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06 abril 2008

A bruxa está solta: morre Charlton Heston


Morreu ontem Charlton Heston, aos 84, ator emblemático do cinema americano com seus papéis nos épicos históricos de Hollywood. Seu papel de Moisés em Os dez mandamentos (The ten commandements, 1956), de Cecil B. DeMille, marcou para sempre as retinas daqueles que eram adolescentes quando o filme foi lançado, impressionando com seus efeitos especiais, sua atmosfersa (aquela fumaça a simbolizar a peste, impressionante). Heston foi Ben Hur, El Cid, entre tantos outros heróis. Um ator que encarnava personagens acima dos pobres morais. Mas foi também o inspetor Vargas de A marca da maldade (The touch of evil, 1958), de Orson Welles. Heston ajudou muito a este para que a Paramount bancasse a sua produção. Fazer aqui um esboço da ficha filmográfica de Charlton Heston seria uma loucura. Que se vá ao Imdb: http://www.imdb.com/name/nm0000032/


Nos seus últimos anos, a imagem de reacionário de Heston ficou bem patente. Michael Moore, em Tiros em Columbine, conseguiu entrevistá-lo como presidente de uma associação de defesa de rifles, encontrando um Heston ranzinza e antipático, que até chega a abandonar a entrevista - Moore filma sua saída. Apoiava George Bush e gostou muito quando os Estados Unidos invadiram o Iraque. Mas o que fica dele é a imagem de Moisés, Ben Hur, El Cid, entre tantos! E, ainda de DeMille, e não querendo aqui me alongar, O maior espetáculo da terra, talvez o melhor filme de circo que se fez até hoje, A agonia e o êxtase, como Michelangelo, de Carol Reed...


Que a terra lhe seja leve!

13 comentários:

Anônimo disse...

Amén.

Jonga Olivieri disse...

Charlton Heston foi um astro que deixou sua marca no cinema hollywoodiano.
Em "A última esperança da terra" (The omega man – 1971), já abraça uma tendência fascista. Lembra-se do final? A câmera focaliza o quepe do herói sobre uma fonte e entra uma espécie de hino militar. Aliás, este filme é um ‘remake’ de “Mortos que matam” (1964) com Vincent Price, e que teve recentemente sua terceira versão em “Eu sou a lenda”, estrelado pelo Will Smith.
Mas, Heston tirou a máscara ao defender o direito do “cidadão” em ter armas de fogo, um posicionamento que hoje distingue bem a direita e a esquerda nos EUA. Em 1998 tornou-se presidente da “American Rifle Association”.
Como John Wayne, não podemos nos ater às suas posições, mas ao que representou em nossas vidas e em nosso contato com o cinema. Participou de filmes – nos mais variados gêneros – como: “O maior espetáculo da terra”, “El Cid”, “Ben-Hur”, “Os dez mandamentos”, “Da terra nascem os homens”, “Planeta dos macacos”, “No mundo de 2020”, “Karthoum”, “E o bravo ficou só”, “Terremoto”, “55 dias de Pequim” o curioso “A selva nua”, passado na Amazônia repleta de formigas devoradoras e por você o citado “A marca da maldade”.

André Setaro disse...

Interessante que Heston, quando jovem, era simpático aos 'rebeldes', deu muita força a Welles e pressionou o estúdio para que o autor de 'Cidadão Kane' tivesse ampla liberdade de ação. Muito prestigiado, Charlton Heston sempre foi uma figura à parte em Hollywood. Quando ficou mais velho é que seu direitismo se tornou mais furioso.
É um ator, quer queiram ou não seus detratores, que marcou o imaginário do adolescente dos anos 50, 60. Sempre soberbo.

André Setaro disse...

Ponho aqui um comentário de José Geraldo Couto que saiu hoje, segunda, na Folha paulitana:

"Charlton Heston encarnou como nenhum outro o herói hollywoodiano "maior que a vida". Seu rosto granítico e porte atlético deram forma a figuras histórico-mitológicas: Moisés ("Os Dez Mandamentos", 1956), "Ben Hur" (59), "El Cid" (61).
Com o declínio dos épicos, Heston passou a salvar o mundo em distopias futuristas -"O Planeta dos Macacos" (68), "No Mundo de 2020" (73)- e em filmes-catástrofe como "Terremoto" (74) e "Aeroporto 75".
Na Judéia pré-cristã ou no espaço, ele foi a imagem do "mocinho" sem máculas ou dúvidas, portador de todas as virtudes: belo, forte, íntegro, cheio de energia e boa intenção.
O humor, as hesitações e o cinismo dos heróis de hoje (Indiana Jones, James Bond etc.), não cabiam no figurino conservador clássico de Heston. É irônico que sua última aparição de impacto tenha sido em "Tiros em Columbine", como a triste figura de um defensor das armas para a resolução dos problemas individuais e coletivos. Anacrônico e direitista, mas afinado com a era Bush."

