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28 janeiro 2009

Centenário de um cineasta baiano

Aberta ontem, com um coquetel para convidados, a exposição em homenagem a Alexandre Robatto, Filho, que, se vivo fosse, estaria a completar 100 anos de existência, que se estende até 1 de março, sempre das 10 às 18 horas, no Palacete das Artes (rua da Graça). Robatto foi um homem de mil instrumentos: cineasta, cirurgião-dentista, rádio amador, enxadrista, etc, mas a sua maior contribuição está no registro pioneiro das imagens em movimento na Bahia. Ainda que, antes dele, já outros realizadores tivessem tomado vistas da soterópolis, e, realizado alguns filmes, que se perderam, o fato é que o cinema baiano, a rigor, começa mesmo a existir com Alexandre Robato, Filho, a partir dos anos 30, numa época em que não havia a mínima condição de se fazer cinema na cidade. Homem empreendedor, Robatto não era de desanimar e, para tornar viável o registro das imagens em movimento tinha de inventar. O seu itinerário cinematográfico começa na década de 30, quando filma os canais condutores do abastecimento de água, as exposições pecuárias, etc. Mas é a partir dos anos 40 que seu cinema se firma como um discurso orgânico em obras como A guerra das boiadas, além da captação amadora, em 8mm, dos famosos bailes carnavalescos do aristocrático Clube Bahiano de Tênis. A memória da Bahia se encontra nos filmes de Robatto, a exemplo de Quatro séculos em desfile (1949), quando do aniversário da cidade de Salvador, houve um monumental desfile coreografado por Chianca De Garcia, A volta de Ruy (1959), que mostra a chegada do corpo do jurista Ruy Barbosa para o seu sepultamento durante a inauguração do forum que tem seu nome situado no Campo da Pólvora, O regresso de Marta Rocha (1955), sobre a volta da famosa miss baiana à sua terra depois de ter perdido o concurso de Miss Universo "por duas polegadas a mais", entre outros filmes importantes para o arquivo memorialístico baiano.
É a partir dos anos 50, porém, que Robatto procura um cinema mais integrado à mise-en-scène: em Entre o mar e o tendal há, patente, uma preocupação estética a tal ponto que o material filmado (a pesca de Xareú) é deixado em estado bruto em outro filme: Xaréu. Vadiação, realizado em meados da década, tem colaboração de Carybé e mostra o jogo de capoeira. Não resta dúvida que a importância de Robatto vai além do mero registro memorialístico, pois influencia o cinema baiano que viria a seguir e não há a menor dúvida, ainda que o seu autor nunca tivesse assumindo, que Barravento, de Glauber Rocha, tem muitas tomadas que remetem a Entre o mar e o tendal.
A exposição sobre Robatto no Palácete das Artes tem apoio do Dimas e do Irdeb, e foi organizada pela família do cineasta.
Retificação: na verdade, Robatto, vivo, teria feito cem anos em 2008, pois nasceu em 1908. Conheci o pioneiro quando, em 1976, a fazer uma pesquisa sobre o cinema baiano, fui a ele apresentado. Gravei uma entrevista com aquela fita pequena. Já tivera um enfarte que viria a se repetir, sendo-lhe fatal, em 1982, quando faleceu. Mais ou menos aos 74 anos de idade. Sua esposa, Stela, ainda estava viva, assim como seu filho, Sílvio Robatto, que ajudava o pai nas suas filmagens. Infelizmente, Sílvio deixou a vida no ano passado, ainda com o vigor da maturidade. Casado com a dançarina Lia Robatto, que ontem estava presente ao lado de Sônia Robatto, filha do cineasta. Na oportunidade, foi lançado um belo catálogo sobre Alexandre Robatto, Filho, a conter muitos depoimentos preciosos.

Um comentário:

Jonga Olivieri disse...

Você tem propiciado o conhecimento e a descoberta de realizadores baianos que eu (e creio a maioria) não ouvi falar.
Robatto tem uma obra importante no contexto da cinematografia deste estado que tanto contribuiu para o cinema brasileiro, mas que é tão pouco divulgada fora daí.
Fora Glauber, os baianos de um modo geral passam batidos quando se procuram as origens desta arte no Brasil.
Por isso é importante que continue a divulga-los.