Texto do realizador cinematográfico baiano TUNA ESPINHEIRA
"A Gênese de todo projeto cinematográfico é o roteiro, espelho do filme a ser rodado. É através deste desenho técnico que a produção tem régua e compasso para a análise técnica e o orçamento, condição obrigatória para um projeto pronto.
O script, no que pese a sua registrada importância, não tem luz própria, não é um fim em si mesmo, qualquer grau de valor que lhe venha a ser atribuído, de mediano a excelente, como queiram, fica o dito pelo não dito, ele só terá sopro de vida se for filmado. É na tela luminosa do escurinho do cinema, esculpido em imagem em movimento, que ele pode dizer a que veio. Sua natureza pertence à área meio, peça motriz, mas não linguagem artística, ou vira filme, ou se transforma em alma penada.
Também o roteiro não possui qualquer tipo de poção mágica capaz de garantir o bom resultado do filme. Scripts inexpressivos já renderam boas fitas, assim como, outros alçados a níveis ideais, decepcionaram no produto final. O que, sem dúvida, apenas segue a uma regra geral a toda arte, é o “como fazer” que conta, no papel de molho milagroso, no calor da hora de urdir a obra. Mas, pelo sim e pelo não, a coisa mais inteligente é ter nas mãos um script bem construído. Roteiro ruim atrai o mau agouro e costuma levar o filme para o atoleiro. É de bom alvitre escrever, reescrever, vezes muitas, esta peça que vai ser a bússola, patuá, conselheira e guia, na caminhada das filmagens, sempre um contrato de risco, e aí, um bom roteiro sempre poderá soprar ventos favoráveis para que Lá Nave Vá.
Na vasta maioria das nossas produções, com referência ao baixo orçamento, o roteiro tem de afinar com esta agônica circunstância, casar como música e letra, administrar a farinha pouca, vacilou o bicho pega. Criatividade é urdir o roteiro certo para que o filme não fique a meio do caminho.
Nos estúdios de Hollywood, o roteiro costuma ser seguido regiamente, com gente espionando as filmagens para garantir que todos os itens do script sejam cumpridos. O mais incrível é que, conseguiram, com margem de erro mínima, o tempo de duração de um filme, mesmo estando em estado de escritos ainda cunhados em papel. Como o ovo de Colombo, a receita é simples: digitar em PAPEL CARTA, FONTE COURRIER, 12, formatado com 3 cm subtraídos da parte superior, o mesmo na inferior, 4 cm na margem esquerda e 3 cm na direita. Elaborado nos parâmetros da técnica especifica do roteiro moderno, por incrível que pareça, no cômputo geral, cada página do script se traduzirá em um minuto do produto final em imagem em movimento. Era só o que faltava para que, o setor de pesos e medidas, aproximasse o roteiro cinematográfico, da lâmpada de Aladim.
Finalizando: é preciso ter o corpo fechado para escrever um roteiro..."
Tuna Espinheira
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