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18 janeiro 2008
Kleber Mendonça Filho lança o longa "Crítico"

17 janeiro 2008
Se meu apartamento falasse
Afinal achei o DVD de Se meu apartamento falasse (The apartment, 1960), de Billy Wilder, comédia magistral, uma das melhores, sem dúvida, de toda a história do cinema. Nunca a maestria desse realizador se estabeleceu de modo tão completa no estabelecimento dos elementos da fabulação em função do riso e, muito mais do que isso, de uma visão crítica e ácida da sociedade americana. E, além do mais, The apartment, é um filme que proporciona uma imenso prazer de se ver. Em cinemascope e preto e branco, estava ausente das televisões por assinatura ou a cabo, e que me lembre, vi-o há muito tempo numa sessão da tarde da Globo em cópia deformada pelo full screen e pela dublagem. Nos anos 90, a Breno Rossi, quando lançou excelente coleção em VHS, com clássicos do cinema, ofereceu a oportunidade de se rever esta obra-prima, mas ainda em full screen, e a cópia um tanto escura, mas com o som original. Meu primeiro contanto com The apartment foi nos anos 60, em seus meados, quando reprisado, pois no seu lançamento tinha cordiais 10 anos e o filme era proibido para menores. Mas nunca me esqueço, nesta idade, de ter passado várias vezes pela frente do cinema Guarany e ficar, atolemado, a olhar o cartaz anunciador de sua presença nesta sala. Já gostava do filme sem vê-lo, se isso é possível e, para mim, nesta idade, o fato de uma determinada pessoa do meu conhecimento, maior de idade, ter visto The apartment para mim era motivo de júbilo. Meu conceito em relação a essa pessoa subia sobremaneira. "Ele viu Se meu apartamento falasse!!!" É como se tivesse feito um ato de grande importância.16 janeiro 2008
Entre umas, outras

15 janeiro 2008
A angústia da influência
Todos nós somos influenciados pelo que lemos, pelo que vemos, enfim, pela cultura pretérita, como bem analisou o crítico americano Harold Bloom em A angústia da influência. Assim, sem que se possa tirar o mérito de grandes cineastas, há, por exemplo, influências marcantes de vários realizadores em Deus e o diabo na terra do sol, de Glauber Rocha, talvez a obra-prima definitiva do cinema brasileiro. Na exploração dos grandes espaços, lembra John Ford, a matança dos beatos, Eisenstein, o rodopio e a gestualística de Corisco, Kurosawa. E em Terra em transe os touchs de Orson Welles e de Jean-Luc Godard estão claros, assim como também bebeu Rogério Sganzerla nestes dois para realizar seu monumento que é O bandido da luz vermelha,Mas quando se vê, por exemplo, A marca da maldade (Touch of evil, 1958), de Orson Welles, com Janet Leigh trancada naquele hotel isolada e acossada por gente de todo tipo, há um elo com Psicose (1960), de Hitchcock, que, sugere-se, deve tê-la visto na fita de Welles e teve a idéia de a convidar para Psycho, que, nem por isso, deixa de ser a obra-prima que é.
E se se vai verificar o uso funcional da cor vermelha em A tortura do medo (Peeping Tom, 1960), de Michael Powell, que, infelizmente vai sair em DVD por uma subsidiária da Continental que se caracteriza pelas cópias escuras e impiedosas na destruição das imagem de um filme, dá para pensar que Hitchcock também bebeu nas águas powellianas para fazer o vermelho ser acionado na atmosfera de Marnie (1964).
A imagem de Janet Leigh, após ser esfaqueada, a tomar sua ducha no chuveiro do hotel de Norman Bates, é um ícone do cinema do século XX. A primeira impressão que se teve de Psycho, ainda nos anos 60, foi de profundo impacto emocional e psicológico. Lembra-se, o autor deste blog, que, numa viagem ao Rio, época do lançamento de Psicose, as filas dobravam quarteirões. O filme foi, e ainda é, uma sensação. Obra para ser reverenciada. O autor deste blog considera um crime o que fez Gus Van Sant ao ter a ousadia de um remake dessa catedral (com a devida licença de Romero para uso do vocábulo). O resultado, de tão medíocre, determinou uma queda do cineasta no conceito do escrevinhador destas porcarias. Mesmo que tenha Van Sant feito, depois, uma obra como Elephant.
Seja um bom roteirista de tv!

13 janeiro 2008
A arte da narrativa e da fábula
A especificidade cinematográfica se dá através de seus elementos básicos: (1) a planificação; (2) os movimentos de câmera; (3) a angulação; a haver, ainda, um quarto elemento, a montagem, que também determina a sua especificidade. Existem, a rigor, os elementos determinantes (os citados) e os elementos componentes da linguagem fílmica. Estes, apesar de imprescindíveis, não lhe determinam o seu específico. Assim, o roteiro, ainda que fundamental para a estruturação da obra, é um texto escrito, não cinematográfico, uma pré-visualização do filme futuro; já a fotografia ajuda a compor e a melhor definir o estilo, algumas vezes com a função dramática especial (é o caso de Vittorio Storaro, iluminador de Bernardo Bertolucci, cuja fotografia assume, em películas como O céu que nos protege (The sheltering sky) e O último imperador, uma quase co-autoria); a cenografia, em raros exemplos (nas obras expressionistas e, em especial, O gabinete do Dr. Caligari), surge também como elemento componente, embora, nestes casos excepcionais, apresente-se como processo deflagrador da evolução temática; assim como a parte sonora, os ruídos, os diálogos, a partitura musical... Bela Balazs, teórico húngaro, atribui importância fundamental a três elementos da linguagem cinematográfica: o primeiro plano (close-up), a montagem, e a variedade de posições da câmera. O primeiro plano, além de ser, para ele, o fator que diferencia o cinema do teatro, cria um microcosmo desligado do espaço e da materialidade. O mundo da microfisionomia (rosto ampliado e isolado pelo close-up, como num microscópio) confunde-se mesmo com o "mundo da alma". É a dimensão de uma expressão humana isolada sobre a tela, e toda a referência ao espaço e ao tempo desaparece em vista de sua existência autônoma. Nossa consciência completa do espaço é abolida e nos encontramos em outra dimensão, a da fisionomia. O ponto de referência da Balazs é o filme O martírio de Joana D'Arc (1928), do dinamarquês Carl Theodor Dreyer.Catalisador das emoções, formador de sensibilidade, fonte de descobrimento, o cinema é a manifestação mais rica do século XX.