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09 julho 2009

Ó tempo, suspende o teu voo!!


Quem viu Anita Ekberg na Fontana di Treve em La dolce vita, ao lado de Marcello Mastroianni, ficou com sua imagem na memória. A bem dizer, é um momento antológico da história do cinema, ela de preto longo, os peitos querendo sair do vestido. Mas a bella Anita, sueca de nascimento, está monstruosa com os seus quase 79 anos. Uma verdadeira bruxa. No post anterior, falo de minha paixão por Brigitte Bardot, mas ela está também bem feia na idade provecta que se encontra. Bem agiu Greta Garbo, que, no auge da beleza, despediu-se do cinema: I want to be alone. E se escondeu para sempre. Outra que vi penalizado: Leslie Caron, feia, deformada, obesa, e quando se pensa nela como a delicada Gigi, de Minnelli, há a constatação de que o tempo é implacável e, em consequência, a vida é um non sense, absurda e trágica.

A bela Brigitte Bardot

Brigitte Bardot é a minha terapia, o meu ponto de referência, a minha bússola existencial. Nunca houve, na minha opinião, na minha impressão afetiva, mulher mais sexy. O seu sexyappeal (ainda se fala nesta palavra?) é fenomenal. Levei alguns anos para poder ver ...E Deus criou a mulher, (...Et Dieu créea la femme), de Roger Vadim, porque, quando lançado, menino de calças curtas, não pude entrar (era rigorosamente proibido para menores de 18 anos e tinha, nesta ocasião, 7 ou 8). Passados alguns anos, ainda que menor, numa reprise, consegui furar o bloqueio e entrei. Ficou na memória para sempre a sua imagem.
Clique na foto para vê-la mais bela e mais ampla.

08 julho 2009

Leonel Mattos a 24 quadros por segundo

Tuna Espinheira não é um realizador que gosta de dormir de touca. Embora sempre a enfrentar imensas dificuldades para concretizar seus projetos (a luta pela continuidade de exibição de Cascalho ainda continua), acaba de realizar um novo documentário, Leonel Mattos a 24 quadros por segundo. Recebi um release sobre o filme, que transcrevo ipsis literis:

"Leonel Mattos a 24 quadros por segundo é o mais novo documentário do cineasta Tuna Espinheira, que durante dez minutos narra a trajetória artística do artista plástico baiano Leonel Mattos.

O projeto foi premiado em concurso do Ministério da Cultura (MINC), e realizado por uma equipe 100% baiana: produção executiva: Yara Maria Espinheira;
direção de fotografia: Claude Santos; operador de câmera: Roque Araújo;
direção de arte: Lígia Aguiar; projeto gráfico: Davi Caramelo; montagem: Claude Santos/Tuna Espinheira; edição: Claude Santos; narração: Maria Rosa Espinheira; trilha musical: Aderbal Duarte; roteiro, texto e direção: Tuna Espinheira; assistente de direção: Mônica Bahia.
O filme foi rodado em diversas locações da cidade de Salvador, como Boca do Rio, Monte Serrat, Museu de Arte Moderna da Bahia, (MAM), nas praças da Piedade e Campo Grande, Feira de São Joaquim entre outras.
Esta não é a primeira vez que o diretor do longa-metragem Cascalho - lançado neste ano em Salvador e Feira de Santana - explora o mundo das artes plásticas. O artista Bel Borba foi o personagem do curta-metragem O Bruxo Bel Borba, produzido no ano de 2000 e vencedor do XI Cine Ceará (Fortaleza).
Sobre o Artista
Leonel Mattos é uma das mais singulares expressões das artes plásticas da Bahia, com contundente repercussão fora do seu Estado e além das fronteiras do país.

No currículo, inúmeras exposições em Galerias, Salões de Arte, Bienais e Mostras diversas. Artista premiado e reconhecido pelos bons nomes da Crítica Especializada, como Ferreira Gullar, Radha Abramo, Olívio Tavares de Araújo, Matilde Matos, Olney Kruse, são alguns dos nomes de peso que, já analisaram, com entusiasmo, a sua obra.

