O Clube de Cinema da Bahia foi fundado meses antes de meu nascimento. É, portanto, de minha idade, e idade provecta: 60 anos. Não o frequentei durante os anos 50, porque ainda menino, mas tive a oportunidade de assistir a quase todas as suas sessões a partir de meados da década de 60, quando Walter da Silveira (aqui em cima, na imagem, à esquerda, de terno branco e óculos ao lado de Nelson Pereira dos Santos) programava os filmes no saudoso cinema Guarany. Na época, estudante do Central, filava as aulas para ver as obras-primas selecionadas pelo também saudoso ensaísta. Walter distribuia folhetos sobre o filme em exibição. A sala ficava lotada, com gente saindo pelo ladrão. Transcrevo abaixo um texto que me foi enviado de autoria de Nélia Belchote, a secretária vitalícia das jornadas baianas.
"Fundado em 30 de maio de 1950, o Clube de Cinema da Bahia teve a sua exibição inaugural e posse da primeira diretoria na noite do dia 26 de junho no auditório da Secretaria de Educação e Saúde, no Corredor da Vitória, hoje Museu de Arte da Bahia, contando na ocasião com a presença do Titular da pasta, o Secretário Anísio Teixeira.
O Clube de Cinema da Bahia deu início a sua atividade cinematográfica com o clássico do cinema francês “Os Visitantes da Noite”, de Marcel Carné.
Para comemorar o acontecimento histórico de 60 anos passados o Clube de Cinema da Bahia em colaboração com a DIMAS está trazendo de volta o filme “Os Visitantes da Noite”, para exibição às 19 horas no próximo dia 19 de junho na Sala Walter da Silveira.
No mesmo espaço Walter da Silveira, que personifica a própria história do Clube, haverá a partir de 25 de junho, durante 10 dias sempre às 19 horas, exibição de uma retrospectiva de clássicos que marcaram duas fases do Clube de Cinema da Bahia.
SESSENTA ANOS DO CLUBE DE CINEMA DA BAHIA
Fundado em 1950, por ocasião do primeiro grande surto do movimento cineclubista no Brasil, o Clube de Cinema da Bahia realizou a sua primeira exibição às 20h no dia 26 de junho no auditório da antiga Secretaria de Educação e Saúde (hoje Museu de Arte da Bahia), gestão de Anísio Teixeira, no Corredor da Vitória, com o filme “Os Visitantes da Noite”, de Marcel Carné, contando com a presença de profissionais liberais, estudantes e publico em geral. Na ocasião houve a posse da primeira diretoria do Clube.
O Clube de Cinema da Bahia, que teve como figuras maiores o brilhante advogado, crítico e ensaísta Walter da Silveira e o Juiz e músico Carlos Coqueijo, desde os seus primórdios desempenhou um importante papel na vida cultural da capital baiana. Centro aglutinador de todos os baianos amantes da sétima arte, o Clube de Cinema da Bahia foi, ao lado da Universidade Federal da Bahia, uma fonte inspiradora que moldou os talentos artisticos, dando à Bahia na segunda metade dos anos 50 uma inusitada fermentação cultural.
Quase todos os cineastas baianos da época fizeram a sua iniciação cinematográfica nas sessões do Clube de Cinema, que pela primeira vez revelava ao público local as obras primas dos grandes mestres da cinematografia mundial.
Também nos anos do chamado ciclo de cinema baiano, iniciado em 1959 com “Redenção”, de Roberto Pires (primeiro longa-metragem baiano), coube ao Clube de Cinema da Bahia uma destacada atuação, como centelha de estímulo e fórum de debates para os jovens cineastas da terra.
Após o golpe de 1964 o movimento cineclubista brasileiro começa a enfrentar uma série de dificuldades, o que leva o Clube de Cinema a processar algumas modificações na sua estrutura de programação, surgindo então as primeiras experiências de Cinema de Arte na Bahia.
O recrudescimento da ditadura militar, com a implantação do AI-5 em dezembro de 1968, provoca por muitos anos um verdadeiro esmagamento do movimento cineclubista brasileiro. A conjuntura desfavorável e a doença e falecimento de Walter da Silveira impõem ao Clube de Cinema da Bahia a paralisação temporária.
Estimulado por amigos e vários componentes da sua derradeira diretoria, o Clube renasce em 1971, já agora sob a liderança de Guido Araújo. Acompanhando as transformações urbanísticas da capital baiana, o Clube de Cinema da Bahia que sempre teve seus momentos de glória no centro da cidade, passa a ter um novo apogeu em pleno bairro do Rio Vermelho.
