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25 julho 2010

VI Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual


Recebi da organização do VI Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual o release que vai abaixo, assim como veio.
"Um dos eventos mais esperados e concorridos do VI Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual (SemCine), que acontecerá no final de julho, em Salvador, é a série de Mesas Redondas, que, este ano, terá a participação de convidados renomados do Brasil, Itália, França, Espanha, Alemanha, Argentina e EstadosUnidos. As Mesas costumam atrair um público constituído, na sua maioria, de estudantes e profissionais daárea, tais como produtores, diretores, artistas, críticos, teóricos e professores. Em cada dia, serão ministradas palestras sobre temas específicos, seguidas de debates que visam contar com a participação ativa do público.
As Mesas terão lugar na Sala Principal do Teatro Castro Alves, de 27 a 29 de julho, em duas sessões diárias, das 10h às 13 horas e das 15 às 18 horas, com seis grandes temas em destaque: A existência da Itália cinematográfica - Pasolini e A fronteira sutil entre realidade e ficção (dia 27), A arte da montagem e O presente da imagem em movimento (dia 28) e Dramaturgia nas telas e O erotismo no cinema (dia 29). Segundo a curadora das Mesas, a psicanalista Marcela Antelo, o SemCine persiste em considerar o cinemacomo instrumento do pensamento, pensar através dele sobre o que se faz, saber graças a ele o que se pensa. “Moved by movies” como disse o reitor da UFBA, Naomar Almeida, na abertura da sua primeira edição.
Idealizado e comandado pelo cineasta baiano Walter Lima, o SemCine é uma realização da VPC
Cinemavídeo e UFBA, com o patrocínio do Ministério da Cultura, Governo do Estado da Bahia(Fazcultura) e Oi Futuro, e copatrocínio da Petrobras, Cinema do Brasil, Apex e da Embasa. Os ingressos para as mesas têm o valor de R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia).

Convidados - Entre outros profissionais, atuarão nas palestras e debates o cineasta baiano Sérgio Machado (Cidade Baixa e Quincas Berro d’Água); a professora Maria Rosaria Fabris da ECA USP; as montadoras Susan Korda, dos Estados Unidos, e Isabelle Rathery, da França; o premiado editor alemão Peter Przygodda; a filósofa, psicanalista e escritora francesa Clotilde Leguil, autora do Ensaio sobre as heroínas do cinema dos filmes As virgens suicidas, A vida dos outros e Mulholland drive; a professora da UFF e autora de O show do eu, a intimidade como espetáculo, Paula Sibilia; a premiada cineasta argentina Lucrecia Martel; o diretor da Ancine Paulo Alcoforado, o professor israelense Ariel Schweitzer, doutor em investigação cinematográfica e audiovisual na Université de la Sorbonne Nouvelle, o realizador em novas mídias Lucas Bambozzi, o festejado diretor de cinema norte-americano Mark Amerika, teórico de mídias, editor de web e VJ de performances internacionais, e o professor e cineasta haitiano Michelange Quay, do premiado filme."

Em seguida, um artigo de minha autoria que foi publicado originariamente quinta passada no jornal soteropolitano Tribuna da Bahia:

O Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual, já na sua sexta edição, acontece em Salvador entre os dias 26 e 31 de julho do ano em curso, o que significa dizer: a partir da segunda que vem. Organizado por Walter Lima, Waltinho, desde 2005, é um evento importante e pleno de atividades desde mostras competitivas de filmes, mesas redondas e quadradas, cursos e oficinas, retrospectivas especiais e a presença de nomes consagrados da cinematografia brasileira e internacional.

Lembro do primeiro seminário, em 2005, ainda não realizado no Teatro Castro Alves, mas na Reitoria da Universidade Federal da Bahia, quando da vinda do famoso cineasta Costa-Gravas, autor de obras consagradas como Z, Estado de Sítio, Desaparecido, A confissão etc, que participou ativamente como espectador atento e também palestrante de quase todas as atividades. No último dia, no telão imenso do TCA, houve a avant-première mundial de O corte (L'écouperer).

