É o que diz o resultado da enquete na qual votaram 52 leitores deste blog. 15 (28%) optaram pela "falta de educação" do cinéfilo atual que conversa em celular durante a projeção, além de risadinhas fora de hora, do uso monstruoso do Iphone em plena exibição de um filme, do mastigar incessante da pipoca (e o barulho do amassar do saquinho?), das conversinhas ao pé do ouvido, et caterva. Em segundo lugar, com 14 votos (26%), os votantes consideram que tal comportamento é "coisa mesmo de débeis mentais". O fato é que, como já cansei de escrever neste blog e alhures, ir ao cinema hoje se constitui num inferno, pois o comportamento da platéia é selvagem. O público dos complexos de salas se comporta como se fossem vândalos. Não há mais paz e sossego para que o amante do bom cinema possa ver um filme em silêncio. Tudo é apatia diante do espetáculo cinematográfico. Na verdade, e também a repetir o que venho dizendo, o ir ao cinema atualmente é, apenas, uma das fases do processo de shoppear. Vai-se não ao cinema, mas ao shopping e, nele, depois de consumir e passear, como complemento vem a sala exibidora e o filme é escolhido ao acaso - pelo cartaz bonito, pela promessa de efeitos especiais, etc.
11 comentários:
Concordo inteiramente. São poucos aqueles que vão ao shopping apenas para assistir a um filme. Felizmente eu sou um deles.
Setaro, acabei de ver "Ontem,hoje e amanhã". No segundo episódio o maestro Armando Trovajoli faz uma ponta( ele aparece regendo sua orquestra em outro filme, com Alberto Sordi, que não lembro o título agora). Mas, o detalhe importante é o seguinte: ví sem a interferência de pipocas gordurosas, debéis mentais conversando, celulares tocado et caterva( como bem diz você). Ví em casa, em silencio, concentrado na película. Uma maravilha.
Claro que não vou comparar, Romero, o prazer de ver um filme na tela grande do cinema em relação ao DVD, e, além do mais, não tenho nenhum 'home theatre'. Mas quando vejo um filme no disquinho mágico tenho paz e sossego o que não acontece quando vou às salas exibidoras. Talvez já esteja uma pessoa neurastênica, mas o fato é que me aborreço, minha tensão sobe, posso, inclusive, ter uma 'coisa', um incômodo, por causa da selvageria do comportamento da platéia. São uns débeis mentais os que frequentam os complexos de salas. Mas a demência não se restringe às salas comerciais dos complexos, ela se manifesta também nas chamadas salas alternativas, cheias de pseudo-cinéfilos que vão mais para se exibir do que por amor ao cinema. Os celulares tocam sempre nessas salas que se dizem alternativas e 'de arte'. Poucas aquelas pessoas hoje em dia que apreciam verdadeiramente o cinema. A enquete que fiz registrou 'falta de educação' e 'debilidade mental'. Concordo com o resultado. Sobre 'Ontem, hoje e amanhã', vi quando do seu lançamento. De Vittorio DeSica assinala mais um filme com a dupla Mastroianni-Loren do realizador de 'Ladri di biciclete' ("Matrimonio à italiana', 'Girassóis da Rússia'...).Há uma cena de 'strip-tease' que Robert Altman nos anos 90 faz a dupla repetir em 'Prêt-a-porter'. O entusiasmo de Mastroinni, porém, não é o mesmo nem a tesão do momento de 'Ontem, hoje e amanhã'. O filme é em cinemascope. A cópia em DVD está neste formato original?
Eu fui hoje ao Cinemark assistir "Rede de Mentiras" (completamente esquecível, diga-se de passagem) e eis que tem uma "gurizada" na sala. Eu imaginei: "po, estou na sala errada. Será que isso aqui High School Musical"? Perguntei a uma pessoa que estava do meu lado se aquela sala 4 era mesmo da exibição do filme "Rede de Mentiras" e ele me confirmou com a cabeça.
Fiquei realmente sem entender o motivo daqueles guris ali - que deveriam ter uns 13 a 14, sendo que a censura do filme era 16. E já imaginei o inferno que seria a sessão. Pessoas subindo e descendo as escadas, barulhos, risadas em momentos inoportunos, brincadeiras no meio da sessão e ainda contando com o apoio de uma pessoa adulta que os acompanhava, haja vista que a sua risada poderia ser ouvida por todo o bairro ali da Tancredo Neves e adjacências.