Em 1974, com a Jornada Nacional de Cineclube no Paraná, que praticamente ressuscita o movimento paralisado desde a Jornada de 1969 em Brasília são lançadas as bases de uma nova política cineclubista no Brasil com a historica Carta de Curitiba. A partir daí, começa também a se processar uma grande transformação estrutural no Clube de Cinema da Bahia.
Na realidade, já em 1972, com o surgimento da Jornada Baiana de Curta Metragem, passa a existir uma maior aproximação e prioridade do Clube de Cinema da Bahia pela produção cinematográfica brasileira. Sem deixar de valorizar as grandes obras da cinematografia mundial, o Clube, contando então com o apoio logístico do ICBA, resolve dar um maior destaque ao cinema brasileiro.
Nesta fase, que corresponde ainda ao período obscurantista do Governo Médici, o Clube de Cinema da Bahia aproveita-se de uma relativa imunidade diplomática de que gozava o Instituto Goethe, para trazer à luz algumas obras relevantes das cinematografias nacional e internacional, desconhecidas do público baiano, pelos rigores da censura ou autocensura. Também nessa fase processa-se uma grande modificação no público, que se torna predominantemente jovem e universitário.
As dificuldades impostas pelo regime para o funcionamento normal dos cineclubes, obrigam estes a se munirem de todos os requisitos legais da burocracia estatal, para garantia de sua existência. Deste modo, o Clube de Cinema da Bahia, que até então tinha apenas o seu registro civil, se vê envolvido numa verdadeira batalha burocrática para se munir de CGC, ISS, registro na censura federal, registro no INC, depois CONCINE, etc.
Com o processo de abertura iniciado na segunda metade dos anos 70, a atividade cineclubista pouco a pouco deixa de ser vista como uma prática subversiva, permitindo assim o surgimento de um novo surto no movimento cineclubista brasileiro. Também na Bahia se manifesta esta transformação, possibilitando uma maior democratização do cineclubismo.
Neste contexto, o Clube de Cinema da Bahia exerce um papel orientador e de núcleo de apoio para os cineclubes emergentes. Isto levou o Clube a uma nova mudança estrutural, ou seja, em vez de ter um público cativo num lugar fixo para as suas programações regulares, o Clube passa a dar prioridade ao trabalho comunitário e junto com outras entidades leva o cinema até o povo, numa tentativa de formar novas platéias, particularmente para o filme brasileiro.
Em 1980 aproveitando as comemorações dos 30 anos da existência da entidade, o Clube de Cinema da Bahia apresenta uma programação mais rica e diversificada e além de receber o público nas suas tradicionais sessões em 16mm e 35mm, consolida a prática de ir ao encontro do público através de programações especiais em sindicatos, sociedades de bairros, comunidades de base, grêmios, clubes carnavalescos, diretórios acadêmicos, penitenciárias, etc.
Também ao completar o seu trigésimo aniversário o Clube de Cinema da Bahia teve oficialmente reconhecido o seu relevante trabalho cultural em prol da comunidade baiana, através da Lei Municipal nº 3095 de 19 de junho de 1980 e da Lei Estadual n° 3,813 de 1 de julho de 1980, caracterizando-o como órgão de utilidade pública.
Desde então, o principal objetivo almejado pelo Clube de Cinema da Bahia era possuir a sua sede própria com uma pequena sala de projeção para melhor servir como centro de apoio para os vários cineclubes baianos. O sonho do espaço próprio quase se torna realidade quando a Embrafilme, nos anos 80, contemplou o Clube no projeto de desmembramento e restauração do Cine Glauber Rocha. Contudo, ao se retirar da área de exibição, entregando de volta o Cine Glauber Rocha(antigo Guarani) à Bahiatursa, que por sua vez o entregou de mão beijada para exploração a Art Filmes, o Clube de Cinema da Bahia viu morrer as suas esperanças de uma sede permanente.
Nos anos 90, na época do triste governo Collor, o Clube de Cinema da Bahia voltou a hibernar, só saindo da letargia, vez por outra, em virtude da Jornada Internacional de Cinema da Bahia.
Em 2008 a iniciativa do Conselho Nacional de Cineclubes de comemorar os 80 anos da presença do movimento cineclubista no Brasil e a concessão do prêmio Paulo Emílio Salles Gomes a Guido Araújo, como reconhecimento de uma vida dedicada à causa cineclubista, cinéfilos interessados no renascimento da entidade, onde pontificam novos e antigos participantes, foram fatores decisivos para que o Clube de Cinema da Bahia retomasse a sua plena atividade como elemento propulsor da cultura cinematográfica em território baiano. Foi realizada Assembléia para a reforma do antigo estatuto, adaptando-o ao código civil de 2002, adotou-se um novo perfil da entidade, transformando-a em associação e foi eleita a nova diretoria, sendo hoje o principal suporte legal para a realização da Jornada Internacional de Cinema da Bahia."