Jonga Olivieri disse...

Que Heston teve um passado com a cabeça mais aberta, é um fato.
Acusou o macartismo de "este sim fazer favorecer o 'comunismo'internacional" (sic).
Também foi favorável a Martin Luther King e a ala mais "progressita" dos democratas.
Heston tembém foi opositor de Nixon.
Depois é que veio este negócio de defender os rifles e revólveres "deles de cada dia".

André Setaro disse...

Esteve no Rio, se não me engano, na segunda metade dos anos 70 (76?) para lançar "Terremoto" ("Earthquake"), que tinha no elenco, além de outros, a crepuscular Ava Gardner, cujo rosto, meio inchado pelo álcool, já prenunciava o seu fim. Mas Heston, lia daqui os jornais do sul sobre a sua presença carioca, só bebia leite. A imprensa o chamou de "Mister Milk".
Era um homem inteligente, mas a idade fê-lo reacionário e "gagá"

André Setaro disse...

Li, agora, que Charlton "Ben Hur" Heston morreu de mal de Alzheimer. Há mais de dez anos andava esquecido, irritadiço, confundindo as coisas. Quando Moore o entrevistou para "Tiros em Columbine", Heston já estava meio 'gagá'. Foi uma lenda, uma legenda. Inesquecível!

André Setaro disse...

Deu hoje na Ilustrada da Folha à guisa, aqui, de informação:

Charlton Heston, vencedor do Oscar de melhor ator pelo papel-título do filme "Ben-Hur" (1959), morreu na noite de sábado, aos 84 anos, em Bervelly Hills, Los Angeles.
Em 2002, o ator americano anunciou que sofria de sintomas do mal de Alzheimer. Ele morreu em sua casa, ao lado da mulher, Lydia, com quem era casado desde 1944. "Nenhum homem poderia ter dado mais à família, à profissão e ao país. Em suas próprias palavras: "Vivi uma vida tão maravilhosa! Vivi o suficiente para duas pessoas'", disse a família, em nota, sem divulgar a causa da morte.
Heston ficou conhecido por sua atuação em filmes épicos ("Ben-Hur", "Os Dez Mandamentos"), de ficção científica ("Planeta dos Macacos", "No Mundo de 2020") e de catástrofe ("Terremoto").
O papel mais controverso, no entanto, foi na vida real, como presidente da Associação Nacional do Rifle (de 1998 a 2003). Isso lhe rendeu uma de suas últimas aparições no cinema, involuntária, no filme "Tiros em Columbine" (2002).
O filme de Michael Moore põe Heston como "vilão" por sua defesa ao direito à posse de armas. À época, porém, a imprensa avaliou que, combalido pela doença degenerativa, o ator pareceu mais inofensivo do que se pretendia mostrar.
Ontem, o site de Michael Moore exibia uma foto de Heston e a reprodução de um pedido da família de que sejam feitas doações ao Fundo de Cinema e Televisão dos EUA.
O presidente americano George W. Bush, que em 2003 outorgou a Heston -ativista político de direita- a medalha da liberdade, a mais alta honraria civil do país, descreveu ontem o ator como um "grande defensor das liberdades". "Ele serviu a seu país na Segunda Guerra, militou pelo movimento dos direitos civis [dos negros, nos anos 50], dirigiu um sindicato [dos atores] e defendeu vigorosamente a segunda emenda", disse, referindo-se ao artigo da Constituição dos EUA que garante o direito dos cidadãos de portar armas.
Nascido em 1924, em Evanston, Illinois, Heston iniciou sua carreira na Broadway como ator e modelo de nu artístico. Em seu começo no cinema, fez "O Maior Espetáculo da Terra" (1952), de Cecil B. DeMille, que voltaria a escalá-lo como o Moisés de "Os Dez Mandamentos".

