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18 dezembro 2008

Da festa de inauguração do Espaço Glauber



Convidado, fui terça passada à inauguração do Espaço Unibanco de Cinema Glauber Rocha. O Largo do Teatro, como se chamava antigamente o local, estava em festa. Repórteres televisivos, jornalistas, realizadores cinematográficos, enfim, a Bahia parecia estar presente em peso ao evento. O complexo de salas excedeu as minhas expectativas, porque muito abrangente, a acomodar quatro salas de exibição de alta tecnologia, além de uma ampla e sortida livraria com livros de cinema, um restaurante, cuja vista dá para a Igreja da Barroquinha, e possui excelente atmosfera, galeria de arte, e um terraço que dá para a Praça Castro Alves e, ao fundo, a fascinante Baía de Todos os Santos.

Muita gente presente: Juca Ferreira, Ministro da Cultura, Orlando Senna (que foi há pouco o Secretário do Audiovisual), Leon Cakoff (organizador da exitosa Mostra Internacional de São Paulo que é sócio do empreendimento), Adhemar de Oliveira (do Unibanco, outro sócio de Cláudio Marques), D. Lúcia Rocha, mãe de Glauber e aquela que está a preservar a sua memória, forte aos 90 anos, sua neta Paloma (e Joel Pizzini), filha de Glauber, Erik Rocha, filho, e também cineasta premiado, enfim, quase a família todo do autor de O dragão da maldade contra o santo guerreiro. Considerando que aqui não é coluna social, seria desgastante citar todos que a memória permite, mas, mesmo que faça omissão de alguém, vêem-me a memória: Walter Lima, Raul Moreira, Sofia Federico, Pola Ribeiro, Roque Araújo, Lúcio Mendes, Joel Almeida, Hamilton Correia, Antonio Piton, Lula Oliveira, Adler Kibe Paz, Braga Neto, Jacques de Beauvoir, Fernando da Rocha Perez,Tonny Oliveira, Conceição Senna (esposa de Orlando, que faz uma ponta em O dragão...), Malu Fontes, Guido Araújo, Oscar Santana, Petrus Pires, Ildásio Tavares, etc, etc, etc.

Ao final da exibição de O dragão da maldade contra o santo guerreiro, servido um coquetel. O que foi bem pensado, pois geralmente, pelo menos aqui na Bahia, serve-se, em eventos do tipo, o coquetel antes do filme e, quando se está ainda na segunda dose, vem o chamado para o filme. O que é frustrante para aqueles que gostam de aproveitar o comes e bebes.

O dragão da maldade contra o santo guerreiro em cópia restaurada permite deslumbrar as cores originais obtidas pela fotografia de Affonso Beato. O filme se caracteriza pelos planos-seqüências, verdadeiros afrescos pictóricos da região árida de Milagres. Há planos gerais que se poderia dizê-los eisensteinianos, como o que mostra a imensidão de uma pedreira e a pequenez de uma multidão de famintos incrustada nela. Entre tantos, e não estou aqui propriamente para fazer um comentário do filme, mas somente a dizer algumas coisas en passant, há um no qual a câmera fixa mostra Othon Bastos e Hugo Carvana a jogar sinuca e, no seu final, a câmera faz ligeira panorâmica para mostrar Antonio das Mortes sentado numa mesa a tomar uma garrafa do aguardente Jacaré. Ou seja, o espectador pensa que Hugo e Othon estão sozinhos, mas, de repente, a surpresa de revelar, por um movimento de câmera, a presença do matador de cangaceiros que jura em dez igrejas. Glauber gosta de incluir os personagens dentro do quadro quando menos se espera. Num momento de intensa baderna, Antonio das Mortes entra no quadro fílmica e olha para a câmera, dando a impressão de que está confuso com tudo aquilo. E o plano inicial, com Antonio a atirar vindo da esquerda e desaparecendo pela direita, é muito inventivo, pois somente quando ele sai de quadro é que entra o cangaceiro baleado que morre.

2 comentários:

Jonga Olivieri disse...

Um Espaço com "E" maiúsculo, parece, pela sua discrição à altura da grandiosidade de nosso imortal Glauber Rocha.
Aliás, tenho que rever este filme pois as cenas a que você se refere eu nem me lembrava que existissem, pois o vi uma única vez há muitos (e põe muitos nisso) anos atrás.
Talvez poruqe sempre dei preferência a "Deus e o diabo..." e "Terra em transe".
Mas "O dragão..." é também, e sem dúvida, um filme de excelente qualidade.

Anônimo disse...

Muito bom o espaco, vamos torcer para nao ficar entrege ao deus-dara' como tudo de bom na bahia.