Antenado com o seu tempo, jamais se contentou apenas com o pincel e o cavalete. Embrenhou-se no aprendizado das diversas técnicas que a sua arte permite: Intervenções urbanas, instalações, esculturas, etc.
Levado, compulsoriamente, pela sua natureza impulsiva, irrequieta, foi um dos primeiros, ao lado de Bel Borba, a realizar intervenções nas ruas, democratizando, para o olhar dos passantes, uma exposição permanente, a céu aberto, legando a todos, uma visão de grande força estética. Aqueles muros, paredes, postes, viadutos, pontes, etc, depois de pintados, desenhados, coloridos, mudavam a cara da cidade e, para os seus viventes que transitavam por ali, trazia uma abençoada alegria para a suas retinas tão fatigadas do cotidiano opaco.
Durante três anos e seis meses, vítima de um processo de conotações Kafkianas, o nosso artista de vôo livre, esteve encerrado na Penitenciária Estadual. Convivendo com os condenados, responsáveis pelos crimes mais brandos e os mais graves delitos. Promoveu nestes tempos de horror, várias oficinas de aprendizado das técnicas no reino das artes plásticas, ajudando a elevar a auto-estima, dele próprio e dos companheiros de cárcere. Muitos destes presos se apegaram ao fazer artístico. Como produto da memória das trevas, Leonel, já em liberdade, organizou a sua mais contundente, aclamada e premiada exposição, a qual deu o nome sugestivo de Caixa Preta.
Leonel Mattos, pela compulsão da arte e da diversidade dos seus fazeres, inclui-se naquela definição Marioandradiana: “Eu sou trezentos, sou trezentos e cinqüenta”.
Este filme é o registro documental, em 24 quadros por segundo, deste viajante e suas passagens pelas estações de alto e baixo astral, sem perder a utopia."

Ficha Técnica
Documentário: Leonel Mattos A 24 Quadros Por Segundo
Duração: 10 minutos
Produção Executiva: Yara Maria Espinheira
Direção de Fotografia: Claude Santos
Operador de Câmera: Roque Araújo
Direção de Arte: Lígia Aguiar
Projeto Gráfico: Davi Caramelo
Montagem: Claude Santos/Tuna Espinheira
Edição: Claude Santos
Narração: Maria Rosa Espinheira
Trilha musical: Aderbal Duarte
Roteiro, texto e direção: Tuna Espinheira
Assistente de Direção: Mônica Bahia

Contato:
Tuna Espinheira – (71) 3359- 4480/ 8853-4480

06 julho 2009

Imagens da desolação


Ninguém pode me contestar, mas o fato é que não existem mais cinemas como antigamente. Quem frequentou, por exemplo os Metros do Rio de Janeiro (quantos metros tem o Rio?) e, principalmente, o de Copacabana, sabe disso, a exemplo do publicitário João Carlos Alves Olivieri, conhecido na roda da malandragem como Jonga, bloguista (http://novaspensatas.blogspot.com/), que, hoje, passando pela Cinelândia, deparou-se com as ruínas do cine Vitória, sala de exibição que está na sua memória afetiva de cinéfilo. A imagem reflete a desolação: grafites tomam conta do quadro branco onde se colocavam os nomes dos filmes em cartaz e os horários das sessões; dentro, a escuridão não deixa ver, mas o que se pode encontrar é um verdadeiro pardieiro.

A Cinelândia, inclusive, tem este nome porque no local havia muitos cinemas. Recordo-me do Pathé, deste Vitória em ruínas, do Odeon (que se salvou milagrosamente, foi reformado e hoje serve de pré-estréias para alguns filmes e é lugar de destaque quando dos festivais cariocas). No Passeio Público, o Palácio, que, como o nome indica, era um verdadeiro palácio. Comprado o ingresso, andava-se, quase a flutuar no macio tapete vermelho escuro peculiar à cadeia Luiz Severiano Ribeiro, por quase, força de expressão, um quilometro, até se chegar ao porteiro e, dado o bilhete, adentrar-se na magnífica sala de projeção. No itinerário, um itinerário de pura emoção e magia, ia-se a olhar os cartazes na paredes (de a seguir, breve, etc). Quase vizinho, o Metro Passeio, que, embora não se comparasse ao Palácio, era um cinema imenso, capaz de transportar o cinéfilo para a fantasia do espetáculo cinematográfico.

