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15 abril 2008

Disso e daquilo

Na imagem ao lado, o bloguista ou blogueiro durante um intervalo nas filmagens de um produto audiovisual chamado Pizzaria com o qual se inaugura como metteur-en-scène. O resultado, de tão pífio, fê-lo recuar às suas mal traçadas linhas. Não é qualquer pessoa que pode ser um realizador cinematográfico ou querer se expressar pela via videográfica. Tudo requer talento, engenho, arte, imaginação. Pizzaria, infelizmente, acabou mesmo em pizza.
O artesão de sonhos, documentário de Paulo Hermida e Petrus Pires, dia destes terá apresentação pública numa das salas do circuito alternativo ou na Walter da Silveira. Esta última, cujo novo programador, Adolfo Gomes, tem feito um excelente trabalho, sofre, contudo, com o problema da decadência de antigos bairros soteropolitanos, a exemplo dos Barris, onde fica localizada a sala que tem o nome do eminente ensaísta cinematográfico baiano. À noite, é difícil o estacionamento e andar pela rua oferece grande perigo. Salvador está entre as cidades mais violentas do Brasil.
Geraldo Sarno, um dos documentaristas mais importantes do cinema brasileiro, chega à casa dos 70. Uma homenagem lhe será prestada nas Quartas Baianas da Sala Walter da Silveira. Realizador de documentários, na linha de Thomas Farkas, é autor do pioneiro Viramundo. Além de ter, na sua rica filmografia, dois longas: O sítio do Picapau Amarelo e Coronel Delmiro Gouveira, este último rodado em Cachoeira e circunvizinhanças, com o recém falecido Rubem De Falco no papel título.
O fundurço em torno da expressão emitida pelo humorista Marcelo de não-sei-das-quantas sobre Glauber Rocha deu muito o que falar. Houve até, li a respeito, um desagravo ao autor de Terra em transe, na Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Sou com Voltaire: não concordo com nada do que você está a me dizer, mas defenderei até a morte o direito de você dizer. Creio que o melhor comentário foi o de Ruy Castro na sua coluna da Folha de S.Paulo. E o de Franciel Cruz, jornalista baiano, no seu incruento Ingresia (veja o endereço ao lado para acessar este vibrante blog).
A platéia presente à exibição, no Festival do Ceará, o Cine-Ceará, de Waldick Sorriano, sempre no meu coração, documentário de Patrícia Pillar, que estréia na direção cinematográfica, aplaudiu-o de pé e durante a projeção. Sorriano, rei da breguice ou da cafonice é autor de Eu não sou cachorro, não, que fez a delícia da boemia cafona dos anos 70. Há também um filme com ele no qual aparece a cantar e a correr atrás de um cavalo. Waldick, machão declarado, mulherengo à antiga, já teve, como esposas oficiais, 14 lindas mulheres.
Revendo em DVD, com estupefação, assombro, O franco atirador (The deep Hunter, 1979), do grande Michael Cimino, filme que considero como o maior feito pelo cinema sobre a guerra, o conflito bélico. Na minha opinião, é melhor do que Apocalypse now, de Coppola, ou Platoon, de Oliver Stone, ou Nascido para matar, de Stanley Kubrick. Cimino, extraordinário cineasta, com talento à flor da pele como se nota em The deep Hunter, desapareceu, vítimas das injunções da indústria cinematográfica que nunca o perdoou por ter feito O portal do paraíso, cujo fracasso na bilheteria (mas um indiscutível êxito artístico) o condenou à desgraça. Em The deep Hunter, antes de se entrar na guerra propriamente dita, há uma seqüência de preparativos e de festa de um casamento que dura quase uma hora. Magnífica. Faz lembrar a do baile, final, de Il gattopardo, de Visconti. Cimino fez O ano do dragão,com Michael Rourkie, que é para ser considerado e aplaudido. E foi se acabando. Se não há engano, esteve no Rio para filmar alguma coisa. Grande e infeliz cineasta!
Hoje a bela Claudia Cardinale está a completar 70 anos.Cardinale foi a musa dos cinéfilos da década de 60, pois trabalhou com os grandes diretores do cinema, a exemplo de Visconti, Fellini, Valerio Zurlini, entre tantos! Tantos foram os filmes vistos com ela que penso em algum particular para fazer a citação. E este filme particular é O belo Antonio (Il bell'Antonio, 1960), de Mauro Bolognini, onde La Cardinale é a esposa de Marcello Mastroianni, que, casado com ela, fica impotente por problemas outros, mas faz com que a empregadinha de sua casa fique grávida. Diante da beleza da esposa, Mastroianni, o Antonio, fica impotente. Pierre Brasseur, ator francês clássico e inesquecível, faz seu pai que, ao tomar conhecimento da falta de tesão do filho, vai percorrer os bordéis de sua cidade (os puteiros como se dizia antigamente) para mostrar a todos que é homem. Mas tem um enfarte fulminante quando em cima de uma mulher. Bolognini, ainda que não do primeiro time, é um grande cineasta. Ser do segundo time, quando o primeiro era constituído por gente como Fellini, Visconti, Antonioni, é estar no pódio, pois deste faziam parte Dino Risi, Mario Monicelli, entre tantos engenhosos realizadores que fizeram a graça da comédia italiana dos anos 60. O roteiro de Il bell'Antonio é de um desconhecido: Pier Paolo Pasolini.

2 comentários:

Jonga Olivieri disse...

Pizzas à parte, eu, após uma garrafa de um magnífico ‘Concha y Toro’, tenho a dizer que estes seus “drops” de notícias e comentários foram muito bons. Aliás, após um bom vinho... Informações como as do natalício de Claudinha “La Cardinale”, a estupenda, a gostosa Claudia Cardinale... que tantos suspiros nos deixou... coisas da vida, chegando aos setenta! Uma senhora! O tempo, este devorador de “homens e caracteres”... O caso do Marcelo “MERDOreira”, o bosta que ousou projetar a sua imagem em Glauber... Vou assistir agora “The great escape”, um filme para tardes chuvosas e com pouco trabalho,,, como hoje... Por enquanto, estou a montar um Planejamento Estratégico para uma agência portuguesa. Um projeto gostoso que pode resultar em um período de uns quatro meses por terras d’além mar.... ó deus ih, uai!, como diria Gil Vicente, o segundo maior poeta desta língua... Torça por mim!

Leo Cunha disse...

ótimo texto. Sugiro apenas a correção do título original do filme do Cimino: The Deer Hunter
Abraço,
Leo Cunha