O projeto Quartas Baianas está a completar cinco anos de existência. Na próxima quarta, será exibido Viagem ao fim do mundo (veja comentário abaixo), de Fernando Cony Campos, cineasta maldito pelas injunções de sua personalidade. Vou aqui transcrever o release que me foi enviado, que esclarece melhor o assunto.
O projeto Quartas Baianas comemora cinco anos de existência bem-sucedida no próximo dia 6 de maio, com evento no foyer e na Sala Walter da Silveira. A celebração inicia às 19h com o Café & Cinema, um bate-papo informal entre cinéfilos com degustação da apreciada bebida e de sequilhos. Em seguida, o crítico de cinema André Setaro e o realizador Felipe Kowalczuk tecem comentários sobre o filme Viagem ao Fim do Mundo, de Fernando Coni Campos, obra que será exibida às 20 horas, na Sala Walter da Silveira, com entrada franqueada ao público, como é o costume.
Criado para divulgar, através de exibições gratuitas e regulares a cada semana no cinema de arte mais antigo e tradicional de Salvador, a produção cinematográfica baiana, a realizada por diretores, atores e técnicos baianos ainda que não realizados na Bahia ou mesmo de produção de fora, mas com locação na “boa terra”, o projeto persiste em seu propósito inicial, fortalecido pela parceria entre a Diretoria de Audiovisual (Dimas), da Fundação Cultural do Estado da Bahia, e a Associação Baiana de Cinema e Vídeo (ABCV) e seus contumazes apoiadores Irdeb e Oriente Filmes.
O cineasta Joel de Almeida, que junto ao fotógrafo Lúcio Mendes coordenam o projeto, esclarece que ele “nasceu com o objetivo de poder mostrar ao público baiano que se renova a cada ano nas salas de cinema, um pouco do acervo que existia na Dimas de filmes em 16mm e 35mm e que ninguém conhecia”. Outro aspecto que Joel levanta “é que com a retomada do cinema brasileiro e advento das novas tecnologias, a produção cinematográfica baiana vem crescendo geometricamente e o projeto Quartas Baianas se firma como mais uma janela de exibição da produção local passada e contemporânea, inclusive com lançamentos de filmes”.
A iniciativa de implantar o Quartas Baianas partiu de conversas da diretoria da ABCV antes das reuniões semanais, até que José Araripe Jr, ex-diretor do Centro Técnico de Audiovisual (CTAV) do Ministério da Cultura (Minc), atuando hoje numa das gerências da TV Brasil e, à época, presidente da associação, levou a idéia para a diretoria da Dimas. “Poucas semanas depois, a idéia estava em prática”, recorda Joel.
Em cinco anos de realização, o Quartas Baianas atraiu aproximadamente 11 mil pessoas (10.784 exatamente) para a exibição de 250 programas diferenciados, incluindo longas e curtas metragens, documentários e obras ficcionais, além de eventualmente lançamentos de filmes inéditos, assim como esclarecedores comentários de especialistas sobre as obras em cartaz, integrando as sessões. A freqüência média é de 43,13 telespectadores por programa, o que configura um quantitativo nada desprezível para filmes que, freqüentemente, não dispõem dos esquemas massivos de divulgação que sustentam produções em circulação nos circuitos comerciais.
Os coordenadores do projeto Lúcio Mendes e Joel de Almeida escolhem a programação seguindo critérios que correspondem a programas temáticos, programas que coincidem com datas históricas, comemorativas, aniversários e homenagens a realizadores, atores, técnicos, entre outras pautas sugeridas pelos profissionais da área.
Os programas das Quartas Baianas despertam interesse não só dos cineastas veteranos e já estabelecidos, mas de público de trabalhadores em trânsito para a Estação da Lapa, como também de estudantes freqüentadores da Biblioteca Pública e universitários interessados na sétima arte, sobretudo os alunos e recém-graduados em cinema da FTC, que costumam fazer os lançamentos de seus filmes em sessões especiais, lotando a casa de seus jovens amigos e admiradores. Exemplo é o estudante Son Araújo, que lançou em edições bem movimentadas das Quartas Baianas, na Sala Walter da Silveira, os filmes de curta-metragem O Foco, Carrinho de Pau e A Fuga.
Tratando de obras inéditas, da dupla de diretores Gabriel Lopes Pontes e Tau Tourinho, estreou numa das versões do projeto o filme Incarcano a Tiortina, que trata de um certo “heroísmo” do consumo de cachaça. E é com essa diversidade temática, frescor, vigor, pluralidade estética que as democráticas Quartas Baianas vieram atravessando o último qüinqüênio, estimulando a participação e acesso do público com sessões gratuitas.
