porque há, neste filme, uma espécie de paráfrase entre a Depressão dos anos 30 e a depressão (mal estar da civilização) da sociedade americana na década de 60 em meados de seu decurso. Trata-se de um concurso infernal de danças no qual as pessoas que se candidatam literalmente morrem no salão de tanto dançar na disputa pela reta final para ganhar alguns trocados a fim de matar a fome. Jane Fonda tem neste filme um dos melhores desempenhos de sua carreira - talvez seu Oscar por Klute, o passado condena, tenha sido um prêmio atrasado para They shoot horses, don't they?
Outro filme de Pollack que gosto imensamente é Entre dois amores (Out of Africa, 1986), com Meryll Streep, Robert Redford, que se passa na África com partitura admirável de John Barry. Pelo visto, não se pode ignorar assim Pollack ou remetê-lo a um rótulo simplista de mero artesão. Ele foi mais do que isso. E há um thriller que marcou quando do seu lançamento: Três dias do Condor (Three days of Condor, 1975). E a comédia Tootsie, com Dustin Hoffman? Pollack sabia que estava fazendo produtos para o mercado, mas tinha uma competência invulgar para dar ao espectador o prazer do cinema construído dentro de suas convenções clássicas, a exemplo de A firma, baseado em best-seller de John Gisham. Gosto também de um rigoroso thriller que fez em 1974: The Yakuza, com o grande Robert Mitchum. Não é qualquer filme, convenhamos.
Mas não vou fazer neste post uma prospecção filmográfica. Apenas lembrar Pollack pela sua morte e lhe dar o valor que merece. Nunca esteve à altura de nomes mais artísticos, por assim dizer, como Robert Altman, os fratelli Coen, Scorsese, Coppola, Clint Eastwood. Faltava-se um universo ficcional próprio e uma marca registrada, um estilo fecundante que viesse a irrigar um mundo particular que lhe era inexistente. Mas sabia, com eficiência dramática indiscutível, dar vida a um roteiro, fazê-lo filme, emocionar e divertir. O cinema, para Pollack, era, antes de tudo, um espetáculo.