Delphine Seyrig e Giorgio Albertazzi em O ano passado em Marienbad (1961), do genial Alain Resnais
OITO E MEIO (Otto e mezzo, 1963), de
Federico Fellini. Quando todas as esperanças pareciam impossíveis, Guido
Anselmi se reanima e dança, com todo o elenco, o balé burlesco que dá
fecho ao filme, com todos dançando contentes e de mãos dadas sob o império
sonoro de Nino Rota.
O PASSAGEIRO: PROFISSÃO REPÓRTER(Professione:
reporter/The passenger, 1975), de Michelangelo Antonioni. A cena
começa num quarto de hotel, a câmera sobre um tripé. Nicholson e a
namorada que ele encontrou ao assumir a identidade de Robertson (Maria
Schneider) conversam. O quarto é no andar térreo do hotel, e ao fundo uma
ampla janela com grades de ferro dá para a praça lá fora. Sozinho no
quarto, Locke acende um cigarro e se deita, e então tem início o longo
plano final. A câmera se aproxima lentamente da janela, passa pelas
grades, e continua a filmar lá fora até que voltando ao quarto o encontra
morto.
OS BRUTOS TAMBÉM AMAM (Shane, 1953), de George
Stevens. Cena da morte de Paredón pelo pistoleiro Wilson. Paredón (Elisha
Cook Jr) se aproxima, em travelling,
da varanda na qual está o pistoleiro Wilson (Jack Palance). Corte. Wilson
se levanta e começa a calçar as suas luvas. Paredón lhe desafia e recebe
um tiro que o joga longe no meio da lama. Stevens declarou que usou um
tiro de canhão.
A MARCA DA MALDADE (Touch of evil, 1958), de Orson
Welles. O plano-sequência inicial. Com uma só tomada, Welles percorre uma
cidadezinha fronteiriça com uma câmera ágil até a explosão de uma bomba
perto de um posto de gasolina, encontrando Charlton Heston e Janet Leigh.
Na versão espúria lançada comercialmente, todo o plano é aproveitado para
a colocação dos letreiros. Mas a versão restaurada mostra que o autor não
usou, nesta introdução, nenhum sinal gráfico.
O PROFESSOR ALOPRADO (The nutty professor, 1963), de
Jerry Lewis. Cena da saída da buate depois da transformação. Usando uma
poção mágica feita por ele, o tímido professor Kelp se transforma no
engomado galã Buddy Love. Quando este sai da buate, em câmera subjetiva
(em lugar de Love), andando, o que se contempla são mulheres e
homens surpresos e extasiados com o que estão a ver.
CIDADÃO KANE (Citizen Kane, 1941), de Orson Welles. Um travelling mostra os pertences de Charles
Foster Kane empilhados e a impressão que se tem é a de se estar a ver uma
metrópole com seus arranha-céus. O percurso do travelling tem seu fecho num plano de
detalhe do trenó onde se encontra inscrita a palavra Rosebud, cujas letras
ardem e se desmancham pelas chamas.
O ANO PASSADO EM MARIENBAD (L'année dernière a Marienbad,
1962), de Alain Resnais. Ostravellings se sucedem na mansão, a câmara
passeia pelos seus longos e intermináveis corredores, à procura de um
cinema que se faz como um processo de investigação do universo mental.
Delphine Seyrig salta na cama imensa, como se fosse um pássaro numa gaiola
dourada
SUSPEITA (Suspicion,
1942), de Alfred Hitchcock. Cary Grant, numa angulação expressionista,
sobe a escada, uma grande escada meio circular, com um copo de leite na
mão. O espectador suspeita que o leite esteja envenenado e ele vá matar a
mulher. O realizador colocou uma lâmpada dentro do copo para fazê-lo mais
sugestivo.
ACOSSADO (A bout de souffle,
1959), de Jean-Luc Godard. Ferido, fatigado, Michel Poiccard (Jean-Paul
Belmondo) deambula por uma rua de Paris enquanto a câmera, em travelling, o acompanha
até que, ao final da escapada, tomba. Todo o itinerário tem um forte
acento jazzístico.
