Seguidores

09 fevereiro 2009

A graça de Peter Sellers e Blake Edwards

Vi recentemente no Telecine Cult a admirável comédia Um convidado bem trapalhão (The party, 1968), de Blake Edwards, com o impagável Peter Sellers e a francesa Claudine Longet (que desapareceu do cinema - casada com o cantor Andy Williams, tinha uma cara bonitinha mas pouco talento). O que posso dizer é que se trata de uma das maiores comédias feitas em todos os tempos. Edwards tem um timing preciso, um sentido de espetáculo que lhe permite um exercício de fascínio por meio de sua mise-en-scène. Ganhou, há poucos anos, um Oscar pela carreira, e subiu ao palco numa cadeira de rodas em disparada a qual, quando entrou no proscênio, provocou, como em seus filmes, verdadeira demolição. Suas gags, em The party, são hilariantes e muito se deve, também, à colaboração, como intérprete, de Peter Sellers. Eis aqui um caso interessante de como um ator pode ser também co-autor de uma obra cinematográfica. Sem Sellers não existiria Um convidado bem trapalhão. São casos isolados na história do cinema. Os irmãos Marx, por exemplo, considero-os co-autores dos filmes em que trabalharam. Às vezes, casos de exceção, um músico pode vir a ser também co-autor, como é o caso de Michel Legrand em suas parcerias com Jacques Demy, principalmente em Os guarda-chuvas do amor (Les parapluies de Cherbourg, 1964) e Duas garotas românticas (Les demoiselles de Rocheford, 1966). Falou-se, a respeito destes filmes, que há, neles, uma verdadeira mise-en-musique.

Sellers é um ator indiano desastrado que é convidado, por acaso, para uma festa organizada por um grande produtor de Hollywood. O filme se passa todo neste party e ele promove as maiores trapalhadas, a chegar quase à destruição da própria mansão.

Tenho por Blake Edwards a maior admiração. Embora com filmes meio fracos no início da carreira (De folga para amar, Anáguas à bordo...), ainda que plenamente assistíveis, Edwards começa a mostrar seu fôlego de regista em Bonequinha de luxo (Breakfast at Tiffany's , 1961), mas não se pode deixar em branco os 10 episódios que dirigiu, entre 1958 e 1959, para o seriado televisivo Peter Gunn, com Craig Stevens. Mas, de repente, decidiu incursionar pelo thriller numa experiência no terror: Escravas do medo (Experiment in Terror, 1962), com Glenn Ford e Lee Remick, obra bem sucedida, assim como o drama agônico sobre o alcoolismo Vício maldito (Days of Wine and Roses, 1962), com Jack Lemmon e, novamente, Lee Remick.


É em 1963 que realiza A pantera cor-de-rosa (The pink panther), comédia que dá início a uma série de grande sucesso, já com Peter Sellers no papel de Closseau. Entre os filmes de Blake Edwards que mais admiro (porque o post não permite agora uma análise de sua filmografia completa) são: A corrida do século (The great race, 1965), insuperável, todos os da pantera menos aqueles feitos após a morte de Sellers, Sementes de tamarindo (The tamarind seed, 1974), com Omar Sharif e Julie Andrews, e Victor/Victoria (1982), comédia notável, talvez a última feita com graça e espírito, engenho e arte por Hollywood, entre outros, evidentemente. Mas na última década de suas atividades como realizador, exceção se faça a Victor/Victoria, realizou filmes muito abaixo de sua capacidade criadora. Mas quem realizou Victor/Victoria, A corrida do século, The party, Bonequinha de luxo, entre mais alguns, perdoa-se tudo.

4 comentários:

Anônimo disse...

A cena com o elefante pintado na festa é uma das mais engraçadas de todos os tempos.

abraços
Janot

Jonga Olivieri disse...

"The party" é uma comédia inesquecível, principalmente pela presença de Sellers e seu personagem, sua ingenuidade... O encontro dele com o seu ídolo de faroeste é algo... a cena do jantar, idem. Um grande ator, um comediante excepcional como Sellers, segura um filme.
Mas, sempre achei que o seu rítmo sofre uma espécie de quebra no final quando vira uma chanchada encharcada, com direito a espumas de sabão, elefantinhos e disparadas ladeira abaixo.
Mas, veja bem, nada contra, apenas um detalhe que sempre me chamou a atenção.

André Setaro disse...

O ator que faz aquele louro alto e canastrão, ídolo de Sellers em 'The party', é Denny Miller, que foi Tarzan nos anos 50 (1959) num único filme: "Tarzan, o filho da selva", que Sellers chama de 'Wyoming Bill' Kelso'. Canastrão dos piores e Blake Edwards consegue enfatizar o seu ridículo. O filme é de um ilustre desconhecido: Joseph M. Newman

Anônimo disse...

No sábado, 7, postei no Blog Demais a nota "Comédias revistas", que coincidentemente trata de "Um Convidado Bem Trapalhão", motivo de comentário no Setaro's Blog:

Duas comédias inteligentes e deliciosas foram revistas em DVD, neste sábado, 7. Ambas da coleção "Cinemateca Veja". Uma, "Um Convidado Bem Trapalhão" (The Party), de Blake Edwards, 1968, com Peter Sellers como um figurante indiano que após destruir o set de filmagens onde trabalhava, é convidado por engano para uma grande festa na casa do produtor do filme, onde arranja novas confusões.
A outra, "Como Roubar um Milhão de Dólares" (How To Steal a Million), de William Wyler, 1966, com Audrey Hepburn, Peter O'Toole, Hugh Griffith, Eli Wallach e Charles Boyer. A narrativa é cheia de trapalhadas e romance. Audrey é filha de um francês que é um falsificador de arte. Quando descobre que seu pai corre risco de ser denunciado como farsante, decide roubar uma escultura falsificada de Cellini de um museu com ajuda de um ladrão da sociedade. Foi totalmente rodado em autênticas locações em Paris.