Christopher Lee em O vampiro da noite (Horror of Dracula), de Terence Fisher
1) O cinema de
terror, passada a sua fase clássica, e de ouro (Drácula, com Bela Lugosi,
Frankenstein, com Boris Karloff etc), encontrou, nos anos 50, forte inspiração
na produtora inglesa Hammer, que preencheu os adoradores do gênero com filmes
de qualidade e certa sofisticação, a exemplo de O vampiro da noite (Horror of
Drácula), com o indefectível Christofher Lee. Quando da sua exibição em
Salvador, 1961, a
estratégia de marketing, quando ainda quase que não existia isso, foi perfeita.
Rigorosamente proibido para menores de 18 anos, um cartaz, em cima da
bilheteria, advertia os que compravam ingressos que o filme não era indicado
"para cardíacos e pessoas nervosas". O mais genial, no entanto, foi a
colocação de uma ambulância na porta do cinema com dois enfermeiros ao lado.
2) Os filmes que
trilham a linha de Sexta-feira 13 ou, mesmo, A hora do pesadelo não são
atraentes, porque se "alimentam" mais de efeitos especiais e sustos
intermitentes, a deixar de lado a tensão oriunda das sugestões. É verdade que
nos anos 80 tivemos "O exorcista", de William Frieklin, que é uma
obra de impressionante vitalidade como 'mise-en-scène.
3) Wes Craven
tentou a paródia do terrorífico em seus sucessivos "pânicos", com resultados
satisfatórios dentro dos limites do gênero. Mas o terror que põe o espectador
de sobressalto é aquele mais movido pelas sugestões, pela tensão psicológica,
com completo domínio formal da narrativa, da mise-en-scène, é preciso
repetir. Em O exorcista, por exemplo, a maior cena de terror, na
minha opinião, vem da montagem do momento em que a menina possuída está fazendo
exames, radiografias, a tomar injeções até na veia do pescoço. É uma sucessão
de ruídos de chapas batendo, de imagens cruas de um exame invasivo, enfim, a
conjunção imagem e som, que estabelece, na cena, uma impressionante, vá lá o
termo de novo, 'mise-en-scène'.
4) Não se pode
deixar de falar, em se tratando do gênero terror, dos clássicos do
expressionismo alemão, principalmente, Nosferatu, o vampiro (1922), de
Friedrich Wilhelm Murnau, com a estupenda performance de Max Schenk,
insuperável como o personagem título. Murnau, um dos maiores cineastas de todos
os tempos, teve morte prematura no alvorecer dos anos 30. Um acidente de
automóvel lhe tirou a vida. É autor de A última gargalhada, entre muitos
outros filmes excepcionais, como Aurora (Sunrise,
1927), que realizou nos Estados Unidos com a estética expressionista e que
François Truffaut considera o mais belo filme de todos os tempos.
5) Werner Herzog
realizou uma belíssima versão do clássico Nosferatu, de Murnau, com
Klaus Kinsky no papel do vampiro, e Bruno Ganz (excepcional ator alemão que
trabalhou em "O amigo americano", o melhor filme de Wim Wenders, e A
queda, no qual faz Hitler em interpretação assombrosa).
6) Vi, no
disquinho, Giallo, de Dario Argento, um dos mestres contemporâneos
do filme de terror. Giallo é uma expressão italiana para designar livrinhos de
bolso de terror e suspense baratos e editados em papel de má qualidade. Uma
espécie de pulp-ficcion. Argento, tal o seu domínio formal da narrativa, é um
mestre e "purifica" seus filmes com um derramamento estético de
sangue. É um diretor respeitado, ainda que mal compreendido - os ignorantes pensam
que é um diretor sensacionalista e barato sem atentar para a sua grande
capacidade de usar brilhantemente os elementos da linguagem cinematográfica.
7) Dario
Argento, além de ter em sua filmografia alguns cults do suspense e terror – o
cineasta Carlos Reichenbach (de saudosa memória) foi um apaixonado por sua
obra, foi um dos roteiristas do admirável Era uma vez no oeste (C’era uma
volta in West, 1968, de Sergio Leone.). Entre seus filmes mais aclamados,
encontram-se O pássaro das plumas de cristal (L'uccello
dalle piume di cristallo, 1970, obra de estréia no longa), O gato das nove
caudas (Il gatto a nove code, 1971), Suspiria, entre outros notáveis.
8) Em Giallo, Argento
procede de maneira a não dar ao espectador aquela sensação de “quem foi”, a
mostrar, já no primeiro terço do filme, o serial killer. O que Argento
procura, na verdade, é a angústia do homem perseguido e o acompanhamento, por
parte do público, da angústia do casal que o caça. Uma constante de Argento, os
traumas da infância, está presente em Giallo. A
modelo americana, Celine, é sequestrada, em Milão, durante uma semana na qual
participa de um desfile de moda, pelo serial killer conhecido como Giallo,
que faz, com extremado sadismo, suas vitimas passarem por um verdadeiro
calvário. Linda (Emmanuelle Seigner, linda, apesar do tempo no seu rosto), irmã
de Celine, deixa o assunto nas mãos do inspetor Enzo Lavia (Adrien Brody, o
“pianista” de Polanski, e, também, um dos produtores do filme), que deverá
encontrar a garota antes que ela sofra o terrível final das vitimas anteriores.
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Um comentário:
Os bons filmes de terror são como representações de nossos medos. Para quem sabe vê-los, funcionam como uma psicanálise não convencional.
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