1) Cartaz de Pierrot, le fou, de Jean-Luc Godard, um dos momentos mais sublimes da caligrafia de seu autor. Realizado em 1965, seis anos depois de Acossado (A bout de souffle, 1959), há, nele, um quê de sequência deste pelo menos a julgar pelo seu personagem interpretado por Jean-Paul Belmondo - não seria Michel Poiccard redivido? Ao contrário de Acossado (em preto e branco standart), Pierrot, le fou é em cinemascope e colorido (com um uso fantástico da cor em cinema). A sua estrutura narrativa é construída em solavancos, com o futuro se adiantando ao presente. Pierrot, le fou está entre os meus preferidos do cineasta franco-belga, que revolucionou a linguagem cinematográfica nos poderosos anos 1960. No Brasil, tomou o nome de O demônio das onze horas, um título esdrúxulo e dispensável. Pior foi o que fizeram com Persona (1966), de Ingmar Bergman. O filme, sobre a identificação de duas mulheres, que não registra lesbianismo, foi chamado de Quando duas mulheres pecam. Um absurdo!
2) Lembro-me que, no lançamento deste Bergman, o cinema ficou lotado para estupefação do próprio exibidor. Mas, durante o transcorrer da sessão, muita gente se levantou e foi embora. O título de Quando duas mulheres pecam atraiu aqueles ansiosos pelo sexo e, constatando a sua inexistência, saíram, em boa hora, da sala de projeção. Também a época ainda conservava uma certa restrição à exploração da temática sexual. Há o caso de O Túmulo do sol (Taiyo no hakaba, 1960), de Nagissa Oshima, que Walter da Silveira o exibiu numa sessão da meia-noite. Por ser neste horário, os soteropolitanos vieram a pensar que se tratasse de filme de muita putaria. Filas quilométricas já se estabeleciam diante do cinema (foi no antigo e saudoso Guarany) desde as 11 da noite. Ao começar a sessão, o cinema tinha gente saindo pelo ladrão. O filme, uma obra-prima do cinema nipônico, é poético e não trata de sexo. Iniciada a sessão, a platéia, furiosa, começou a gritar e, já no meio, a cortar as poltronas.
O prejuízo foi enorme. O exibidor desistiu de continuar com as sessões de meia-noite. Que seriam programadas pelo Clube de Cinema da Bahia.
2 comentários:
É mesmo difícil, difissílimo, apontar o melhor dos filmes citados no 'post' acima.
Mas "Pierrot les fous", talvez pela maturidade do autor/realizador reflete o peso doa anos em sua aprendizagem rumo ao futuro... Daí portanto, tantos 'flashs' de uma memória pré estabelecida no amanhã!
A historinha do filme exibido por Walter da Silveira é fenomenal (um perâmbulo baiano)!
Por acaso tem visto Lauritônio? Estou em falta com ele, apesar de que a vida lhe deve mais ainda...
Lauritônio está com dengue. Ofereci-lhe uma transferência para o Hospital Aliança, mas prefere ficar na sua 'casa'. É muito teimoso, um 'pierrot, le fou' sem a presença de Godard.
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