Minnelliano de carteirinha, tenho por este estilista do cinema americano uma grande admiração. Introdutor da modernidade no filmusical americano (vindo da Broadway nos anos 40, revolucionou o gênero em obras fundamentais como Agora seremos felizes (Meet me in St.Louis, 1944), O pirata (este, principalmente), A roda da fortuna (The band wagon, um comentário amargo e ao mesmo tempo esfuziante sobre o crepúsculo do musical ainda em 1953), foi um realizador versátil que não se restringiu ao musical. Soube construir dramas ásperos e eficientes sempre com o rigor de sua mise-en-scène, a exemplo de Assim estava escrito (The bad and the beautiful), Deus sabe quanto amei (Some came running), A cidade dos desiludidos (Two weeks in other town). Mas, ainda assim, fez comédias admiráveis como Papai precisa casar, Brotinho indócil, Teu nome é mulher.
Assim estava escrito é um filme destinado à estesia do cinéfilo. A partitura de David Raskin, as interpretações, a luz que esculpe os personagens, com um claro/escuro de tirar o fôlego, e a articulação da linguagem cinematográfica à maneira de Minnelli. O tempo, fê-lo esquecido, pouco citado, quase não visto, ainda que existam em DVDs muitos de seus filmes. A expressão minnelliana é característica de um cinema de um tempo no qual havia uma estilização na maneira de representar o real, de traduzir a realidade. Não canso de ficar vendo The bad and the beautiful (tenho-o em DVD). Não sei até que ponto a nova geração possa sentir tanta estesia como eu sinto a ver esta obra-prima. A verdade, porém, é que esta obra me deixa completamente em pânico estético. O resto é conversa fiada.
3 comentários:
Minelli que inicilamente foi coreógrafo de filmes como "Ziegfeld Follies" (versão de 1946), teve sua grande obra em "O pirata" (1948) com Gene Kelly, mas dirigiu também "Gigi" (1958), que é um filme bem leve, ao estilo dos "romãnticos e lacrimogêneos" da década correspondente (e lhe deu um Oscar), e que tem a presença da "doce" Leslie Caron, Maurice Chevallier e seu "velho charme" francês.
Gosto também de "Os quatro cavaleiros do apocalipse" (Four horsemen of the apocalypse), com Glenn Ford, o inesquecível Genn Ford. Mais um que assisti no velho e bom 'ar-condicionado' geladíssimo do Metro Copacabana, numa tarde de um sábado qualquer chupando drops Dulcora (às vezes ia na Kopenhagen e comprava o drops de lá que era melhor ainda)...
Saudades daquele tempo mágico!
Professor, assistirei neste final de semana The Bad and the Beautiful e ficarei atenta ao pânico estético, é um novo conceito pra mim mas como aprendi no seu curso sobre o poder da fuga estética, sei que vc. está falando com propriedade. Um abraço e até breve.
A frase (cavalo não desce escada), se não é de autoria dele, foi popularizada por Ibrahim Sued nos idos dos 1960/70.
O dito colunista -- que se comparou a 007 em título de livro -- e cuja melhor situação foi a de entrevistar um "poliglota" e dizer ao vivo e em preto e branco(afinal, na época não havia TV a cores), virando-se para a câmera, que lhe deu um close, falou: " O fulano de Tal aqui fala várias línguas... portanto ele é um 'troglodita' (sic)".
Mas, a pergunta me deixou pensativo e em dúvidas atrozes. Após algumas elocubraçoes chegeui à conclusão que se descer, cai.
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