Moscou contra 007, quando lançado (e, vejo no Imdb, que a sua estréia se deu primeiro
no Brasil em 27 de abril de 1964) se transformou num fenômeno de bilheteria.
Ninguém ficava indiferente a sua ação frenética, ao compasso da partitura
eletrizante de John Barry, às tiradas humorísticas, ao dínamo propulsor de sua
estrutura narrativa, envolvente.
Seus produtores Albert R.
Broccoli e Harry Saltzman não tinham ideia, quando lançaram Dr. No que o filme faria um sucesso sem
precedentes capaz de lhes estimular uma continuação, que foi este From Russia with love. Mas não
esperavam, mesmo cônscios do êxito deste, que o filme fosse além dos
prognósticos. Como aconteceu e a série se desdobrou em outras películas a
seguir. James Bond virou uma coqueluche.
Na época, a ideologia,
porém, imperava entre os estudantes. E Bond, agente secreto à serviço de sua
Majestade, não agradava à esquerda, que lhe fazia vista grossa. Recordo-me que,
na sala de espera do cinema onde estava sendo exibido, deparei-me, de repente,
com um militante que, ao me ver, desceu escada abaixo para se esconder no
banheiro. O que iriam dizer seus companheiros quando tomassem conhecimento que
ele estava a ver filme reacionário de James Bond?
Creio que o fascínio de
James Bond supera e está acima das ideologias. Devo fazer uma confissão agostiniana: adoro os filmes de James Bond – pelo
menos aqueles interpretados por Sean Connery e alguns com Roger Moore, ainda
que tenha visto com muito prazer o penúltimo Cassino
Royale, com Daniel Craig.
A apresentação, quando Bond,
ereto, pistola na mão, surge na tela do lado direito e caminha a seu meio e, de
repente, posta-se de frente e atira, caindo, na tela, uma tinta vermelha, é
espetacular e emocionante, com a música tema de John Barry.
Em From Russia with love,
inaugura-se o prólogo antes dos créditos. Steven Spielberg confessou, há algum
tempo, que sua grande frustração era a de nunca ter feito um filme de James
Bond. A séria Indiana Jones,
guardadas as suas diferenças, é uma tentativa de dar ao filme o ritmo frenético
das aventuras bondianas. Tanto é que
Spielberg, assim como nos filmes do agente secreto, também estabelece um
prólogo antes da apresentação dos créditos.
Em Moscou contra 007, o que se
passa antes dos letreiros iniciais embalados com a música From Russia with love, é um fake.
Bond (Sean Connery) persegue Robert Shaw (Red Grant), mas é derrotado com um
fio de aço por este. Morto, diante de um castelo exuberante, as luzes se
acendem com estrépito e vemos um homem tirar a máscara do derrotado que se
pensa ser James Bond. Em seguida, a emergência dos créditos, dando já ao filme
um impacto.
A Spectre planeja
decodificar os segredos nucleares da União Soviética e, para isso, conta com a
ajuda de uma mulher irascível e violenta (Lotte Lenya, que foi esposa de Kurt
Weil, autor, com Bertold Brecht, de A
ópera dos três vinténs) e seu fiel escudeiro Red Grant (Robert Shaw), homem
treinado para matar e destituído de qualquer sentimento de humanidade ou
compaixão. Precisa, no entanto, também, da ajuda de uma mulher (Daniela
Bianchi), disciplinada soviética que trabalha na embaixada de seu país sediada
na Turquia. Porque os ingleses também estão interessados nos segredos da União
Soviética, a Spectre pensa contar com a colaboração involuntária deles, mas
James Bond, convocado, entra em ação, desarma todo o esquema e, como é de
praxe, leva a bela Daniela Bianchi para a sua alcova íntima.
A luta final, entre Lotte
Lenya e Sean Connery é muito estimulante para aqueles que gostam do bom filme
de ação (atualmente os filmes de ação, honradas as exceções de praxe, são
rápidos e dentro da estética
do videoclip,que resultam pobres e ruins).
François Truffaut escreveu,
em seu extraordinário livro de entrevistas com Alfred Hitchcock, sobre a
influência imensa de Intriga
internacional (North by northwest, 1959) sobre todo o cinema do gênero thriller a partir dos anos 60, inclusive, disse
ele, toda a série de James Bond, cuja estrutura narrativa é bastante
influenciada pelo filme hitchcockiano. O que é verdadeiro.
Terence Young, o diretor,
inspira-se em Intriga
internacional. Vejam a luta no trem, por exemplo, entre Shaw e Connery. E
mais: a textura da mise-en-scène
advém da estrutura hitchcockiana de North
by northwest.
Baseado em Ian Fleming , assim
como todos Bonds-movies,
Moscou contra 007 é, segundo penso, o melhor de toda a série, porque um thriller bem ajustado sem as novidades que
viriam adornar os filmes posteriores.
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