Eu acho que a saída, atualmente, é pegar as sessões das 20hrs. Assisti "A Duquesa" no horário das 21h15 na semana passada e não tive problemas. Platéia comportadíssima, foi uma excelente sessão.
É isso...
É uma cópia razoável porém não remasterizada( a matriz é da Cinemateca do Centro Experimental de Cinema-Roma),com formato cinemascope. Os riscos e alguns "saltos" na mudança de bobina dão a impressão de estarmos vendo o filme num cinema( cinema de bairro, com projeção a carvão bem diferente do xenon que vemos hoje)
A enquete resultou no bom senso de quem gosta de cinema e não se conforma com o que foi a conseqüência de cinemas em shoppings. Ou seja, a mistura de tudo, ou ainda o "samba do afro-descendente doido", que é o que vivemos hoje.
Fico preocupado com você porque afinal, passar mal e ter a pressão alterada por causa disto (é até compreensível) é um motivo para tal.
Concordo plenamente, Setaro. A ida ao cinema perdeu muito da magia de de um dia diferente. A sensibilidade ante os temas tratados ficaram à mercê das interferências tecnológicas e o desinteresse pelo momento enquanto cultura e prazer. É, como você e o resultado da enquete dizem, mais um cumprimento de um roteiro de diversão. Não sabem eles o que estão perdendo. A percepção de ter o cinema como um meio de crescimento cognitivo e cultural ficou fora de moda. Que pena. Os valores são outros... incutidos pela própria família, com hábitos totalmente descaracterizados. Lembro-me do filme A ROSA PÚRPURA DO CAIRO, cuja protagonista dedica-se a assisti-lo sucessivamente, e, de repente, ver sair da tela o ator,para viver a vida real, o que denota todo o envolvimento com o drama que se desenrolava. Enfim, os tempos são outros.
Um abraço,
Lygia Prudente
Você disse muito apropriadamente, cara Lygia: "A percepção de ter o cinema como um meio de crescimento cognitivo e cultural ficou fora de moda" As pessoas hoje vão ao cinema para consumir, e a sociedade contemporânea nunca estimulou tanto o consumo. É interessante observar o comportamento daqueles que vão ao Shopping Center Iguatemi. Enquanto andam pelos corredores, estão ansiosos, ansiosos para consumir alguma coisa mesmo que não precisem dela. Ansiosos para encontrar outros pessoas. Ansiosos pela gula dos 'fast food'. E o comportamento da platéia é um comportamento de vândalos, de perfeitos e acabados débeis mentais. Há poucos dias, um casal se sentou a meu lado e, para minha estupefação, meu espanto, tirou de uma sacola uma garrafa de vinho para bebê-lo em dois copos descartáveis de Coca Cola. No intervalo dos goles, que faziam barulho ao entrar guela abaixo, beijavam-se. E, de repente, ela atendeu o celular. O filme não lhe interessava em absoluto. Queria apenas estar ali no escurinho da sala exibidora para perturbar os outros. Mas o incrível é que, com raras exceções, não havia outros que se interessassem pelo filme que estava sendo exibido. A maioria estava entregue à algazarra, aos celulares, às pípocas, rindo, absolutamente ausente do espetáculo cinematográfico. Triste realidade. Dá vontade de não mais ir ao cinema e ficar em casa a ver os filmes em DVD.
A cópia em DVD de "Ontem, Hoje e Amanhã" não está em cinemascope, está em 4x3, infelizmente, vi só depois que comprei.
Caro André Setaro!
Aqui em Portugal a situação é idêntica. Felizmente ainda há salas onde é proibido comer pipocas ou beber, mas o inevitável telemovel acaba sempre por tocar. Na Cinemateca Portuguesa que frequentamos já lá vão década e que possui uma sala excelente para além de outr género Estudio, descobrimos sessões onde se exibem verdadira obras-primas com apenas uma duzia de espectadores e isso fala por si, mas os filmes da moda continuam a arrastar multidões baulhentas que visionam os filmes como se estivessem em casa.
Abraço cinéfilo
Rui Luís Lima
Só para constar, não sei se há mais de uma versão do filme, mas a que estou a falar é a Spectra Nova, e a legenda está horrível.
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