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09 fevereiro 2006

Era uma vez na América



Creio que o filme que me causou mais impacto na década de 80, época de desalento, quando a infantilização temática do cinema americano já estava imensa, foi Era uma vez na América (Once upon time in America, 1983), obra capaz de fazer uma emoção quase perdida em relação ao cinema emergir novamente. A mise-en-scène de Sergio Leone é assustadora e bela, e o filme, um filme-ópera. Mas não pretendo, aqui, fazer uma apreciação dessa obra-prima, mas, e tão-somente, fazer notar alguns aspectos significativos, como o funcional uso do som aplicado pelo cineasta de Era uma vez no Oeste. O chamado do telefone, por exemplo, que persiste; quando De Niro, após ter estuprado Elizabeth McGovern, chega, pela manhã, ao escritório, e seus colegas ficam a observá-lo enquanto toma café. Nesta seqüência, a significação provém do ruído da colher mexendo o café, o ruído da chícara. Ela é toda construída em torno desse ruído. E há um belíssimo momento, entre tantos outros, quando o menino compra um sorvete de chantilly, com uma cereja a coroá-lo, para ir ter um carnal knowledge com a garota, que aceita o sexo tendo como pagamento um sorvete. Mas ela está tomando banho e ele tem que esperá-la sentado na escada. Os dois desejos se bifurcam, o desejo do sexuar e o desejo da gula. Ele não resiste e vai, pouco a pouco, tirando os pedacinhos do creme e, de repente, partitura de Ennio Morricone a toda, devora a guloseima, ficando, por isso, sem a posse da garota. Robert DeNiro, tão decadente nos tempos atuais, tendo se tornado uma caricatura de si próprio, está excelente como Noodles. Destaque para uma musa de meus tempos de cinéfilo: Tuesday Weld. Fruta madura e de sabor inigualável. Por falar em Leone, como já disse há meses neste blog, outro impacto foi a revisão de Quando explode a vingança e Era uma vez no Oeste. Leone aparece em América como o vendedor de passagens, quando Noodles, após a suposta morte dos companheiros no grande assalto, compra aleatoriamente um bilhete para Buffalo.

Um comentário:

Anônimo disse...

o melhor filme de Leone! Na minha opinião, um dos melhores da história do cinema. com destaque pra morte do menininho, tb.
pena que as quatro horas magistrais tenham sido um fracasso de bilheteria.