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Havia, portanto, uma quantidade tão grande de realizadores de gênio que os chamados do segundo escalão podem ser considerados também cineastas de talento inquestionável, a exemplo de Dino Risi cujo Aquele que sabe viver (Il sorpasso, 1962), com Jean-Louis Trintgnant e Vittorio Gassman, marcou toda uma geração, sem esquecer o seu fascinante Férias à italiana. O cinema italiano atual praticamente desapareceu diante daquele efervescente de décadas atrás no qual pontificavam nomes expressivos como Francesco Masselli, Marco Belocchio (De punhos cerrados), Florestano Vancini (Enquanto durou o nosso amor), Pietro Germi, Ermanno Olmi, Valerio Zurlini (Dois destinos, A primeira noite de tranquilidade...), Carlo Lizzani, Damiano Damianni, o grande Francesco Rosi (O bandido Giuiliano é uma obra-prima sem tirar nem por e seu nome deveria ter constado da enquete), Luigi Comencini, Antonio Pietrangeli, Ugo Gregoretti. E vou parar por aqui para não omitir algum outro nome poderoso.
Mas esqueci de um diretor que não poderia ter esquecido: Mario Monicelli, como bem observou Romero Azevedo nos comentários. Ainda que não esteja no mesmo patamar de Fellini, Visconti, Antonioni, Monicelli é da genial equipe do segundo time do cinema italiano esplendoroso dos anos 50 e 60. Nunca posso esquecer de Os companheiros (I compagni), A grande guerra, O incrível exército de Brancaleone, Pais e filhos, entre tantos. Acabei de ver, agora, um documentário muito bom sobre a figura ímpar de Marcello Mastroianni realizado por Annarosa Morri e Mario Canale, Marcello, uma vida doce (Marcello, una vita dolce, 2006) no Telecine Cult. E há um depoimento de Mario Monicelli, que destaca a participação deste grande ator em Os companheiros, entre outros. Há um Monicelli que se pode classificar como uma excelente comédia tipicamente italiana e irressistível: Os eternos desconhecidos (I soliti ignoti, 1958), uma espécie assim de sátira a Riffifi chez les hommes, de Jules Dassin, que fez imenso sucesso na época. Vendo o filme sobre Mastroianni, lembrei-me de outro diretor italiano, Elio Petri, com o qual trabalhou, ao lado de Ursulla Andress, em A décima vítima. Mas Petri deve ser lembrado mais por A classe operária vai ao paraíso e Investigação sobre um cidadão acima de qualquer suspeita, ambos com Gian Maria Volonté, além de Os dias são contados. Há também Lina Wertemuller, que fez, pelo menos, um belo filme: Pasqualino Sete belezas. E outros, e outros, e outros. E Marco Ferreri? Bem, neste ritmo o post não acaba mais.
7 comentários:
Acabou, sem querer, omitindo: Mario Monicelli
Caro Romero. Como disse o professor Setaro, foram muitos os omitidos.
Mas não por descuido. Porém, porque eram tantos e tão bons que fazer uma lista de todos eles ultrapassaria as possibilidades reais de um blogue.
Outro fator é a distância histórica de nomes como Rosselini e o próprio De Sica, cujas obras remontam tempos logo após a II Guerra. Obras como "Roma, cidade aberta" ou "Ladrões de bicicleta" estão bastante distantes no tempo.
Fellini, cujo desaparecimento foi um pouco mais recente ficou mais marcado.
Acredito, como Jonga, que Rossellini e De Sica, porque mais antigos, já não estão mais na memória pela distância histórica (sic). Mas discordo, porque o verdadeiro cinéfilo, ou aquele que se diz crítico de cinema, não pode, sob nenhum pretexto, desconhecer as obras de Rossellini ou De Sica. Este, autor de obras inesquecíveis como 'Ladrões de bicicleta', 'Milagre em Milão', 'Vítimas da tormenta' 'Umberto D', e, mesmo, 'O teto', 'O juízo universal', entrou na última fase de sua vida num esquema mais comercial, perdendo, inclusive, a condição de autor. Autor era dos filmes citados, mas não se pode enxergar autoria em obras como '7 vezes mulher', com Shirley MacLaine, 'Toureiro sem sorte', com Peter Sellers', entre outras, ainda que seu canto de cisne, 'A viagem', com Sophia Loren e Richard Burton, seja respeitável. Mas, na minha opinião - e na de André Bazin, desculpem o pedantismo, De Sica era um autor quando trabalhava os roteiros de Cesare Zavattini e quando o neo-realismo estava no seu apogeu. Mesmo 'O teto', apesar de um bom filme, já é de uma fase na qual o neo-realismo estava a perder sua força de novidade e outros realizadores apresentavam uma nova forma de abordar o mundo, a exemplo de Fellini e de Antonioni, 'o realismo do interior', como se pretendeu dizer deles.
Desculpa não professor, você pode. Estou atenta a próxima enquete, a Anna Magnani é divina, Noites de Cabíria, eslendorosa.
Caro Jonga, tens razão.
Serão cinéfilos todos os que lêem o seu blogue?
Até acredito que boa parte o seja. Mas, além dos curiosos, os mais jovens não devem conhecer autores mais antigos como nós... os mais antigos.
Não que tenham desinteresse. Ou que não se preocupem, mas, veja bem, de lá para cá muita coisa se modificou. Como o uso constante da cor e algumas conquistas técnicas (não me refiro ao computador, pelos deuses!) que se firmaram no cenário da cinematografia.
Só acho que os cinéfilos devem assitir até Melies, Grifith nem se fala. E Chaplin, e...
Falar nisso quem é Ferdinand Zecas (é assim o nome) que você citou em uma de suas entrevistas sobre "A paixão de Cristo"?
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