Cliquem na foto |
Documentário que resgata a memória da importante Feira de Água de Meninos, incendiada criminosamente em setembro de 1964, e tema de dois consagrados filmes baianos (A grande feira, 1962, de Roberto Pires, e Sol sobre a lama, 1963/64), de Palma Neto/Alex Viany, Água de Meninos - A Feira do Cinema Novo, de Fabíola Aquino, tem na sua estrutura narrativa materiais de origens diversas: recortes de jornais, entrevistas com antigos feirantes, antropólogos, urbanistas, pais de santo, e pessoas ligadas ao local, trechos de filmes, e filmagens in loco. A realizadora soube captar toda a riqueza visual do ambiente da feira, optando por uma alternância desses materiais no sentido de levar ao público para uma compreensão exata do valor cultural da comunidade feirense.
Antonio Pitanga, que trabalhou na maioria dos filmes do Ciclo Baiano de Cinema, funciona, além de depoente, pois testemunha ocular dos fatos e da ficção criada em torno deles, como uma espécie assim de meneur de jeu. Perpassa por todo o filme e, no final, canta, apoteótico, um samba do inesquecível Batatinha. Pitanga foi criado nas circunvizinhanças da Feira de Água de Meninos e, além de ter sido ator em A grande feira e Sol sobre a lama, tem a experiência da vivência no local. As filmagens in loco foram feitas na Feira de São Joaquim, que substituiu a de Água de Meninos, embora não possua a dimensão desta. E também no Mercado das 7 Portas. O documentário toca na questão da reforma programada para a Feira de São Joaquim que as autoridades municipais pensam que, com ela, podem higienizar o aglomerado. Mas uma antropóloga, que dá um depoimento, diz que a sujeita é cultural e faz parte da paisagem. Um outro depoente afirma que se houver reforma esta somente pode ser feita com a colaboração da comunidade. Não se pode impor uma mudança de cima para baixo sem a consulta e a colaboração dos feirantes.
Trechos de Sol sobre a Lama e de A grande feira são incluídos. Um dos produtores do primeiro, entrevistado, Álvaro de Queiroz, revela que Sol sobre a lama foi uma resposta a A grande feira, que, segundo Palma Neto, não focaliza a realidade verdadeira de Água de Meninos. O seu depoimento é comovente e, no fim, quando narra o incêndio, chega a ficar emocionado e quase chora. Dois filmes que tiveram como local de sua ação principal Água de Meninos, que, muitos anos antes do incêndio criminoso, já se dizia que havia interesses, por parte das empresas petrolíferas, em incendia-la - o que se tornou realidade meses depois do golpe de abril de 64 no mês de setembro numa ação, segundo se diz, das companhias de petróleo com a Capitania dos Portos.
Um belo documentário, Água de Meninos - A Feira do Cinema Novo, de Fabíola Aquino, com pesquisa de Laura Bezerra e funcional fotografia de Paulo Alcântara e Marcelo Pìnheiro. A coordenação de produção esteve a cargo de Cláudia Chavez. Entre os que prestam depoimentos, além dos citados (Pitanga, Queiroz), Mateus Aleluia, Gessy Gesse, Nilson Mendes, Zé do Licor, Seu Pascoal, Mestre Lourão, Pai João, Duda, Rosa Fortes, Luciana Novaes, Domingos Leonelli, Marcilio Santos, Carl von Hauenschild, e a população da Feira de São Joaquim.
Filme sobre a feira e também um filme sobre o cinema feito em torno da feira.
A ver assim que a oportunidade surgir.
3 comentários:
Parece bastante interessante.
Mas.. É um filme baiano? Estou intrigado porque os filmes baianos não chegam ao Rio... Ou quando chegam jogam em cinemas pra lá de Marrakesh!
É um absurdo o fato de "Antônio Conselheiro..." ter tido uma pré-estreia e agora estar passando em apenas um cinema, e uma única seção aos sábados à meia noite.
Confira em: http://www.guiadasemana.com.br/cinema/filmes/sinopse/antonio-conselheiro-o-taumaturgo-dos-sertoes
Sim, é um filme genuinamente baiano, Hulot!
Me alegra imensamente ler uma critica tão fundamentada e atenciosa, obrigada Setaro, sabia que sua inteligencia e sensibilidade iriam mapear nosso trabalho com maestria. Vamos divulga-la com muito orgulho!
Postar um comentário