A LARANJA MECÂNICA (A clockworke orange,
1971), de Stanley Kubrick.
Enquanto Alex e seus companheiros espancam e torturam o casal de
escritores com uma violência inaudita, estuprando a mulher, o que se ouve
é uma canção suave, a deSingin'ng in the rain. A narrativa, aqui,
contraria a fábula
FRENESI (Frenzy,
1972), de Alfred Hitchcock. A prdução de sentidos sendo feita pelo travelling, que acompanha
Barry Foster, o estrangulador que o público já tem conhecimento, a entrar
no edifício acompanhado da namorada de John Finch, o falso culpado. De
repente, a câmera pára no meio da escada e faz um travelling a derrière (para trás) e sai do prédio. O
grito da mulher é abafado pelo vozerio do mercado em frente
RASTROS DE ÓDIO (The seachers, 1956), de John
Ford. Finda a jornada, John Wayne traz de volta Natalie Wood para o lar. A
càmera, no último plano, plantada dentro da casa, apenas recebe a
claridade que vem do fora e a porta aberta, que se destaca como silhueta
na escuridão. Todos entram felizes, alegres, com o retorno. Menos John
Wayme, o Tio Ethan, que, cumprida a missão, caminha para fora,
deambulando, sem destino
OUTUBRO (Oktiabr,
1927), de Sergei M. Eisenstein. Kerensky sobe os degraus do palácio, mas
retorna sempre ao mesmo ponto, enquanto as legendas citam suas inumeráveis
atribuições ditatoriais e, "desafiado", Kerensky é confrontado
com divindades africanas, budistas, barrocas, cristãs etc
LUZES DA CIDADE (City lights, 1930), de Charles Chaplin. Pelo toque
nas mãos de Carlitos, a florista, já operada da vista graças a ele,
reconhece o seu benfeitor. E o close
up final de Chaplin é o
mais enigmático de toda a história do cinema, a atingir a tragédia da
condição humana
ASSIM ESTAVA ESCRITO (The bad and the beautiful,
1953), de Vincente Minnelli, Depois da conferência com Walter Pidgeon,
Lana Turner, Barry Sullivam e Dick Powell, na saída da casa, não resistem
a pegar um telefone externo para ouvir o que Pidgeon conversa com Kirk
Douglas, que está disposto a trabalhar novamente com os três. Em plano
fixo, Lana pega o gancho do telefone e o ouve primeiro, e os rostos de
Sullivam e Powell vão surgindo nas laterais, curiosos também em saber o
que está sendo dito. Final do filme: The
end. Partitura exasperante de David Rastkin.
PSICOSE (Psycho,
1960), de Alfred Hitchcock. A antológica sequência do chuveiro, quando
Janet Leigh é esfaqueada. Durando pouco mais de um minuto, a cena possui
quase cinqüenta tomadas, o que possibilita constatar que o processo de
criação no cinema é uma ilusão. A sua fragmentação é radical e, nesse
sentido, alguns ensaístas europeus comparam-na à escadaria de Odessa de O encouraçado Potemkin para a evolução da linguagem
cinematográfica.
O LÍRIO PARTIDO (Broken blossoms, 1919), de David Wark
Griffith. Lilian Gish se contorcendo dentro de um armário cuja porta o
boxeador destrói a golpes de machado, antes de espancar a menina com o
cabo de um chicote
VAMPYR (1932), de Carl Theodor Dreyer. As cenas vistas por um
cadáver transportado em seu caixão, os olhos mortos fixos no céu e nos
tetos.
O ENCOURAÇADO POTEMKIN (Bronenosetz Potemkin, 1925), de Sergei Eisenstein. A
Escadaria de Odessa. A multidão nos degraus aclamando os marinheiros e, de
repente, os primeiros tiros de fuzis; as botas dos soldados passando por
cima dos cadáveres; o menino morto, a mãe que torna a subir a escadaria
trazendo o filho já sem vida; os fuzileiros descendo a escadaria; uma
mulher, no alto da escadaria, atingida, e seu cadáver empurrando para
frente o carrinho do bebê.
DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL (1964), de Glauber
Rocha. A matança dos beatos em Monte Santo.
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