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29 dezembro 2007

Feliz Ano Novo

2007, para mim, foi uma desgraça. Mas a vida continua. Claro que não vou relatar aqui meus problemas pessoais (domésticos, existenciais, e de saúde). Mas nem por isso, et pour cause, vou ficar a me lamentar, mas, au contraire, desejar a todos os que têm a coragem de ler estas mal traçadas um Ano Novo cheio de paz, tranquilidade, e, principalmente, bons e excelentes filmes. Talvez em 2008 venha a entrar para a famigerada Confraria dos Baixistas e, para isso, estou a equipar minha carroça, quero dizer, meu computador, que, a falar a verdade, não anda lá muito bem das pernas.
Salvador, onde me escondo da vida, não cresceu, mas ficou inchada. Não se pode mais transitar na urbis e tudo se concentra nos shoppings centers - e, nestes, tudo é igual em qualquer lugar do mundo. A Bahia, para mim, era o centro histórico, a Praça da Sé, a rua Chile, a rua Carlos Gomes, a Praça da Piedade, o Comércio, a Cidade Baixa. Morar no Jardim Apipema, onde moro, é morar em qualquer bairro de qualquer cidade brasileira. Assim como Itaigara e assemelhados. A chamada cultura baiana é uma cultura de aluguel, e se comparada a dos anos 50 e 60 patente está uma regressão cultural imensa. Um andar para trás. Não acredito, portanto, instalado o caos atual, que se possa, em 2008, andar para frente. Há, sim, neste Feliz Ano Novo do título do post um certo sabor amargo e irônico. Mas não se deve perder a esperança, não é mesmo?
O Carnaval, industrializado, excluiu o povo de sua folia. O espaço do asfalto, pelo menos, no point alto da folia momesca, se encontra reservado para a esbórnia dos camarotes de luxos e para os insuportáveis trios elétricos a conduzir uma fileira de blocos para os quais somente têm acesso quem compra um tal de abadá pelos olhos da cara. Conheço gente que compra seu abadá em prestações mensais, a pagar o ano todo, para poder sair nos famigerados blocos, e a venda começa, por incrível que pareça, logo na quarta de cinzas, quando os impertinentes ainda ficam a pular sem querer acreditar que o Carnaval acabou. Mas gostava do antigo Carnaval, quando se instalava no centro histórico, quando era mais harmonioso, mais romântico. Nostalgia? Talvez.
O pior é que, a morar perto do miolo da folia, estou condenado a presenciá-la. Sinto no ar a excitação das pessoas, animadas, barulhentes, deseducadas. E o Carnaval já se encontra às portas, pois no próximo ano vai começar no final de janeiro. Gostaria de estar em Marte.
A foto ao lado é do bloguista, antes de seu heart attack, quando reclamava de um bar a proibição de fumar.

7 comentários:

Anônimo disse...

Caro Setaro, se depender da minha vontade você vai durar tanto quanto a muralha da China. Ajuste a máquina e seja bem vindo à Confraria( na verdade um termo abstrato pois nem sei mesmo onde essa tal Confraria funciona). Que 2008( uma miragem como 2007 e todos os outros anos)lhe seja leve.
Obrigado pelas postagens inteligentes e cheias de tiradas irônicas. Que continue sempre assim.

Stela Borges de Almeida disse...

Em 2007, após ouvir o Professor Setaro em excelente debate no TCA, no Festival Internacional de Cinema, procurei conhecer seus textos e suas idéias sobre cinema. Virou meu gurú, passo sempre pelo Setaro's Blog e colunas de jornais e revistas onde sei que êle escreve, descobri que além da fina ironia e de um humor que lhe é peculiar, êle tem uma memória impressionante! Um Novíssimo Ano Professor.

Anônimo disse...

André,
Um 2008 iluminado para você. Um dos grandes acontecimentos para mim foi a criação da página dos homens no Mulheres do Cinema Brasileiro. Afinal, é um deleite ter textos lindos lá, como o seu, do Carlão, do Sternheim, e de tantos outros.
Felicidades mil.
Adilson Marcelino
www.mulheresdocinemabrasileiro.com

André Setaro disse...