Em 2007, participei de uma mesa sobre cinema baiano e, lá pelas tantas, Edgard Navarro se aborreceu comigo e quase fomos às vias de fato. Mas a polêmica fez sucesso e virou o acontecimento do seminário daquele ano com uma repercussão na mídia nacional - saiu uma matéria sobre o imbroglio até no Estadão. Mas, hoje, me relaciono bem com Navarro. O que aconteceu foi um fogo de palha e pertence ao passado.

Neste mesmo ano, o talentoso Marcondes Dourado resolveu realizar um espetáculo de encerramento e chamou todos os participantes do seminário para, de mãos dadas, ascenderem do fundo do poço da orquestra para que aparecessem, de repente, na beirada do palco. Apesar da beleza da mise-en-scène douradiana, para mim, que tinha tomado um comprimido para hipertensão, foi um suplício, pois tive uma baixa de tensão quando cheguei ao topo, e, se caísse, porque de mãos dadas, levaria muitos comigo. Mas consegui conter e corrigir a baixa tensional, ainda que suando frio, e, ciente do que podia acontecer, em pânico.

Mas mudando de água para vinho, neste ano o seminário programou uma mostra completa do realizador Pier Paolo Pasolini, um dos mais importantes cineastas do século passado, que preconizou o cinema de poesia em oposição ao cinema de prosa. Para ele, este é um cinema de narrativa opaca, que esconde aquele que faz o filme por meio de uma narrativa invisível, segundo a lei de progressão dramática instaurada pelo americano David Wark Griffith. Já o cinema de poesia é um cinema de desmistificação, da transparência, onde as regras gramaticais não são seguidas, permitindo ao cineasta desenvolver suas idéias através de uma liberdade na construção de suas cenas e sequências. E fazendo ver ao espectador a presença de um autor que está a fazer o filme, dando a este a consciência de estar vendo uma obra cinematográfica na qual há um narrador.

Pasolini foi polêmico na sua época e, acredito que o seja ainda hoje. Saló, por exemplo, baseado em livro do Marquês de Sade, derradeiro opus do cineasta, que morreu logo em seguida esquartejado na periferia de Roma, com seu corpo desfigurado pela passagem de um automóvel em cima dele, Saló é um filme que não permite uma unanimidade: ou se gosta ou se detesta. Mas vamos ver toda a sua rica filmografia constituída de belos e significantes exemplares, a exemplo da fábula Gaviões e passarinhos, com o célebre Totó, O evangelho segundo São Mateus, que destrói toda a iconografia tradicional dos filmes sobre a vida de Cristo, Teorema, obra magistral, Decameron, entre muitos outros.

Salvador congrega anualmente pelo menos quatro eventos de expressão: o Seminário Internacional de Cinema (organizado por José Walter Pinto Lima), geralmente em julho, a Jornada Internacional de Cinema da Bahia (organizada por Guido Araújo e que acontece em setembro), o Panorama Internacional Coisa de Cinema (organizado por Cláudio Marques no Espaço Unibanco Glauber Rocha), o Festival Sala de Arte (organizado por André Trajano e Marcelo Sá no circuito do mesmo nome, e geralmente com data em outubro).

Todos concentrando uma avalanche significativa de filmes. Destes festivais, o mais antigo é a Jornada, que existe desde 1972, e, fazendo as contas, 38 anos, quase quatro décadas, mas, a rigor, 36, porque houve dois anos (1989 e 1990) em que não foram realizadas. O seminário de Lima já está na sexta edição e parece que foi ontem que começou na Reitoria. O tempo passa e, quando se percebe, as coisas, os eventos e as pessoas já pertencem ao pretérito. Há também outros eventos cinematográficos alternativos. Em Cachoeira, por exemplo, já está consolidado o festival Bahia África (organizado por Lázaro Farias).

