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24 março 2008

Recado amigo de um "velho" cineasta

Os famigerados editais governamentais, que põem a classe cinematográfica baiana na categoria de mendigos, ainda não deram sinal de que virão ser postos em prática pelo governo que vem a ser denominado da mudança. Se não podem ser mendigos, em que categoria pode chegar a mendicância, a de miseráveis? O fato é que melhor com os editais do que sem eles. Mas, como acontece há muito tempo, e verdade seja dita, não é coisa da entourage wagneriana, quando uma produção de fora pede ajuda o tapete vermelho sempre é estendido para ampará-la com sólidos recursos. Glauber Rocha, quando filmava em Milagres, cidade do interior baiano, o seu premiado O dragão da maldade contra o santo guerreiro, em 1969, teve recusada sua solicitação de uma kombi (vejam só a insignificância) pelo governo de plantão (estava-se nos estertores do governo de Luiz Vianna Filho, que passaria, sob ditadura inclemente, a faixa para ACM após esfuziante performance como prefeito da capital, o "Pelé branco das construções", segundo dizia o radialista França Teixeira). Carlos Diegues recebeu polpudas verbas para fazer a avant-première de Tieta do agreste no majestoso Teatro Castro Alves (que foi equipado com equipamentos apropriados, a gerar, com isso, uma despesa enorme). Após a sessão, um coquetel foi servido aos convidados, coquetel este que terminou quase ao sol nascer com derrame de scotch e muita cerveja, sem falar nos salgadinhos protocolares. Enquanto Cacá se divertia com seus amigos vindos do eixo Rio-São Paulo - tudo pago pelas burras governamentais, às expensas do governo, os cineastas baianos morriam de fome, fome de criação, fome de instalar, nas telas, suas imagens em movimento. O mesmo aconteceu com a estréia, também no TCA, de A guerra dos Canudos, superprodução de Sérgio Rezende. Vem-se a saber, agora, que duas produções baseadas em Jorge Amado estão prestes a receber grana do Estado da Bahia. Tuna Espinheira, que nunca dormiu de touca, mandou-me a seguinte mensagem:

Velho André,
A Tarde de hoje anuncia duas produções, baseadas em romances de Jorge Amado. Seria até motivo de festa, afinal são filmagens na Bahia. Tudo bem, só que as famosas cestas básicas, representadas pelos polêmicos Editais, até agora nada. É, da tradição baiana, baixar o tapete vermelho, para os que chegam de fora, passearem os seus delicados pés. Para estes, muito dinheiro e fartura! Para a prata da casa: a austeridade cinzenta de um concurso que não quer acontecer. “Ó quão dessemelhante”.
Tuna Espinheira

2 comentários:

Jonga Olivieri disse...

A verdade, André, é que o cinema brasileiro passa por uma fase de mediocridade chocante. Temos aí o “picareta” Daniel Filho produzindo em larga escala. E outros. As “autoridades” ligadas ao cinema e a verbas de produção, estão pouco preocupadas em estimular um cinema de qualidade.

André Setaro disse...

Velho André,

Fica faltando mais alguns filmes no Eldorado das exibições no Teatro Castro Alves, são eles: Central do Brasil e Cidade Baixa, com direito a nababescos comes e bebes, por último Ó Pai Ó, da Globo Filmes, filme baiano pra inglês ver, recebeu uma pequena ajuda, de $ 150.000 Reais, para uma única exibição na Concha Acústica, noticia extraída do Diário do Estado, pagamentos efetuados pela Bahiatursa, no começo deste Governo, publicado pela Coluna Tempo Presente, do jornal A Tarde.

A Bahia persiste província, com a característica particular de dar para todo mundo que vem de fora, uma casa da Mãe Joana.

Muito Axé,

Tuna