Chocado com a desolação do seu querido cinema Vitória, Jonga, que, por acaso estava a portar uma máquina fotográfica, tirou algumas fotos. E foi para casa desolado, acreditando que o cinema, como era, não existe mais.

Encontrei esta notíca na internet: "O prédio de número 45 da Rua Senador Dantas, no Centro do Rio, onde funcionou o Rio Cine Vitória, foi invadido na noite de domingo (30) por cerca de 150 famílias ligadas ao Movimento Nacional de Luta pela Moradia. Segundo a integrante do movimento, Maria de Lourdes Lopes, a construção estaria abandonada há mais de 10 anos. Os sem-teto aproveitam o Dia Mundial do Habitat, celebrado nesta segunda-feira (1º), para chamar atenção das autoridades para o grande número de pessoas sem domicílio no país. Maria de Lourdes informou que seriam oito milhões de desabrigados no Brasil, enquanto cinco milhões de imóveis estariam abandonados. Os ocupantes do prédio no Centro esperam que o proprietário apareça para negociações. Eles reivindicam permanência no local para habitação, atividades culturais e geração de renda. “Esperamos que quem apareça aqui não seja a polícia”, declarou Maria de Lourdes. (Foto: Alaor Filho/Agência Estado)" A segunda foto é de autoria de Jonga.

05 julho 2009

Como Jane Fonda era bela!

A foto mostra a bela Jane Fonda num momento em 1963. Lady Jayne Seymour Fonda, eis o seu nome de batismo, é filha de Henry Fonda com uma socielite francesa. Acompanhei a sua carrreira passo a passo e, agora, desaparecida das telas, constato, estupefato, que ela já tem 72 anos (nasceu em 1937). O tempo é implacável" Como fazer deter o seu voo?

Um domingo com Joseph Losey


A lembrança que me veio hoje foi a de Joseph Losey. Pesquisei e vi que, há mais ou menos dois anos, tinha escrito o que vai abaixo e publicado neste blog.

Losey (1909/1984), cineasta sempre presente em minha trajetória de cinéfilo, não tem, nos dias atuais, o destaque que merece. Parece esquecido. O criado (The sevant, 1963), obra de mestre, lembro-me que, quando o vi, recebi um impacto surpreende. O roteiro, de Harold Pinter, a direção, rigorosa, de Losey, os atores, estupendos, a começar por Dirk Bogarde, James Fox, Sarah Miles. Mas esta preciosidade já saiu em DVD. Que o domingo não fique, portanto, neste blog, em vão.

Losey, apesar de sua fleugma, que o faz parecer um britânico nato, nasceu nos Estados Unidos, em Wisconsin, La Crousse, em 1909. Se estivesse vivo -morreu em 1984 - teria a provecta idade de 99 anos (o seu centenário, ano que vem, precisa ser comemorabo e bebemorado). Membro de uma família de ascendência holandesa, quando ingressa nos estudos superiores opta por duas carreiras bastante distintas: medicina e teatro. Logo, porém, a segunda fica no centro de suas preocupações, atuando, como intérprete, em peças alheias e, em 1930, findo seus estudos, dá-se a conhecer como um excelente crítico teatral. Da teoria, todavia, Losey passa, logo, à praxis, funcionando como diretor, metteur-en-scène, em The Living Newspaper (1936), influenciado, nesta ocasião, pelas teorias de Piscator e Bertold Brecht. Do teatro para ocinema, um pulo: em 1937 supervisiona mais de 40 documentários educativos para a Fundação Rockefeller e, realiza curtas autorais, e, trabalhando, para seu sustento, ao mesmo tempo, numa rádio, Losey desponta para a crítica como diretor teatral com a adaptação de Galileu, Galileu, de Bertold Brecht, considerada, até então, a melhor versão no proscênio da peça de Brecht. Após o triunfo de Galileu é que vem o cinema propriamente dito, o cinema ficcional, de longa metragem, com caráter profissional. Dore Schary o convida, em 1948, para dirigir The boy with green hair (O menino dos cabelos verdes), uma fábula humanista acerca do racismo latente em uma coletividade. O Fugitivo de Santa Maria (The Lawless, 49), seu filme seguinte, insiste sobre o mesmo tema, mas com uma chave realista, pois o primeiro está cheio de metáforas e símbolos na fabulação. O menino dos cabelos verdes e O fugitivo de Santa Maria revelam o cineasta Joseph Losey como um realizador original e singularmente apto para restituir a pulsação lírica de alguns estados de ânimo. Assim, The boy with grenn hair contém o que não nos é dado com freqüência observar - uma mensagem de solidariedade humana, de tolerância, de paz, e The lawless, rodado numa pequena cidade do norte da Califórnia, expõe, através de uma narrativa um tanto descontrolada, a dramática situação desta localidade, quando um dos rapazes do bairro mexicano, tomado de pânico após esmurrar um policial, rouba um carro, foge desesperadamente e é acusado de vários crimes (entre os quais o de tentar violentar uma jovem estudante) no decorrer de sua perseguição. A população mais "respeitável" da cidade, indignada com os acontecimentos, percorre as ruas agredindo a pauladas outros mexicanos e empastela o único jornal da região, cujo editor resolvera defender a causa do fugitivo.