Vários cursos e oficinas estão programados, entre eles um de direção com o famoso cineasta chileno Miguel Littin. Para maiores informações sobre a programação do seminário, acesse este site:
http://www.seminariodecinema.com.br/2010/index.html

10 comentários:

Anônimo disse...

Professor,

Como explicar todos esses eventos numa "terra arrasada" de cinema?

Tenho aqui algo que o senhor escreveu: "Eventos existem para a satisfação de pseudo-intelectuais que não possuem as bases referenciais necessárias para a compreensão do que estão a ver ou a ouvir."

Será que essa de viver de eventos em eventos, ouvindo e falando difícil, seria um refúgio para tempos de grandíssima incompetência?

E por aqui, é uma praxe: as cabeças "pensantes" do cinema baiano, adoram falar difícil!

Maria

Anônimo disse...

Triste é que essa quantidade de eventos nada ajudou a mudar o panorama cinematográfico, baiano.

De todos, a jornada é a mais falaciosa, não passa de um engôdo. Diz Guido que está fazendo cinema de "resistência." Como não quero ser censurado pelo o professor, não direi aqui o que penso sobre sua famigerada "resistência."

No mais, a forma como está sendo conduzido o audiovisual no governo Wagner, simplesmente beira a aberração. As vezes, tenho vontade de perguntar se o senhor Póla surtou ou se incorporou Stálin.

O clima do cinema baiano atual é tão decadente que de uma coisa tenho certeza: os medíocres venceram!

Jamil

Romero Azevêdo disse...

Caros baianos que reclamam da comida com a barriga cheia: se querem se livrar dos eventos, transferindo-os( com verba e tudo) para a pequenina Paraíba, aceitamos e agradecemos antecipadamente.

Anônimo disse...

Caro conterrâneo,

Se pudesse e o dinheiro desse, te mandaria todos os blás, blás, blás e os nhém, nhém, nhém que se passam em nosso liberalismo eclético cultural. E te dava de bônus, o "filão" do cinema baiano. Nossos "heróis da resistência:" Lampião e Antônio Conselheiro!

Acredite meu conterrâneo, à cata de um herói popular, camponês e revolucionário, não encontraram em nossa História. Então resolveram reciclar o cangaceiro, assassino e cruel bandido nordestino para o papel de Pancho Villa tupiniquim. O engodo pegou muito bem e até hoje não falta aqui, quem acredite que Lampião foi um herói popular. O outro, se fosse possível conferir uma classificação política ao Conselheiro, teríamos que defini-lo como reacionário, pois ele era contra a república e favorável a uma restauração monárquica. Ele não queria fazer revolução coisa nenhuma, queria apenas o mesmo que é desejado por todas as seitas de ascetas: viver de uma determinada maneira no interior de seu reduto.

Entretanto, estes dois "heróis" é o ganha pão de muitos cineastas baianos que, como Conselheiro, vivem à sua maneira, no interior de seu reduto.

Sei não conterrâneo, um presente de grego assim, os paraibanos não merecem!!!!

Jamil

Mas, os meus Heróis continua sendo nordestinos: Dédé, Didi, Zacarias e Mussum!

Filipe disse...

Tais eventos não perdem seus méritos devido à presença de parte do público que os frequenta. Neste Seminário Internacional que se inicia hoje, é inegável que existem nomes interessantes para as temáticas de cada debate, visando uma troca de ideias com o público e a (re)produção de conhecimento cinematográfico. É claro que essa semana será um ótimo momento para observar a presença de tipos que vão para o Seminário somente com o intuito de se auto panfletar, mais para ver e serem vistos, do que para debater e entender mais sobre a arte do cinema. No mais, o evento continua sendo interessante.

