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15 maio 2008

"Ensaio sobre a cegueira"

Aplaudido de pé durante cinco minutos seguidos, na sua apresentação como filme de abertura do Festival de Cannes 2008, Ensaio sobre a cegueira (Blindness), de Fernando Meirelles, baseado em livro homônimo de José Saramago, ainda que na sessão para a imprensa não tenha sido ovacionado, deixa claro que Meirelles é um dos poucos realizadores brasileiros de trânsito internacional, um nome respeitado no cenário do exterior. O que implica em muita inveja por parte de outros cineastas que não conseguiram atingir a dimensão estelar do realizador de O jardineiro fiel. Alguns gostam de acusá-lo de que é mero executor de idéias alheias, uma espécie assim de diretor administrativo. O jardineiro fiel, cuja fonte é o livro de John Le Carré, desmente o dito, pois há uma tradução cinematográfica bastante pessoal e dotada de estilo brilhante. Mas o que se pode fazer com este pecado capital que é a inveja? Quando Anselmo Duarte ganhou em Cannes com O pagador de promessas só faltou ser amaldiçoado pela conquista, aliás, da única palma recebida, por filme, pelo Brasil - houve a palma de melhor diretor para Glauber Rocha em O dragão da maldade contra o santo guerreiro, houve a palma de melhor filme de aventuras para O cangaceiro, de Lima Barreto.

The constant garden ( O jardineiro fiel) já foi uma prova para Meirelles de sua competência como diretor que pode conduzir um filme de proporções internacionais. Aliás, é bom de ver que Domésticas é um trabalho bem elaborado que passou em brancas nuvens. Claro, não é lá grande coisa, mas um filme a reter, a considerar um cineasta que surge nesta obra. Cidade de Deus bastou, foi o suficiente para deixar Meirelles na nuvens. E daí os convites internacionais. É muito difícil se saber pensar cinematograficamente como Fernando Meirelles pensa. Ensaio sobre a cegueira, que, por enquanto, está invisível para o grande público e boa parte da crítica, é uma obra que se espera com certa ansiedade, a considerar tudo que já se disse aqui sobre o diretor.

Na foto, vê-se Julianne Moore (uma das mais marcantes atrizes do cinema contemporâneo) e Mark Ruffalo. O elenco ainda tem: Danny Glover (o narrador), Alice Braga (a sobrinha de Sonia Braga que lhe está a tomar o trono), Don McKellar (também o roteirista), Gabriel Garcia Bernal, entre outros. Uma epidemia faz com que habitantes de uma grande metrópole fiquem cegos. Apenas uma mulher não é atingida (Moore).

Mas mudando de água para vinho, de cegueira para visão, não posso deixar de parabenizar o Telecine Cult por ter exibido Cleópatra e Blade Runner nos seus formatos originais, isto é, em cinemascope. Será que o canal se deu conta do crime que estava a cometer? De qualquer forma, espero que tenha aprendido com os erros cometidos. Mas, e se continuar a deformar os filmes com o full screen?

2 comentários:

Jonga Olivieri disse...

Desde sua tese (filmada) na Faculdade de Arquitetura, Meirelles mostrou ser um realizador cinematográfico.
"O Jardineiro fiel" já proporcionou um Oscar de melhor atriz coadjuvante a Rachel Weizs.
Agora, filmando Saramago -- um gênio da literatura contemporânea -- tem tudo para despontar como um diretor de primeira linha.
Creio que não só você, mas todos esperamos pelo lançcamento deste filme.
As palmas em Cannes foram de "ouro" não apenas para Meirelles, mas para a cinematografia.

Rafael Carvalho disse...

O Meireles possue ainda poucos filmes na carreira, mas filmes de grande respeito. E mesmo que a crítica tenha ficado com pé atrás em relação a sua nova obra, é sempre bom esperar coisa boa dele, ele já provou que pode e muito. Aliás, estou lendo Ensaio Sobre a Cegueira atualamente e que material fabuloso o cara tinha nas mãos. Não acho que vá fazer feio.

Agora, é bom lembrar também que Linha de Passe, filme novo de Walter Salles, em competição, foi apresentado ontem para o público do festival e foi bastante bem recebido. Esse é outro diretor do qual tenho muito respeito no cinema brasileiro atual, para mim é o número um de nosso cinema recente. Nunca hei de esquecer as cenas de Abril Despedaçado. E você Setaro, nutre o mesmo sentimento pelo Waltinho?