Em 1950, O cúmplice das sombras (The prowler), que significa um passo importante na sua carreira ao transcender um tema melodramático - um policial que seduz a uma mulher depois de assassinar o marido - para realizar um profundo estudo psicológico da condição humana de um personagem, a evidenciar Losey, neste filme, como um seguro realizador no controle da técnica naturalista e uma exatidão extraordinária na apresentação psicológica dos personagens. A seguir, no mesmo ano, M, o maldito, nova versão do célebre filme de Fritz Lang, que lhe permite descobrir outra de suas facetas: a faculdade de uma fusão expressiva entre o cenário e o seu protagonista. A maior parte da história e muitos dos arranjos de câmara são conservados e, quase cena por cena, o filme americano segue o alemão. As modificações principais se referem à época e ao local, com a transferência da ação de 1929 para 1950, e de Dusseldorf para uma cidade não identificada dos Estados Unidos. Em ambos, porém, o cenário é o mesmo: uma cidade agredida e aterrorizada por um psicopata cuja especialidade é matar meninas, após captar-lhes a confiança, sem uma pista a seguir, sem um delator, e que invade diariamente o bas-fond. Depois de M, Losey faz The big night, onde Robert Aldrich aparece como figurante: um dos espectadores da luta de boxe.

Em O homem que o mundo esqueceu (Stranger on prowl), filme que se segue a The big night na filmografia de Joseph Losey, a ação está situada em um porto não identificado, que apenas se sabe, pela insistente focalização de suas ruínas, ter sido duramente atingido pela guerra, num passado próximo. Um estranho percorre as ruas faminto e sem esperanças e, mais tarde, se vê perseguido e encurralado como se fora um animal por ter morto acidentalmente a dona do armazém que ameaçava entregá-lo à polícia ao surpreendê-lo com umpedaço de queijo na mão. Dois anos depois, 1954, O monstro de Londres (The sleeping tiger), com Dirk Bogarde (que mais tarde seria um ator constante do cineasta), com Losey a amargar o exílio forçado (é vítima do estupidez maccartista e taxado de 'comunista', deslocando-se para a Europa), assinando a fita como Victor Hanbury. Um homem em desespero (The intimate stranger, 56), assinado, também com pseudônimo, parece refletir a angústia do exílio. E a partir de A sombra da forca (Time without pity, 57), cuja fotografia é de Freddie Francis (o mesmo de Cabo do medo), o realizador já se sente mais livre para assinar seu próprio nome. Thriller policial britânico, apesar de realizado por um norte-americano, tem a britanicidade necessária para que se não lhe perceba a origem direcional: atmosfera sufocante, rictus narrativo, imagens rápidas, cheias de emoção visual e personagens enfocados oniricamente. Após o que, Losey realiza Por amor também se mata (The gypsy and the gentleman), de 1957, com Melina Mercouri e Patrick MacGoohan. Em 1959, um filme muito acima de sua média, e que muitos críticos consideram um de seus momentos altos: Entrevista com a morte (Blind date), com Hardy Kruger, Stanley Baker. Jovem pintor holandês em Londres leva à sua amante um ramalhete de violetas, mas não a encontra em casa e, de repente, chega a polícia. Há impressão de kafkanismo na narrativa com a tensão se fazendo à custa de um equívoco produzido pela usurpação de identidade da vítima. A direção de Losey se mostra menos preocupada com a trama policial do que com o exame psicológico de dois de seus três personagens centrais. Um filme que marca a presença de um autêntico cineasta.The damned, de 1962, nunca foi exibido nos cinemas brasileiros, restringindo-se a uma histórica exibição na TV Tupi do Rio de Janeiro em março de 1973, com o título de O mundo os condenou. Losey, entretanto, já se encontra, dois anos antes, com alta cotação entre os críticos, principalmente porque The criminal revela um realizador inusitado, estilista admirável. Mas é com Eva que a admiração total a Losey se estabelece de maneira definitiva, e seu nome se inclui, definitivamente, na galeria dos grandes cineastas. Com Jeanne Moreau, Stanley Baker, Virna Lisi, Eva é o ponto mais grave de uma acidentada carreira, pois a fita mais ambiciosa, concebida sem preconceitos e realizada num regime de absoluta liberdade de criação. Talvez seja Eva ainda a resultante dos estímulos recebidos por Losey de um grupo compacto da crítica francesa, que o elegeu um dos seus ídolos, para o seu espanto e estupefação, com o elogio descontrolado de suas obras menores. Um ano antes de O criado, que é de 1963, Eva tem uma narrativa pictoricamente sufocante por causa da poderosa beleza da iluminação de Gianni di Venanzo, um artista da luz.