Entre os momentos mais destacados do projeto figura a exibição do filme A Grande Feira, de Roberto Pires, ocasião em que foi homenageado o ator baiano Milton Gaúcho, que compareceu emocionado à sessão, sendo recebido com flores e calorosos aplausos do público, que lotou a sala cult dos Barris. Foi a última aparição do ator numa sala de exibição, pois veio a falecer pouco tempo depois.
Destaca-se também como momento relevante do projeto a exibição do documentário Bahia Por Exemplo, de Rex Schindler, em que o público se deliciou com imagens belíssimas de Salvador nos anos 60, aspectos que não existem mais fora de registros captados no passado, além de preciosos depoimentos de personalidades (artistas e escritores), que ajudaram a construir um pouco da popularidade da cidade.
A diretora da Dimas Sofia Federico avalia que há muito a celebrar nesses cinco anos. “Ao longo desse tempo, a Sala Walter da Silveira vem exibindo filmes baianos de épocas diversas, produzidos por realizadores de várias gerações, nos territórios de identidade da Bahia”. Sofia considera que “as sessões são agregadoras, promovem encontros e intercâmbio, e possibilitam ao público o acesso à produção audiovisual baiana”. Outro aspecto importante, segundo destaca, é que o projeto permitiu formar um acervo. “Este é um projeto essencialmente de difusão audiovisual, mas também de memória e sensibilização de público. Espero que tenha vida longa!”.
Dia 6 de maio, às 20h – Sessão especial de comemoração de 5 anos do projeto Quartas Baianas, com exibição do filme Viagem ao Fim do Mundo Direção: Fernando Coni CamposFicção. 95 min, 1968.
Elenco: Karin Rodrigues, Anik Malvil, Jofre Soares, Talula Campos, Fabio Porchat, Walter Forster e José Marinho
Sinopse - Diversos personagens embarcam em um avião: um time de futebol, um "cartola", um velho decrépito, um grupo de freiras e uma garota propaganda. Sonhos, delírios, reflexões e situações concretas relacionam, ou não, um indivíduo a outro. Cenas de arquivo com guerras, fome e romarias religiosas intercalam-se a uma mítica mulher Natureza.
Ascom – Dimas – Funceb
Tels: 3116-8123 / 3116-8111
Email: fabarretto@gmail.com
www.dimas.ba.gov.br Depoimentos de cineastas sobre o projeto ‘Quartas Baianas’
CINEASTAS BAIANOS FALAM SOBRE O PROJETO
“Quero felicitar o projeto Quartas Baianas pelos seus cinco anos de existência, ao longo dos quais apresentou-nos um saldo extremamente positivo na divulgação do audiovisual produzido em nossa terra. Trata-se de uma oportunidade de se conhecer os talentos emergentes, estimulando a moçada a investir na atividade, certo de que seu produto será visto por uma plateia cada vez mais atenta e crítica em relação ao audiovisual local. Por outro lado, o projeto incentiva justamente a formação de um público que saberá valorizar devidamente o cinema regional, a partir do conhecimento de seus problemas no nascedouro, e pelo acompanhamento da evolução desse mesmo produto. Nesse sentido, podemos mencionar a formação de novos profissionais e a formação de público entre as principais virtudes do projeto. Entre os momentos de destaque do projeto, não posso deixar de me referir a exibição de filmes como Meteorango Kid, Herói Intergalático, em que presenciei a emoção de jovens talentos se encontrarem com este filme seminal do novo cinema baiano pós Glauber; e, sem falsa modéstia, a exibição de Superoutro, de minha autoria, que segue a mesma linha anarquista e irreverente do cinema de André Luiz Oliveira.
Por todos os motivos citados, acho que o Quartas Baianas é um projeto que deve ter sua continuidade assegurada pela atual administração, bem assim pelas administrações futuras da cultura no Estado”.
Edgard Navarro (diretor de Eu Me Lembro, Superoutro e em fase de realização de O Homem Que Não Dormia)
e-mail: edgardnavarro@terra.com.br
"O que a Associação Baiana (ABCV) fez ao criar o Quartas Baianas foi dar o passo para a primeira filmografia do século I do cinema baiano, a sessão semanal além de atualizar o público da produção contemporânea e histórica, cumpre um papel fundamental de dar visibilidade à produção interna, trazendo à tona uma realidade que surpreende e diz: Yes, nos temos filmes! - e nesse espaço mais de 400 obras já foram desengavetadas, possibilitando a pesquisadores e críticos uma leitura mais ampla, e principalmente unindo os realizadores e elevando a auto-estima. Ponto pra a Dimas, que sempre acolheu a iniciativa."