Nélia Belchote
O Clube de Cinema da Bahia deu início a sua atividade cinematográfica com o clássico do cinema francês “Os Visitantes da Noite”, de Marcel Carné.
Para comemorar o acontecimento histórico de 60 anos passados o Clube de Cinema da Bahia em colaboração com a DIMAS está trazendo de volta o filme “Os Visitantes da Noite”, para exibição às 19 horas no próximo dia 19 de junho na Sala Walter da Silveira.
No mesmo espaço Walter da Silveira, que personifica a própria história do Clube, haverá a partir de 25 de junho, durante 10 dias sempre às 19 horas, exibição de uma retrospectiva de clássicos que marcaram duas fases do Clube de Cinema da Bahia.
SESSENTA ANOS DO CLUBE DE CINEMA DA BAHIA
Fundado em 1950, por ocasião do primeiro grande surto do movimento cineclubista no Brasil, o Clube de Cinema da Bahia realizou a sua primeira exibição às 20h no dia 26 de junho no auditório da antiga Secretaria de Educação e Saúde (hoje Museu de Arte da Bahia), gestão de Anísio Teixeira, no Corredor da Vitória, com o filme “Os Visitantes da Noite”, de Marcel Carné, contando com a presença de profissionais liberais, estudantes e publico em geral. Na ocasião houve a posse da primeira diretoria do Clube.
O Clube de Cinema da Bahia, que teve como figuras maiores o brilhante advogado, crítico e ensaísta Walter da Silveira e o Juiz e músico Carlos Coqueijo, desde os seus primórdios desempenhou um importante papel na vida cultural da capital baiana. Centro aglutinador de todos os baianos amantes da sétima arte, o Clube de Cinema da Bahia foi, ao lado da Universidade Federal da Bahia, uma fonte inspiradora que moldou os talentos artisticos, dando à Bahia na segunda metade dos anos 50 uma inusitada fermentação cultural.
Quase todos os cineastas baianos da época fizeram a sua iniciação cinematográfica nas sessões do Clube de Cinema, que pela primeira vez revelava ao público local as obras primas dos grandes mestres da cinematografia mundial.
Também nos anos do chamado ciclo de cinema baiano, iniciado em 1959 com “Redenção”, de Roberto Pires (primeiro longa-metragem baiano), coube ao Clube de Cinema da Bahia uma destacada atuação, como centelha de estímulo e fórum de debates para os jovens cineastas da terra.
Após o golpe de 1964 o movimento cineclubista brasileiro começa a enfrentar uma série de dificuldades, o que leva o Clube de Cinema a processar algumas modificações na sua estrutura de programação, surgindo então as primeiras experiências de Cinema de Arte na Bahia.
O recrudescimento da ditadura militar, com a implantação do AI-5 em dezembro de 1968, provoca por muitos anos um verdadeiro esmagamento do movimento cineclubista brasileiro. A conjuntura desfavorável e a doença e falecimento de Walter da Silveira impõem ao Clube de Cinema da Bahia a paralisação temporária.
Estimulado por amigos e vários componentes da sua derradeira diretoria, o Clube renasce em 1971, já agora sob a liderança de Guido Araújo. Acompanhando as transformações urbanísticas da capital baiana, o Clube de Cinema da Bahia que sempre teve seus momentos de glória no centro da cidade, passa a ter um novo apogeu em pleno bairro do Rio Vermelho.
Em 1974, com a Jornada Nacional de Cineclube no Paraná, que praticamente ressuscita o movimento paralisado desde a Jornada de 1969 em Brasília são lançadas as bases de uma nova política cineclubista no Brasil com a historica Carta de Curitiba. A partir daí, começa também a se processar uma grande transformação estrutural no Clube de Cinema da Bahia.
Na realidade, já em 1972, com o surgimento da Jornada Baiana de Curta Metragem, passa a existir uma maior aproximação e prioridade do Clube de Cinema da Bahia pela produção cinematográfica brasileira. Sem deixar de valorizar as grandes obras da cinematografia mundial, o Clube, contando então com o apoio logístico do ICBA, resolve dar um maior destaque ao cinema brasileiro.