Obra de mestre, obra-prima, O criado (The servant), com Dirk Bogarde e JamesFox, traduz bem a relação hegeliana do senhor e escravo. É o melhor filme de Losey, um trabalho exemplar, que se encontra, de repente e para surpresa de todos, em DVD. Vi o filme nos bons tempos do Cinema 1 em Copacabana. O criado é representativo desse enfoque de personagens cuja transparência de status social só tem igual na opacidade psicológica. Tony (James Fox), um jovem e sedutor aristocrata britânico, contrata um camareiro, Barrett (Bogarde). Como observou o ensaísta francês Claude Beylie, "A fábula é límpida: herdeiros de um mundo condenado, o escravo torna-se amo e vice-versa. Losey deleita-se com o espetáculo desse processo inexorável de degradação. Aí encontramos aquela 'exigência em perpétuua tensão' de que falava Michel Mourlet a propósito de À sombra da forca."

A seguir, um inédito em território brasileiro: King and country. Depois uma brincadeira satírica em tom descontraído: Modesty Blaise, com Monica Vitti, Terence Stamp, 1966, uma sátira ao bondianismo, desta vez colocando, como a heroína, uma mulher, e movido por chave irônica em linguagem de história em quadrinhos. E posteriormente uma quase obra-prima: Estranho acidente (Accident, 67), análise de comportamentos e de idiossincrasias, pintura ácida (como de hábito) de um meio corrompido (desta vez o acadêmico), com, novamente, Bogarde e o Stanley Baker de tantos filmes. O casal Burton reviveria Tennessee Williams em Boom (O homem que veio de longe), que se passa nos interiores do elizabetano palazzo onde tudo é ostentação. Vieram a seguir: Cerimônia secreta (Secret cerimony, 1968). No limiar da liberdade (Figures in a landscape, 1970), O mensageiro (The go-between, 71, Palma de Ouro em Cannes), O assassinato de Trotsky, 1973), Casa de bonecas (A doll's house), com Jane Fonda, baseado em Henrik Ibsen, Galileo (74), A inglesa romântica (The romantic englishwoman, 74), Cidadão Klein (76), Don Giovanni.

Em Cerimônia secreta, uma mulher (Mia Farrow, recém chegada de Rosemary's baby) adota uma prostituta (Elizabeth Taylor) como sua mãe. Segundo Losey, Secret cerimony é um filme sobre a terrível necessidade que os seres humanos têm uns dos outros e a incapacidade que todos temos de nos satisfazer." Moral da história: dois ratos caem num balde de leite. Um morre afogado. O outro debate-se a noite inteira e acorda na coalhada

A foto é de Cerimônia secreta, com Mia Farrow, logo depois de Rosemary's baby, ao lado de Elizabeth Taylor, que para muitos foi a última estrela do cinema.