No Brasil
Seu último filme, "Josef Menguele - My Father, Rua Alguém, 5.555" (2003), em que vivia o nazista, foi rodado no Brasil. O ator brasileiro Odilon Wagner, que fez parte do elenco, diz que Heston sofria dificuldade para se locomover e tinha de ler suas falas em painéis.
"O diretor [o italiano Egidio Eronico] se revoltou e quis "devolver" o Heston. Disse que tinham vendido gato por lebre, que ele não decorava nada." Mas, com a câmera ligada, "era outra coisa". Apesar de ter passado por uma cirurgia no quadril, Heston fez até uma cena de baile com a atriz Denise Weinberg. "Ele girava, posicionava-a conforme a câmera rodava ao redor, e ele mal podia andar..."

Jonga Olivieri disse...

Difíceis as perguntinhas do questionário. Juro que teri que pensar muito.
Por quê?
Primeiro porque no fundo a imagem saiu arranhada, mas também acho que uma coisa independe da outra. Jonh Wayne que o diga...
Por enquanto, fico entre as duas.

Jonga Olivieri disse...

Defini o meu voto pela opção: "o ator não tem nada a ver...".
Mas que fica a marca, lá isso fica. Ficou no caso de Heston, que sempre fôra um ator alinhado contra o Macartismo, contra Nixon, defensor de Martin Luther King.
Enfim, suas revelações acerca de uma doença degenerativa talvez expliquem tudo isso.
Vamos preservar a memória de um ator que marcou toda uma época... a minha época.

Jonga Olivieri disse...

Quero lhe agradecer ter colocado um link para o meu blogue "Casos" da Propaganda.

André Setaro disse...

Publico aqui um texto de autoria do escritor português João Pereira Coutinho, que saiu na Folha:

"Que miséria: morreu Charlton Heston. A última vez que vi o homem foi em filme de Michael Moore, "Bowling for Columbine/ Tiros em Columbine". Relembro: Moore, no seu analfabetismo boçal, pretendia mostrar a relação direta entre posse de armas e massacres escolares nos Estados Unidos. Charlton Heston, como presidente da National Rifle Association, organização que defende o direito constitucional à posse de armas, era alvo a abater, depois de longa demonização no ecrã.

Moore compareceu na casa do homem, que o recebeu com intocável gentileza. Sentaram-se para a entrevista, Moore iniciou as suas "perguntas" (tradução: julgamento e fuzilamento sem direito a defesa) e Heston, sem perder a compostura, levantou-se e saiu de cena ao perceber a intenção desonesta do bicho. Moore sorriu para a câmara (vitória! vitória!) e na sala de cinema o auditório aplaudiu em delírio.

Perdoo-lhes, porque eles não sabem o que fazem. Para começar, a relação direta entre posse de armas e execução de crimes é desmentida pelos fatos: como lembra Mick Hume, colunista da "Slate", Israel e a Suíça têm percentagens mais elevadas de posse de armas e taxas de homicídio mais baixas. E o inverso também acontece: o México e as Filipinas levam o controle a sério, mas a vida é ainda mais barata por aquelas bandas. Não que eu defenda a liberalização total da venda de armas (não defendo), mas a desonestidade é cansativa e repulsiva.

Mas o que custou no aplauso do auditório foi uma certa ignorância sobre o papel de Heston na história do cinema. Falo do trabalho com Orson Welles, em "A Touch of Evil/ A Marca da Maldade"; a colaboração com Nicholas Ray em "55 Dias em Peking". E falo dos filmes óbvios porque os filmes óbvios são grandiosos, mesmo, ou sobretudo, com a megalomania um pouco "kitsch" que os define: como esquecer Ben-Hur, na corrida das quadrigas? Como esquecer Moisés, dividindo as águas e conduzindo o povo eleito? Sobre "Os Dez Mandamentos", aliás, a memória é pessoalíssima: foi o primeiro filme que vi nas telas (teria uns seis anos) e recordo instintivamente a sequência em que a morte desce sobre o Egito para levar todos os primogénitos. Quem diria que a morte era assim, pensava eu na cadeira do cinema, um nevoeiro denso que cai sem aviso sobre os homens?

Ainda hoje tenho um certo temor do nevoeiro."

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.