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16 fevereiro 2010
Da ação e da reflexão
O que se convencionou chamar erroneamente de cinema de arte não passa, na verdade, de uma falácia. O cinema de arte não existe e, inclusive, a expressão foi dada pelos exibidores (que são comerciantes) para designar, na década de 50, os filmes de tomadas demoradas, sem ação, quando da explosão no mercado das obras de Ingmar Bergman, Michelangelo Antonioni, Robert Bresson, Roberto Rossellini, entre tantos outros. Os exibidores é que denominaram estes de filmes de arte porque filmes que não tinham ainda muito público e o mercado era restrito. Queriam eles dizer, na verdade, se tivessem mais noção da arte do filme, que os filmes de arte se caracterizavam pela reflexão em detrimento da ação.
O fato é que não existe, a rigor, cinema de arte. O filme pode ser excelente seja ele de ação ou de reflexão. Sobre produzir um monte de lixo, a indústria cultural de Hollywood também realiza grandes filmes, como, por exemplo, e filmes do ano em curso, Sangue negro, de Paul Thomas Anderson, Onde os fracos não têm vez, dos Irmãos Coen. E os primorosos filmes de Clint Eastwood, Martin Scorsese, Sidney Lumet, entre outros tantos, não são oriundos da indústria? Se vingar a expressão cinema de arte como a significação do verdadeiro e bom cinema, filmes que são obras-primas como Rastros de ódio (The seachers), de John Ford, por serem de ação, estariam fora dela. O que seria um absurdo e uma patologia mental.
O que determina o valor de uma obra cinematográfica é a maneira pela qual o realizador articula os elementos da sua linguagem. Não importa se a articula em função da ação ou da reflexão. O que importa, na verdade, é o talento, o engenho e a arte. Também na literatura o que determina o valor literário de um livro é a maneira pela qual o escritor articula a sintaxe da língua. A ação pela ação (e também a reflexão pela reflexão), se não estiver apoiada numa escrita bem articulada, nada vale.
A confusão, porém, ainda é muito grande. A maioria dos pseudo-cinéfilos que toma conta das salas alternativas da cidade somente considera filmes válidos aqueles voltados para a reflexão. Mas se a reflexão não tiver aporte numa expressão estilística elevada não tem valor e, muitas vezes, é veículo para a aporrinhação do espectador. Neste caso, muito mais vale um filme de ação bem articulado do que um de reflexão de pouca polivalência no estilo.
Um belo dia, deparei-me com um impertinente pseudo-cinéfilo, desses que gostam mais de ficar na sala de espera para ser visto do que no interior da sala exibidora, e ele ficou admirado quando manifestei minha admiração pelos filmes de Clint Eastwood. "Mas não é aquele cowboy italiano que depois virou o perseguidor implacável?"
Existem, por outro lado, cineastas que a priori pensam fazer cinema de arte e, na verdade, seus filmes são estímulos fortíssimos à sonolência. O verdadeiro cineasta faz seu filme de acordo com a sua necessidade de expressão. Se vai conseguir um bom mercado exibidor ou ficar restrito às salas alternativas, isto, outra história.
Howard Hawks, brilhante realizador americano, fez um filme que mistura ação e reflexão numa solução de gênio em Onde começa o inferno (Rio Bravo, 1959), com John Wayne, Dean Martin, Angie Dickison. Western clássico, a ação de Rio Bravo, tirante poucos momentos de ação, transcorre quase toda dentro de uma pequena sala da delegacia ou no interior de um hotel das circunvizinhanças. A reflexão, a análise do comportamento dos personagens, e os diálogos são mais importantes do que a ação. Em outro filme desse genial diretor, Hatari!, a sua maior parte está concentrada na espera da caça e não nesta, quando se tem a ação. Hatari!, filmado in loco, na África, é sobre um grupo de caçadores de nacionalidades diferentes que está à procura de animais selvagens para os levar para os zoológicos de seus países. Mas Hawks concentra todo o filme nos momentos fracos, nos momentos de pausa, nos momentos em que os personagens estão à espera da caçada. Uma característica de Hawks, um realizador que se dividiu entre os westerns e as comédias com admirável talento (inexistente no cinema contemporâneo).
O cinema de arte, portanto, é uma falácia e uma grande mentira.
A foto é de Natalie Wood no clímax de The seachers, quando John Wayne a encontra, mas aqui ela pede clemência a Jeffrey Hunter. Clique para ver a imagem mais ampliada.
15 fevereiro 2010
Alhos & Bugalhos
1) A foto aí em cima é de O desprezo (Le mépris, 1963), de Jean-Luc Godard, em CinemaScope, com a bela Brigitte Bardot secando ao sol e, no outro extremo, Michel Piccoli. Neste filme, Godard aproveita ao máximo as possibilidades estéticas do formato, que tem, no elenco, Fritz Lang como ele mesmo. Considero um dos melhores trabalhos do polêmico diretor francês, o qual, queiram ou não seus poucos detratores, é responsável por um filme-farol: Acossado (A bout de souffle, 1959), que determinou novas regras para a gramática cinematográfica. Gosto muito do Godard dos anos 60 e menos, muito menos, da fase posterior. Filmes como Pierrot, le fou (me recuso a dar, aqui, o título que tomou em português: O demonio das onze horas), mUma mulher é uma mulher (Une femme est une femme), Tempo de guerra (Les carabiniers), Viver a vida (Vivre sa vie), Alphaville, entre outros, são, no mínimo, encantadores.
