3) Wes Craven
tentou a paródia do terrorífico em seus sucessivos pânicos, com
resultados satisfatórios dentro dos limites do gênero. Mas o terror que põe o
espectador de sobressalto é aquele mais movido pelas sugestões, pela tensão
psicológica, com completo domínio formal da narrativa, da 'mise-en-scène', é
preciso repetir. Em O exorcista, por exemplo, a maior cena de
terror, na minha opinião, vem da montagem do momento em que a menina possuída
está fazendo exames, radiografias, a tomar injeções até na veia do pescoço. É
uma sucessão de ruídos de chapas batendo, de imagens cruas de um exame
invasivo, enfim, a conjunção imagem e som, que estabelece, na cena, uma
impressionante, vá lá o termo de novo, mise-en-scène.
4) Não se pode
deixar de falar, em se tratando do gênero terror, dos clássicos do
expressionismo alemão, principalmente, Nosferatu, o vampiro (1922), de
Friedrich Wilhelm Murnau, com a estupenda performance de Max Schenk,
insuperável como o personagem título. Murnau, um dos maiores cineastas de todos
os tempos, teve morte prematura no alvorecer dos anos 30. Um acidente de
automóvel lhe tirou a vida. É autor de A última gargalhada, entre muitos
outros filmes excepcionais, como Aurora (Sunrise,
1927), que realizou nos Estados Unidos com a estética expressionista e que
François Truffaut considera o mais belo filme de todos os tempos.
5) Werner Herzog
realizou uma belíssima versão do clássico "Nosferatu", de Murnau, com
Klaus Kinsky no papel do vampiro, e Bruno Ganz (excepcional ator alemão que
trabalhou em "O amigo americano", o melhor filme de Wim Wenders, e
"A queda", no qual faz Hitler em interpretação assombrosa).
6) Vi, no
disquinho, Giallo, de Dario Argento, um dos mestres contemporâneos
do filme de terror. Giallo é uma expressão italiana para designar livrinhos de
bolso de terror e suspense baratos e editados em papel de má qualidade. Uma
espécie de pulp-ficcion. Argento, tal o seu domínio formal da narrativa, é um
mestre e "purifica" seus filmes com um derramamento estético de
sangue. É um diretor respeitado, ainda que mal compreendido - os ignorantes
pensam que é um diretor sensacionalista e barato sem atentar para a sua grande
capacidade de usar brilhantemente os elementos da linguagem cinematográfica.
7) Dario
Argento, além de ter em sua filmografia alguns cults do suspense e terror – o
cineasta Carlos Reichenbach (de saudosa memória) foi um apaixonado por sua
obra, foi um dos roteiristas do admirável Era uma vez no oeste (C’era uma
volta in West, 1968, de Sergio Leone.). Entre seus filmes mais aclamados,
encontram-se O pássaro das plumas de cristal (L'uccello
dalle piume di cristallo, 1970, obra de estréia no longa), O gato das nove
caudas (Il gatto a nove code, 1971), Suspiria, entre outros notáveis.
8) Em Giallo, Argento
procede de maneira a não dar ao espectador aquela sensação de “quem foi”, a
mostrar, já no primeiro terço do filme, o serial killer. O que Argento
procura, na verdade, é a angústia do homem perseguido e o acompanhamento, por
parte do público, da angústia do casal que o caça. Uma constante de Argento, os
traumas da infância, está presente em Giallo. A
modelo americana, Celine, é seqüestrada, em Milão, durante uma semana na qual
participa de um desfile de moda, pelo serial killer conhecido como Giallo,
que faz, com extremado sadismo, suas vitimas passarem por um verdadeiro
calvário. Linda (Emmanuelle Seigner, linda, apesar do tempo no seu rosto), irmã
de Celine, deixa o assunto nas mãos do inspetor Enzo Lavia (Adrien Brody, o pianista de Polanski, e, também, um dos produtores do filme), que deverá
encontrar a garota antes que ela sofra o terrível final das vitimas anteriores.
Um comentário:
Dario Argento realmente possui grandes qualidades. Muitas vezes peca na direção de atores, mas sua afinidade com a linguagem cinematográfica é muito virtuosa. De seus filmes, o que mais gosto é Phenomena, mesmo que em Suspíria ele consiga criar sequências inesquecíveis e mais bem realizadas.
Postar um comentário