José Araripe Jr. (cineasta, ex-diretor do CTAV do Minc, ex-presidente da ABCV e atual gerente da TV Brasil
e-mail:
joseararipejr@uol.com.br)
"Durante muito tempo, o curta-metragem era o pobre do cinema. Era considerado como um passo inevitável para fazer um longa, mas chamava pouca atenção fora dos festivais. Hoje, o curta esta reconhecido como uma forma de arte em si, assim como o conto na literatura. E de repente, lembrem-se que cineastas importantes como Alain Resnais, Roman Polanski Jean-Marie Straub têm uma obra de curta-metragistas. Iniciativas como as Quartas Baianas são duma importância chave para essa mudança. Mais do que uma janela de exibição, as Quartas Baianas se destacam pela qualidade da curadoria, e seu papel de historiador do cinema baiano".
Bernard Attal (e-mail:battal1@mac.com)
“Muitos filmes brasileiros, de boa qualidade e até premiados em festivais nacionais e internacionais, não são vistos pela nossa gente. Tratam dos nossos problemas, têm os nossos cheiros e mau cheiros, mostram a nossa geografia, a nossa cultura, a nossa cor, falam o nosso idioma, mas, injustamente, permanecem no anonimato, esquecidos em prateleiras. Poucos chegam à chamada
tela grande. Essa inadmissível - mas verdadeira - situação é determinada pelo fato de as poderosas empresas distribuidoras e exibidoras de filmes estarem vinculadas às produtoras norte-americanas, não tendo, portanto, interesses na comercialização dos produtos nacionais. A quase totalidade das nossas casas de exibição representa o ponto de venda do filme estrangeiro. Essa é a dura realidade confrontada pelos produtores, cineastas, técnicos, atores, críticos e estudiosos do cinema brasileiro. É verdade que algumas produções do Rio e de São Paulo conseguem furar esse bloqueio imposto pela indústria norte-americana, seja através de associações ou concessões comerciais. Mas, se essa circunstância é danosa para a produção fílmica desses dois Estados do Sudeste, mais torturante é ainda para os realizadores de outras regiões. Quase nenhum filme de outro Estado do Brasil consegue ser visível nacionalmente. Nesse contexto, insere-se o cinema baiano. E é nesse campo inóspito e minado que o projeto Quartas Baianas, promovido pela Fundação Cultural do Estado da Bahia e tão bem comandado pelos cineastas Joel Almeida e Lúcio Mendes, vem atuando há cinco anos. O trabalho desses dois organizadores não se circunscreve apenas à exibição dos filmes feitos na Bahia. Eles vão muito além porque garimpam produções antigas, totalmente esquecidas, desconhecidas e abandonadas. Abrem mofados baús, descobrem, pesquisam e mapeiam filmes feitos há muitos anos, que ninguém sabia existir. Não fosse o paciente e persistente trabalho realizado por Joel e Lúcio, jamais teríamos a oportunidade de assistir aos audiovisuais de várias gerações de cineastas da nossa terra, pioneiros, amadores e profissionais. É real que, devido ao distante tempo de realização e também a má conservação, alguns dos filmes exibidos apresentaram deficiências nas partes visual e sonora, mas o projeto é muito grande e útil para a arte cinematográfica baiana. É a memória de tudo que aqui se fez na sétima arte. Por tudo isto, os dois organizadores são pessoas merecedoras dos nossos aplausos e a Fundação Cultural deverá emprestar mais apoio para a subsistência e perpetuação do projeto.”
Cícero Bathomarco (diretor de cinema
e-mail: cbathomarco@terra.com.br)
Por todos os motivos citados, acho que o Quartas Baianas é um projeto que deve ter sua continuidade assegurada pela atual administração, bem assim pelas administrações futuras da cultura no Estado”.
Edgard Navarro (diretor de Eu Me Lembro, Superoutro e em fase de realização de O Homem Que Não Dormia)
e-mail: edgardnavarro@terra.com.br
"O que a Associação Baiana (ABCV) fez ao criar o Quartas Baianas foi dar o passo para a primeira filmografia do século I do cinema baiano, a sessão semanal além de atualizar o público da produção contemporânea e histórica, cumpre um papel fundamental de dar visibilidade à produção interna, trazendo à tona uma realidade que surpreende e diz: Yes, nos temos filmes! - e nesse espaço mais de 400 obras já foram desengavetadas, possibilitando a pesquisadores e críticos uma leitura mais ampla, e principalmente unindo os realizadores e elevando a auto-estima. Ponto pra a Dimas, que sempre acolheu a iniciativa."