2) Na segunda metade da década de 60, o Jornal do Brasil tinha o seu Conselho de Cinema que atribuia, toda sexta-feira, estrelas (no máximo 5) e uma rotunda bola preta. Anos antes, o Correio da Manhã também o tinha. Vamos ver se me lembro dos participantes do conselho do JB: Alberto Shatovsky, Alex Viany, Maurício Gomes Leite, Valério Andrade, Sérgio Augusto, José Wolf, Ely Azeredo, José Carlos Avellar, entre outros que não me chegam à memória neste momento. Os do Correio: Ironildes Rodrigues, Antonio Moniz Vianna, Van Jafa, Ronald F. Monteiro, Paulo Perdigão, Salvyanno Cavalcantti de Paiva, e, quem mais?
4) Era uma época na qual Godard estava no auge e era um referencial para os bate-papos cinematográficas das pessoas que frequentavam o cinema Paissandú (de saudosa memória). Na saída, o pessoal se reunia nos bares e pizzarias que existiam na calçada da sala de exibição e o papo varava a madrugada regado, geralmente, a chope carioca e da Brahma (quando a Brahma era a Brahma e não o arremedo que se transformou). A Geração Paissandú surgiu daí.
5) Havia os críticos que não gostavam de Godard e davam bola preta para quase todos os seus filmes. Moniz Vianna não gostava, assim como o seu discípulo Valério Andrade. Quem adorava Godard, entre outros, era Maurício Gomes Leite, crítico oriundo de Minas que morreu há alguns anos atrás em Paris. E realizou um dos melhores filmes dos anos 60: A vida provisória, com Paulo José, Dina Sfat, Mário Lago, e, no final, fazendo uma ponta, Carlos Heitor Cony.
6) Não era de bom-tom se convidar, para a mesma mesa, um godardista e um anti-godardista. Naquela época, as discussões eram acirradas, levava-se o cinema muito a sério, e o cinema tinha um status político que perdeu completamente nos dias de hoje. Lembro-me que, no lançamento de Terra em transe em Salvador, houve um debate no auditório do Jornal da Bahia, reunindo os intelectuais e universitários baianos, que se prolongou até a madrugada. Diferente dos tempos contemporâneos que se caracterizam pela apatia, pela indiferença. E a indiferença, já disse William Shakespeare em Hamlet, a indiferença também é crime.
7) Revi, há poucos dias, no Canal Brasil, Eu te amo, de Arnaldo Jabor, com Paulo César Pereio, Sonia Braga, Tarcísio Meira, Vera Fischer. Obra pretensiosa e vazia. E, além do mais, apelativa, a fim de concorrer com as pornochanchadas da época. E os diálogos soam pseudo-intelectuais, pedantes e ridículos. A única coisa boa que o filme tem é a música de Tom Jobim, feita para Vera Fischer, Luiza, uma beleza. Aliás, desde que vi Eu sei que eu vou te amar, que deu uma Palma de Ouro prematura para Fernanda Torres, achei-o um vácuo, com os diálogos insuportávelmente moderninhos. Ainda bem que Arnaldo Jabor saiu do cinema para não cometer mais disparates, ainda que, e não se pode negar, Toda nudez será castigada, uma das melhores versões de Nelson Rodrigues para o cinema, seja um filme a respeitar. E O casamento, não tão bom o outro, não é de se jogar na lixeira. O Canal Brasil, por sinal, não respeita o formato original dos filmes mesmo os standars, espichando a tela para que ela fique, abominavelmente, cheia.
8) Por falar em Canal Brasil, a sua programação desceu muito de nível nos últimos anos, predominando, durante a tarde, os insuportáveis clips musicais (um ou outro se salva). O canal da Net/Sky, mas de propriedade de um grupo liderado por Barretão, Roberto Farias, entre outros, atende aos assinantes mais superficiais e menos exigentes ao programar tantos clips e por tanto tempo. Antes, os filmes eram mais numerosos e a programação mais cinematográfica. Há programas que não dá para se ver, a exemplo de Larica Total. De qualquer forma e de qualquer maneira, o fato é que, malgré tout, é um canal importante que ajuda a mostrar o cinema brasileiro de várias épocas. E que cobre os festivais, mostras e eventos espalhados em todo o território nacional. Assisto sempre ao Canal Brasil, exceção se faça ao turno vespertino.
14 fevereiro 2010
O primeiro filme de Rogério Sganzerla
Contrariando as normas tácitas deste blog, que não costumar postar vídeos, os quais são mostrados em outro blog de minha autoria (Momentos da arte do filme/ http://setaroandreolivieri.blogspot.com/), faço aqui, com Documentário, uma exceção pela raridade do filme.