Sobre o comentário de Maria, não devemos relacionar a realização em Salvador de eventos significativos, com o momento de estagnação criativa e de crise industrial que o cinema baiano se encontra. Não existe indústria cinematográfica baiana por diversos motivos, desde a inexistência de salas que contemplem a exibição das produções locais, até a falta de incentivos financeiros que permitam tais produções. Os recursos são quase que totalmente oriundos dos editais da Secult. É público e notório que esta Secretaria tem sérios problemas em repassar as verbas para os vencedores dos editais, atrasando, e muito, o processo de início das filmagens. Sim, é interessante que a máquina pública financie e fomente as manifestações culturais, mas para se ter um aumento nas produções cinematográficas genuinamente baianas e sairmos do estado de "terra arrasada" do cinema, fazem-se necessário que outras fontes de recursos estejam disponíveis para os realizadores. Cinema é indústria, os filmes têm que ser exibidos, vendidos; o público e a publicidade têm que dá retorno financeiro para futuras produções. Só por esse caminho será possível o surgimento de uma mão de obra local, técnica e artística, que possa se sustentar com essa profissão. A explicação para o termo "terra arrasada" está relacionada com a crise produtiva e financeira de nosso cinema, mas não com a periodicidade de eventos como o Semcine. São duas esferas diferentes.

André Setaro disse...

Há, Felipe, nos seus comentários, lucidez e coerência. Concordo com você. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. O interessado verdadeiramente em cinema tem muito a conferir no VI Semcine. E que se abstraia, então, da fauna festiva, pseudo-intelecual e pseudo-cinéfilica, que para lá se dirige em clima de 'contaminação carnavalesca'.

Romero, a Paraíba já tem eventos significativos. Não queira os nossos em processo de 'transfer'.

Romero Azevêdo disse...

Caro Setaro, não é que eu "queira" os eventos soteropolitanos, parece-me que são vocês( ou parte de vocês) que não querem.
Quanto ao conterrâneo, ele está certo no que refere a Conselheiro e Lampião. Aproveito para indicar esta leitura esclarecedora aos interessados:
Os Cangaceiros,
Ensaio De Interpretaçao Histórica

Autor: PERICAS, LUIZ BERNARDO
Editora: BOITEMPO EDITORIAL

Anônimo disse...

Felipe,

É bem elegante tuas colocações. Só achei um pouquinho estapafúrdia a abordagem da questão: indústria cinematográfica. Nem o eixo Rio-São Paulo fala dessa "roda-gigante!"

O que eu questionei é a falta de retorno desses eventos. Sim temos debatedores de renome, temáticas instigantes e enorme estagnação. É um saldo que não bate, né! Sim, o cinema tem que ser celebrado e discutido mas, tem que ser disseminado para dispertar, instigar e depois, ser reaproveitado.

Quanto ao SemCine é um evento grandioso e importante. Tomara que ele nos instigue, nos disperta para uma mudança de panorama de "terra arrasada" de cinema. Que possamos amar nossos cineastas e seus filmes. Que eles sejam talentosos, humildes e bem-humorados. Será que tô pedido muito?

saudações

Maria

Anônimo disse...

Pois é, Maria.

Esta coisa de resultado positivo, já está tendo. Em 6 anos de SemCine, o dono do Evento já recolheu alguns dividendos. Nosso "El Patriarca" foi o único até agora que fez uma co-produção com o Chile e um longa-metragem de nome: Antonio Conselheiro.

Conterrâneo da Paraíba, anotei o nome do livro. Vou ler sim, acredite.


Abraços

Jamil

Filipe disse...

Na real, o que eu quis dizer com a abordagem estapafúrdia da indústria cinematográfica, foi apenas que o buraco da crise do cinema na Bahía é mais em baixo do que possíveis retornos práticos que esses eventos podem trazer.
Não creio que exista qualquer chance de mudança no panorama do cinema baiano a partir desses eventos. O saldo vai continuar sem bater.

Um abraço,
Filipe Dunham