José Araripe Jr. (cineasta, ex-diretor do CTAV do Minc, ex-presidente da ABCV e atual gerente da TV Brasil
e-mail:
joseararipejr@uol.com.br)
"Durante muito tempo, o curta-metragem era o pobre do cinema. Era considerado como um passo inevitável para fazer um longa, mas chamava pouca atenção fora dos festivais. Hoje, o curta esta reconhecido como uma forma de arte em si, assim como o conto na literatura. E de repente, lembrem-se que cineastas importantes como Alain Resnais, Roman Polanski Jean-Marie Straub têm uma obra de curta-metragistas. Iniciativas como as Quartas Baianas são duma importância chave para essa mudança. Mais do que uma janela de exibição, as Quartas Baianas se destacam pela qualidade da curadoria, e seu papel de historiador do cinema baiano".
Bernard Attal (e-mail:battal1@mac.com)
“Muitos filmes brasileiros, de boa qualidade e até premiados em festivais nacionais e internacionais, não são vistos pela nossa gente. Tratam dos nossos problemas, têm os nossos cheiros e mau cheiros, mostram a nossa geografia, a nossa cultura, a nossa cor, falam o nosso idioma, mas, injustamente, permanecem no anonimato, esquecidos em prateleiras. Poucos chegam à chamada
tela grande. Essa inadmissível - mas verdadeira - situação é determinada pelo fato de as poderosas empresas distribuidoras e exibidoras de filmes estarem vinculadas às produtoras norte-americanas, não tendo, portanto, interesses na comercialização dos produtos nacionais. A quase totalidade das nossas casas de exibição representa o ponto de venda do filme estrangeiro. Essa é a dura realidade confrontada pelos produtores, cineastas, técnicos, atores, críticos e estudiosos do cinema brasileiro. É verdade que algumas produções do Rio e de São Paulo conseguem furar esse bloqueio imposto pela indústria norte-americana, seja através de associações ou concessões comerciais. Mas, se essa circunstância é danosa para a produção fílmica desses dois Estados do Sudeste, mais torturante é ainda para os realizadores de outras regiões. Quase nenhum filme de outro Estado do Brasil consegue ser visível nacionalmente. Nesse contexto, insere-se o cinema baiano. E é nesse campo inóspito e minado que o projeto Quartas Baianas, promovido pela Fundação Cultural do Estado da Bahia e tão bem comandado pelos cineastas Joel Almeida e Lúcio Mendes, vem atuando há cinco anos. O trabalho desses dois organizadores não se circunscreve apenas à exibição dos filmes feitos na Bahia. Eles vão muito além porque garimpam produções antigas, totalmente esquecidas, desconhecidas e abandonadas. Abrem mofados baús, descobrem, pesquisam e mapeiam filmes feitos há muitos anos, que ninguém sabia existir. Não fosse o paciente e persistente trabalho realizado por Joel e Lúcio, jamais teríamos a oportunidade de assistir aos audiovisuais de várias gerações de cineastas da nossa terra, pioneiros, amadores e profissionais. É real que, devido ao distante tempo de realização e também a má conservação, alguns dos filmes exibidos apresentaram deficiências nas partes visual e sonora, mas o projeto é muito grande e útil para a arte cinematográfica baiana. É a memória de tudo que aqui se fez na sétima arte. Por tudo isto, os dois organizadores são pessoas merecedoras dos nossos aplausos e a Fundação Cultural deverá emprestar mais apoio para a subsistência e perpetuação do projeto.”
Cícero Bathomarco (diretor de cinema
e-mail: cbathomarco@terra.com.br)
"Pra mim as Quartas Baianas é um “Eu me lembro” do audiovisual baiano, dos primórdios à atualidade, vivamente revitalizado com a essência dos movimentos contemporâneos. Só nas Quartas Baianas foi possível para as novas gerações, como a minha, conhecer o fruto de anos de inventividade e sonho em torno do fazer audiovisual na Bahia. E ainda, possibilita ver na mesma sala onde se projeta ícones do cinema brasileiro, trabalhos independentes da autoria de jovens realizadores, como pude experimentar na exibição do documentário, Bolívia, Para além de Evo Morales, em 2008, e já tendo programado para lançamento em 2009, o curta-metragem Vermelho Imaginário. Vida eterna para as Quartas Baianas."
Mateus Damasceno (jovem cineasta)
Mateus Damasceno (jovem cineasta)
Um comentário:
Caro amigo, postei hoje (05/05) no meu humilde blog uma entrevista com Rodrigo Minêu. Se puder, confira. Abs!
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