Obrigado Adilson Marcelino, Stela Borges, e Romero Azevero, três investigadores da arte do filme, três amantes do bom cinema. Adilson tem um site muito bom sobre as mulheres no cinema brasileiro, que é o melhor da web na sua especialidade. Stela também é bloguista. Já Romero, professor de cinema na Paraíba, é um cinéfilo voraz, mas não no sentido de fã, de maníaco, de fanático. É que sua percepção do cinema extrapola a do filme assistido para o situar no tempo e no espaço de sua existência. Lembra-se a posição do lugar em que ficou sentado, da sessão, da sala exibidora onde o assistiu. Também se recorda da temperatura que fazia quando viu o filme, se estava a chover ou o dia em sol a pino. E percebe, no filme, tudo que o compõe. E sua memória é incrível. Atualmente, ponho-me a observar, a nova geração pensa que o cinema começou nos anos 80 e que o primeiro filme da história das imagens em movimento é "Blade Runner" E está a surgir uma outra, que tem como ponto de partida "Matrix". O que posso pensar de tudo isso? Reservo-me ao silêncio para não ferir susceptibilidades.

Carlos Siqueira Campos disse...

O ano passado eu não passei em Marienbad, mas fiz questão de dizer a minha companheira que uma mulher é uma mulher. Aqui para nós: este negócio de passagem de ano é pura convenção, como diz o autor deste blog cristalino. Recuso-me a dar boas festas aos outros ou a desejar feliz ano novo. Mas também não desejo que o ano seja ruim para ninguém. Pessoa esquisita, plena de idiossincracias, vivo na minha redoma, com minha família nuclear no máximo, e nos contatos exteriores (trabalho - sou professor de música) procuro apenas ser cortês e bem educado. Penso com Sartre no seu Huis Clos: "O inferno são os outros". Obrigado a entrar num insuportável amigo secreto, na escola onde dou aula de música erudita, sofri o diabo, mas uma alma caridosa, minha esposa, comprou um presente. Mas, afinal de contas, o que recebi de meu "amigo secreto" foi uma televisão de plástico que passa algumas imagens desgraciosas, à maneira da teconologia que permite estas bobagens. Papai Noel é uma bela farsa. E Deus existe?
Dei-me conta que estou a fazer estas reflexões em blog mais afeito às coisas da sétima arte. Mas seu moderador de comentários, exercido com força por Setaro, me permitir, vocês estarão a ler este pequeno comentário anti-natalino e anti-cristão. Embora descrente de tudo, até de mim - será que existo mesmo?, passo o dia a ouvir Bach, e quando o ouço chego a pensar que Deus existe. Puro efeito da genialidade do compositor, que eleva tanto a gente.
Bem, em relação aos filmes, minha lista é a seguinte:
1)A RAINHA, de Stephen Frears
2)PIAF
3)A CONQUISTA DA HONRA, de Clint Eastwood
4)A COMÉDIA DO PODER, de Claude Chabrol
5)CRIMES DE AUTOR, DE Claude Lelouch.

Alessandra disse...

Há um certo ar de superioridade vindo do autor em Santiago, apesar de a impressão ser de reflexão, de estar se psicanalizando sobre o seu ofício de documentarista. Na verdade, João Moreira Salles não é nenhum 'franciscano': ele quer se fazer parecer um autor acima dos outros, porque, inclusive, adota a atitude 'franciscana' da 'mea culpa'. Não é o caso de Jogo de Cena, que André Setaro falhou ao não o ter citado entre os melhores filmes brasileiros do período. Coutinho se assume como é, bom como um cineasta, e assustadoramente perfeito quando quer tensionar, como em Jogo de Cena, a tensão da realidade e do documentário, da ficção e daquilo que não é ficção.

Anônimo disse...

Amigo Setaro, leitura obrigatória na blogosfera: que a inteligência triunfe contra a "MIDIOcridade" em 2008, são os desejos utópicos de seu admirador

abraços
Janot