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15 janeiro 2008

A angústia da influência

Todos nós somos influenciados pelo que lemos, pelo que vemos, enfim, pela cultura pretérita, como bem analisou o crítico americano Harold Bloom em A angústia da influência. Assim, sem que se possa tirar o mérito de grandes cineastas, há, por exemplo, influências marcantes de vários realizadores em Deus e o diabo na terra do sol, de Glauber Rocha, talvez a obra-prima definitiva do cinema brasileiro. Na exploração dos grandes espaços, lembra John Ford, a matança dos beatos, Eisenstein, o rodopio e a gestualística de Corisco, Kurosawa. E em Terra em transe os touchs de Orson Welles e de Jean-Luc Godard estão claros, assim como também bebeu Rogério Sganzerla nestes dois para realizar seu monumento que é O bandido da luz vermelha,

Mas quando se vê, por exemplo, A marca da maldade (Touch of evil, 1958), de Orson Welles, com Janet Leigh trancada naquele hotel isolada e acossada por gente de todo tipo, há um elo com Psicose (1960), de Hitchcock, que, sugere-se, deve tê-la visto na fita de Welles e teve a idéia de a convidar para Psycho, que, nem por isso, deixa de ser a obra-prima que é.

E se se vai verificar o uso funcional da cor vermelha em A tortura do medo (Peeping Tom, 1960), de Michael Powell, que, infelizmente vai sair em DVD por uma subsidiária da Continental que se caracteriza pelas cópias escuras e impiedosas na destruição das imagem de um filme, dá para pensar que Hitchcock também bebeu nas águas powellianas para fazer o vermelho ser acionado na atmosfera de Marnie (1964).

A imagem de Janet Leigh, após ser esfaqueada, a tomar sua ducha no chuveiro do hotel de Norman Bates, é um ícone do cinema do século XX. A primeira impressão que se teve de Psycho, ainda nos anos 60, foi de profundo impacto emocional e psicológico. Lembra-se, o autor deste blog, que, numa viagem ao Rio, época do lançamento de Psicose, as filas dobravam quarteirões. O filme foi, e ainda é, uma sensação. Obra para ser reverenciada. O autor deste blog considera um crime o que fez Gus Van Sant ao ter a ousadia de um remake dessa catedral (com a devida licença de Romero para uso do vocábulo). O resultado, de tão medíocre, determinou uma queda do cineasta no conceito do escrevinhador destas porcarias. Mesmo que tenha Van Sant feito, depois, uma obra como Elephant.

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro Setaro, se não me engano( e acredito que não) foi Bloom quem disse que, na literatura, só existem mesmo Homero, Shakespeare e o autores da Bíblia( antigo e novo testamentos).Dai para a frente o que se produz são variações sobre os escritos desses autores. Faz sentido. No cinema, baseado em mais um inteligente post do blog, vejo que é possível estabelecer o mesmo raciocínio, mas (como você já destacou) , nunca é demais lembrar que essas influencias não diminuem a obra influenciada, ao contrário esses filmes e livros ampliam e dão nova dimensão ao que já foi dito pretéritamente por esses iluminados autores.
O caso de Van Sant não se enquadra aqui pois trata-se de (péssima) cópia.