Sim, sei que o Bertolucci mais considerado é O conformista, e, para outros, Antes da revolução (Prima della rivoluzione). Sei também que O céu que nos protege (The sheltering sky, 1990) não é tão citado como deveria e muitos até o desconhecem. Mas para mim é o maior filme de Bernardo Bertolucci.
Aliás, quando da morte simultânea de Bergman e Antonioni, cheguei a dizer que o cinema tinha morrido, a me lembrar, com esforço, de algum realizador notável ainda a restar na face da Terra. Alain Resnais e Jean-Luc Godard foram os dois que a memória conseguiu lembrar, ainda que o segundo seja insuportável em seus últimos filmes. Mas coloco aqui o nome de Bernardo Bertolucci, realizador admirável, com profundo sentido de mise-en-scène.
Que se veja, por exemplo, a abertura com os créditos de The sheltering sky, montagem de arquivos de filmes que mostram a vida urbana dos anos 50 nos Estados Unidos com uma partitura que revela uma música a ser exercutada por um pianista. A união dessa partitura com a montagem das imagens de arquivo é extraordinária. Para iniciar um filme que se passa na África. É bem verdade que a ação transcorre em 1947.
A iluminação é de um artista: Vittorio Storaro. Uma lição de fotografia cinematográfia. A luz é determinante na composição da estrutura audiovisual de The sheltering sky. Como uma obra-prima como esta pôde ser ignorada pela crítica? Ou, se não ignorada, não mereceu, no entanto, os loiros devidos a um trabalho de mestre, a uma obra de mestre. Bertolucci é, realmente, um cineasta fora de série e acima da média. Estou a esperar para rever O pequeno Buda.
Mesmo em seus filmes menores, a exemplo de A tragédia de um homem ridículo (La tragedia de un uomo ridiculo), com Ugo Tognazzi, há sempre um touch especial, uma maneira particular de postar em cena. Aquele baile no final de O conformista é magnífico - creio que Bertô se inspirou na dança de Cinzas de diamantes, de Wajda. Mas isso não tem importância.
Mas no momento o que mais me fascina Bernardo Bertolucci é The sheltering sky.
3 comentários:
Eu reconheço os méritos de O Céu Que Nos Protege, mas, numa confissão: mesmo contando com os clássicos dele (os que vi, claro), acho que Assédio é imbatível.
Questão subjetiva. O filme que melhor me 'fala' é 'O céu que nos protege',e, quanto a você, entre os filmes vistos de Bernardo Bertolucci, é 'Assédio'.
O Céu que Nos Protege é o único Bertolucci que eu considero realmente bom entre os que ele fez após O Conformista. Mas nunca consegui ver A Tragédia de um Homem Ridículo.
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