Nesta fase, que corresponde ainda ao período obscurantista do Governo Médici, o Clube de Cinema da Bahia aproveita-se de uma relativa imunidade diplomática de que gozava o Instituto Goethe, para trazer à luz algumas obras relevantes das cinematografias nacional e internacional, desconhecidas do público baiano, pelos rigores da censura ou autocensura. Também nessa fase processa-se uma grande modificação no público, que se torna predominantemente jovem e universitário.
As dificuldades impostas pelo regime para o funcionamento normal dos cineclubes, obrigam estes a se munirem de todos os requisitos legais da burocracia estatal, para garantia de sua existência. Deste modo, o Clube de Cinema da Bahia, que até então tinha apenas o seu registro civil, se vê envolvido numa verdadeira batalha burocrática para se munir de CGC, ISS, registro na censura federal, registro no INC, depois CONCINE, etc.
Com o processo de abertura iniciado na segunda metade dos anos 70, a atividade cineclubista pouco a pouco deixa de ser vista como uma prática subversiva, permitindo assim o surgimento de um novo surto no movimento cineclubista brasileiro. Também na Bahia se manifesta esta transformação, possibilitando uma maior democratização do cineclubismo.
Neste contexto, o Clube de Cinema da Bahia exerce um papel orientador e de núcleo de apoio para os cineclubes emergentes. Isto levou o Clube a uma nova mudança estrutural, ou seja, em vez de ter um público cativo num lugar fixo para as suas programações regulares, o Clube passa a dar prioridade ao trabalho comunitário e junto com outras entidades leva o cinema até o povo, numa tentativa de formar novas platéias, particularmente para o filme brasileiro.
Em 1980 aproveitando as comemorações dos 30 anos da existência da entidade, o Clube de Cinema da Bahia apresenta uma programação mais rica e diversificada e além de receber o público nas suas tradicionais sessões em 16mm e 35mm, consolida a prática de ir ao encontro do público através de programações especiais em sindicatos, sociedades de bairros, comunidades de base, grêmios, clubes carnavalescos, diretórios acadêmicos, penitenciárias, etc.
Também ao completar o seu trigésimo aniversário o Clube de Cinema da Bahia teve oficialmente reconhecido o seu relevante trabalho cultural em prol da comunidade baiana, através da Lei Municipal nº 3095 de 19 de junho de 1980 e da Lei Estadual n° 3,813 de 1 de julho de 1980, caracterizando-o como órgão de utilidade pública.
Desde então, o principal objetivo almejado pelo Clube de Cinema da Bahia era possuir a sua sede própria com uma pequena sala de projeção para melhor servir como centro de apoio para os vários cineclubes baianos. O sonho do espaço próprio quase se torna realidade quando a Embrafilme, nos anos 80, contemplou o Clube no projeto de desmembramento e restauração do Cine Glauber Rocha. Contudo, ao se retirar da área de exibição, entregando de volta o Cine Glauber Rocha(antigo Guarani) à Bahiatursa, que por sua vez o entregou de mão beijada para exploração a Art Filmes, o Clube de Cinema da Bahia viu morrer as suas esperanças de uma sede permanente.
Nos anos 90, na época do triste governo Collor, o Clube de Cinema da Bahia voltou a hibernar, só saindo da letargia, vez por outra, em virtude da Jornada Internacional de Cinema da Bahia.
Em 2008 a iniciativa do Conselho Nacional de Cineclubes de comemorar os 80 anos da presença do movimento cineclubista no Brasil e a concessão do prêmio Paulo Emílio Salles Gomes a Guido Araújo, como reconhecimento de uma vida dedicada à causa cineclubista, cinéfilos interessados no renascimento da entidade, onde pontificam novos e antigos participantes, foram fatores decisivos para que o Clube de Cinema da Bahia retomasse a sua plena atividade como elemento propulsor da cultura cinematográfica em território baiano. Foi realizada Assembléia para a reforma do antigo estatuto, adaptando-o ao código civil de 2002, adotou-se um novo perfil da entidade, transformando-a em associação e foi eleita a nova diretoria, sendo hoje o principal suporte legal para a realização da Jornada Internacional de Cinema da Bahia."
Nélia Belchote
Um comentário:
Como eram bons os cineclubes! Quanta gente saiu deles para fazer cinema?
Quantos debates, quantas polêmicas!
Quantos críticos e experts em cinema saíram de suas salas? Inclusive você, professor!
Coisa de um tempo que não existe mais. Será que não dava para se alugar uma loja num shopping da vida e ver no quê que dá. Ou será perda de tempo?
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