O realizador cinematográfico baiano Tuna Espinheira, em artigo que publicou neste blog (e também publicado na coluna de Opinião do jornal soteropolitano A Tarde) no dia 2 de março do ano em curso, que tomou o título Para Tuna, a indignação bate mais forte, foi, segundo ele, mal interpretado na designação de uma pessoa do meio cultural baiano. Solicita-me a sua republicação, que é seguida de um desabafo e da nota que confundiu os alhos com os bugalhos de autoria de Samuel Celestino. Faço o que ele pede à guisa de esclarecimento e para que os pontos possam, devidamente, ficar nos seus is. A imagem que ilustra este post é de Cascalho, seu primeiro longa metragem, versão cinematográfica do romance homônimo de Herberto Salles.
Eis o texto republicado:
“La Nave Vá...” Esta seria a doce resposta que daríamos aos que nos perguntam sobre olançamento de Cascalho. Os ditames das circunstâncias nos impedem de retrucar com esta placidez de espírito.É uma situação embaraçosa exercitar explicações suficientes para dirimir que, embora “Lá Nave Vá”, segue enfrentando uma atroz calmaria.
Não seria muito difícil escrevinhar um relatório sobre as mazelas inerentes a uma produção de baixo orçamento, mas isto não passaria de uma tentativa de requentar um assunto velho e indigesto, correndo o sério risco de cair no “Muro das Lamentações”, desaguando em mágoas e outras inúteis perquirições no campo da metafísica.
Mas, em meio a tantas perguntas que me fazem, uma acerta agônicamente e, praticamente, me emudece: “Porque não passou no escurinho do cinema Glauber Rocha?” Decifrar este enigma que o diabo amassou realmente me devora!
O Complexo que trás o nome do luminoso Cineasta, possui quatro salas de exibição, com equipamentos de última geração, contando-se aí, projetores para filmes em película e Mídia Digital (o Código Raien). Coincidentemente, o nosso filme em questão, possui os dois formatos. Ralou para ficar pronto. Hoje está apetrechado, com todos os requisitos técnicos exigidos para toda e qualquer requintada projeção comercial.
O Complexo de Cinemas Iguatemi, brindou o nosso filme com uma luminosa festa de pré-estréia, cedeu uma sala em Salvador e outra em Feira de Santana. Quase um mês depois veio a inauguração deste outro “Complexo”ao qual estamos nos referindo, portanto em pleno lançamento da nossa fita, fizemos o devido contato, reiteramos, por incrível que pareça, nada foi respondido, perpetrou-se o mais completo e abominável “Ouvido de Mercador”.
O filme barrado no baile é um produto genuinamente baiano, 80% dos técnicos e atores são prata da casa, sua produção deve-se a um Edital promovido pelo Governo Estadual. Neste 2009-DC estamos comemorando o cinquentenário do Cinema Baiano (de longa metragem) que se iniciou com o filme, Redenção, de Roberto Pires ( o verdadeiro Borba Gato do cinema baiano), Cascalho completa este período emblemático. É uma mera convenção, mas faz parte das comemorações de cinqüenta em cinqüenta anos, acontece agora com Redenção e Cascalho.
A Bahia sempre teve os seus burocratas da cultura, agora temos um “coronelete” de plantão, uma raça julgada extinta. Censor, porteiro kafkiano, entrincheirado sob os podres poderes, enodoando o nome do libertário Glauber Rocha. Vai chegar o dia em que o personagem, António das Mortes, descerá das telas para prestar contas com este dito cujo. Da nossa parte, sem entrar no mérito do valor, podemos afirmar: Cascalho não é um filme datado. O silencio imposto pela inexplicável e cruel proibição no espaço que resultou da briga do cinema baiano como um todo, não vai ofuscar o direito à vida desta fita, ficará apenas como sendo uma espécie de marca da maldade.
Missiva ao Fundo de Cultura
Sr. Ciro Nunes Sales,
Acabo de receber um comunicado participando a negativa do Fundo de Cultura, ao projeto Produção do DVD do Filme Longa Metragem Cascalho, de Tuna Espinheira. O que causa estranheza é a ausência de explicações do nível baixo de cada votante desta Comissão. Ora, formada por pessoas de alto nível de conhecimento dos assuntos ligados ao cinema, como seria de esperar, seus membros não teriam nenhuma dificuldade em apontar as razões para a não aprovação, sobretudo em caráter de “pré-seleção”, como está dito no comunicado. Temos convicção de que apresentamos um projeto honesto, bem fundamentado, bem justificado com vistas a festejada inovação de aceitamento intitulado “Natureza Espontânea”.
Acabo de receber um comunicado participando a negativa do Fundo de Cultura, ao projeto Produção do DVD do Filme Longa Metragem Cascalho, de Tuna Espinheira. O que causa estranheza é a ausência de explicações do nível baixo de cada votante desta Comissão. Ora, formada por pessoas de alto nível de conhecimento dos assuntos ligados ao cinema, como seria de esperar, seus membros não teriam nenhuma dificuldade em apontar as razões para a não aprovação, sobretudo em caráter de “pré-seleção”, como está dito no comunicado. Temos convicção de que apresentamos um projeto honesto, bem fundamentado, bem justificado com vistas a festejada inovação de aceitamento intitulado “Natureza Espontânea”.
