Bullit (1968), de Peter Yates, com Steve McQueen, é um filme no qual a construção do tempo cinematográfico adquire um sentido maior. Apesar de um thriller, de um espetáculo de ação, Yates conduz Bullit mais pelo uso do silêncio, dos olhares de McQueen. A seqüência da perseguição de automóveis pelas ruas enladeiradas de São Francisco é de fazer perder o fôlego. É antológica e ponto de partida de outras corridas de carros. Creio, inclusive, que William Friedkin viu várias vezes Bullit para realizar o seu bem sucedido Operação França (The french connection, 1971). Mas o que gostaria de chamar a atenção, aqui, nesta postagem, é para a grande aula de cinema que é o documentário que faz parte dos extras da edição especial do DVD de Bullit. O filme, com quase duas horas, mostra desde os primórdios da montagem até os dias atuais, com a revolução da montagem digital. Há depoimentos de vários montadores importantes, cujas falas são ilustradas com exemplos de filmes. Documentário obrigatório para ser exibido em qualquer curso de cinema que se queira prezar. Mostra, por exemplo, que, na época do cinema mudo, a montagem era feita por mulheres e considerada um trabalho de corte e costura. Com o advento do falado, ainda se passaram alguns anos até que o profissional da montagem foi adquirindo, aos poucos, um certo status. Havia uma mulher, cujo nome me esqueço, que era uma ditadora na Metro, que supervisionava e mandava no corte de quase todos os filmes. Evidentemente que não me refiro à escola soviética, que tinha um Eisenstein, Pudovkhin, etc, que desde os anos 20 pensaram a montagem como a força motriz dos filmes. Mas os expressionistas alemães não ligavam muito para os recursos da montagem, concentrando-se na cenografia, na iluminação, e na expressão dos atores. É o que André Bazin chama de plástica da imagem. Enquanto esta era o ponto de referência do expressionismo, os recursos da montagem se tornaram a base dos artistas soviéticos. Na edição especial referida de Bullit, há, ainda, o filme comentado por Yates, cena por cena, e um belo panorama da trajetória de Steve McQueen, cuja morte prematura, aos 50 anos, deixou uma grande lacuna no cinema americano.
Um comentário:
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