Um filme genuinamente baiano, longa metragem produzido com a agônica circunstancia do baixo orçamento, ser vetado ao legítimo direito de poder ser distribuído/difundido através da comercialização democrática dos DVDs, é algo cruel, fere a combalida cultura, como um todo, da cinematografia baiana.
Paira dúvidas sobre uma efetiva análise técnica do projeto em questão, ou as pessoas que o julgaram são PHD em outros saberes e não nas questões pertinentes ao cinema! Seria de bom alvitre, para dirimir este imbróglio, que a Comissão, através do relator, apresentasse os motivos que embasaram a recusa ao primo-canto da pré-seleção.
Atenciosamente,
Tuna Espinheira
Atenciosamente,
Tuna Espinheira
Eis o seu desabafo recente:
Mais realistas que o Rei
"A missiva acima, dirigida ao Fundo de Cultura, foi elaborada no calor da hora, pelo sim e pelo não, não desdigo nada, não movo uma vírgula do lugar. Mas, hoje, um dia depois, resolvi clarear os porquês das minhas dúvidas levantadas (postas na referida missiva) quanto ao julgamento sumário, uma espécie de guerra sem quartel, do meu projeto. Para evitar suspense, também vou sentenciar ( à moda do Fundo...) sumariamente: Meu nome é que foi julgado, não o meu projeto.
"A missiva acima, dirigida ao Fundo de Cultura, foi elaborada no calor da hora, pelo sim e pelo não, não desdigo nada, não movo uma vírgula do lugar. Mas, hoje, um dia depois, resolvi clarear os porquês das minhas dúvidas levantadas (postas na referida missiva) quanto ao julgamento sumário, uma espécie de guerra sem quartel, do meu projeto. Para evitar suspense, também vou sentenciar ( à moda do Fundo...) sumariamente: Meu nome é que foi julgado, não o meu projeto.
O “causo” eu conto, como o “causo” foi. Algum tempo atrás, na labuta agônica do lançamento do meu filme, genuinamente baiano, CASCALHO, o gerente do Complexo UNIBANCO-GLAUBER ROCHA, fazendo ouvido de mercador às tentativas dos produtores para uma negociação para que o filme tivesse sua hora e sua vêz no sagrado espaço que leva o nome do cineasta maior do Brasil. A resposta obtida foi o veto silencioso, com cheiro de desprezo.
Como nunca fui um bom cabrito, (mesmo porque sou de Capricórnio), botei a boca no trombone, veiculando o meu berro no jornal A Tarde, na austera e democrática coluna Opinião. O artigo causou um certo frisson, provocando, ao mesmo tempo alguns mal entendidos, parte pela razão de que me neguei a citar o verdadeiro nome do personagem tristemente principal do meu texto, preferindo na data e hora que escrevi, chamá-lo de “coronelete”. Como o Cão atenta, quem quiser que duvide! Naquele período histórico a bola da vez, ou melhor o Judas da vez, era o Secretário da Cultura, Marcio Meireles. Estorava desintelingencias em vários segmentos da área cultural. Inúmeras pessoas, de níveis diferenciados, (talvez eu tenha pecado por um ato falho de comunicação do meu escrito), entenderam que o dito cujo, “coronelete”, só poderia ser o gestor da Secretária de Cultura.
Como quem avisa amigo é, não me faltou conselhos para tornar público que a bala que lancei certeiramente, não podia fazer às vezes de bala perdida, ou torna-se um legitimo “causo” digno da historieta: “Atirou no que viu e acertou no que não viu”. Para encolher estes dizeres vou xerocar e replicar (abaixo deste) as duas matérias que atraíra, pela lei da gravidade, meu nome para o rol dos morféticos. Trata-se simplesmente do meu já relatado artigo e de uma nota postada pelo mais ilustre cronista político, Samuel Celestino, em seu próprio blog, onde seus escritos costumam ser garimpados à luz de lupas pela classe política.
Este relato espantoso, que poderia ser cordelizado se assemelha aquela máxima do Governador Mangabeira: “Pense no maior o absurdo... Pois na bahia já aconteceu”. A bajulice congênita dos mais realistas do que o Rei, levou meu nome, já na categoria de morfético, Pela incúria, engano, e má fé) a julgamento, o projeto ficou de fora. A morte anunciada do projeto só não do meu conhecimento. “Triste Bahia”.
Em tempo: Para não dizer que não falei de flores, o nome do “coronelete” (gênese deste furdunço) é Claudio Marques, nenhum parentesco com o genial autor de O Capital, muito menos com os irmãos Marx"
Este relato espantoso, que poderia ser cordelizado se assemelha aquela máxima do Governador Mangabeira: “Pense no maior o absurdo... Pois na bahia já aconteceu”. A bajulice congênita dos mais realistas do que o Rei, levou meu nome, já na categoria de morfético, Pela incúria, engano, e má fé) a julgamento, o projeto ficou de fora. A morte anunciada do projeto só não do meu conhecimento. “Triste Bahia”.
Em tempo: Para não dizer que não falei de flores, o nome do “coronelete” (gênese deste furdunço) é Claudio Marques, nenhum parentesco com o genial autor de O Capital, muito menos com os irmãos Marx"
Eis a nota que saiu no blog de Samuel Celestino:
Antonio das Mortes contra Márcio Meirelles
"O cineasta Tuna Espinheira, nome de referência nacional e um dos expoentes da intelectualidade baiana, com o artigo "Cascalho, o Filme em Cartaz", que publica hoje na terceira página de A Tarde, reserva um parágrafo devastador contra o secretário Márcio Meireles, da Cultura, corvo que pousou também sobre o filme que realiza. Diz: "A Bahia sempre teve os seus burocratas da cultura, agora temos um "coronelete" de plantão, uma raça julgada extinta. Censor, porteiro kafkiano, entrincheirado sobre os podres poderes, enodoando o nome do libertário Glauber Rocha. Vai chegar o dia em que o personagem Antônio das Mortes descerá das telas para prestar contas com este dito cujo." Bem, de minha parte que Antônio das Mortes seja breve, rápido e certeiro."
4 comentários:
Ótimo esclarecimento! É realmente um absurdo! Só porque é sócio-proprietário do Unibanco Glauber, só porque o espaço é privado, só porque o filme de Tuna não é inédito, só porque o filme não presta, o Sr. Cláudio Marques se acha no direito de não exibi-lo? Só por isso? Coronelete!!!
Pouco conheço do assunto. Aliás, tudo de que tenho conhecimento vem de informações no seu blogue.
Mas o resumo da ópera é o velho "coronelato". Infelizmente, a Bahia tem um muito recente (Tonico Malvadeza) que deixou marcas.
É assim mesmo, essas coisas são difíceis de extirpar!
Êta figurinha enrustida é este Claudio Marques.
Quando precisa de apoio, afirma que a "coisa" é coletiva, é da comunidade. Quando alguém quer fazer o uso da mesma, diz que a "coisa" é privada.
"1- O produtor e diretor de cinema Cláudio Marques, idealizador do Espaço Unibanco de Cinema em Salvador, trouxe seu posicionamento sobre a polêmica acerca do imbróglio envolvendo o empreendimento e a Prefeitura Municipal de Salvador. De pronto, firmou-se o apoio da ABCV em defesa do espaço, bem como para a ampliação do debate, entendendo como interesse da comunidade, para uma reflexão ampla no que tange a re-ocupação do centro histórico de Salvador." (ABCV, abril de 2009)
As bobagens continuam e ganham terreno. O filme de Tuna é um bom motivo para repensarmos as idiotices temáticas que assolam o cinema brasileiro contemporâneo. Só se falam em favelas, encontros amorosos, humor elitista e por ai vai... Claro que existem as exceções, mas são poucas. O filme de Tuna é uma obra importantíssima nessas quadras que vivemos, nos traz uma leitura e re-leitura das histórias e estórias da Chapada Diamantina, uma análise socioeconômica e romântica das mazelas e louros que marcaram o período dos diamantes. Mostra a fugacidade dos homens daquela época, sobretudo junto ao acumulo e a extirpação de riquezas... Ali encontramos elementos históricos didáticos sobre a mentalidade de uma época... As manifestações culturais, como a expulsão de uma autoridade não quista pelos coronéis locais, isso tudo através de um rito popular muito aplicado nas plagas nordestinas – rito que une música, discurso e uma orientação política... Um momento destacável no filme... Uma riqueza imensurável nas telas do cinema... Ali encontramos um “mix da nossa cultura política”...As bobagens continuam e ganham terreno...Afinal, o filme não “passa” no Glauber por questões meramente pessoais, pois técnicas, artísticas e mercadológicas não justificam a não projeção do filme de Tuna. E ainda digo mais...Esse filme e o livro homônimo do romancista baiano Herberto Sales deveriam entrar como obrigatoriedade nos cursos preparatórios para alunos da UFBA e das universidades estaduais, bem como toda rede municipal e estadual de ensino da Bahia. Qualquer mente em sã consciência sabe que o filme é “transdisciplinar” ou “pandisciplinar” e contempla “um buraco na formação” dos alunos e pessoas, de uma forma geral, que não sabem da História do Brasil e da Bahia. Então... Chega de idiotices no cinema brasileiro ou como costumo dizer um monte de gastadores do erário público e privado jogando “a grana pelo ralo”. O que vale é mostrar o Brasil, dizer o que faz o Brasil Brasil... Nos mostrar sobre a perspectiva da criatividade, da potencia criativa que temos...Vide Gauber, Nelson, Silvio Tendler e tantos outros que “sacaram” o que deve ser o cinema brasileiro. Por fim... O filme de Tuna tem todos os méritos devidos e deve ser “passado” para uma multidão... Além, muito além do cinema!
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