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14 abril 2006

Da visceralidade necessária


Há cineastas que detestam captar recursos, mas, neste caso, podem arranjar um gerente de produção para a tarefa. Este, no entanto, que seria o diretor de produção, não possui a força de vontade suficiente, pois o filme a se realizar não é dele. O diretor de produção gosta mesmo é de gerir recursos já captados. Edgar Navarro, por exemplo, ficou louco com a necessidade de ter de se inteirar das dificuldades na realização de seu Eu me lembro, ainda que não tivesse de captar recursos, pois seu filme se tornou possível por causa de um prêmio num concurso de roteiros e num aporte salvador do Minc. Há, por outro lado, cineastas que gostam de captar recursos ou, pelo menos, conhecem a economia de mercado, os trâmites para se arranjar e aplicar dinheiro. É o caso da empresa de Fernando Meirelles e seus sócios, que há mais de 20 anos está no mercado publicitário. Também o pessoal da Conspiração, Walter Salles, entre outros. Já Barretão, Cacá Diegues, et caterva, estavam acostumados com as burras da Viúva e, por isso, gritam tanto quando há alguma modificação na legislação que possa lhes causar cortes no patrocínio. Se vivo fosse, como estaria Glauber Rocha, que detestava qualquer tipo de burocracia?

Os realizadores, assim, para captar recursos necessários, moldam seus roteiros para agradar às empresas patrocinadoras, tirando, com isso, a dose de audácia. Alguns diretores, a exemplo de Andrucha Waddington, Walter Salles, entram pelo sertão sem nenhuma vivência da problemática retratada e acabam por embelezar a paisagem, o décor. Um Glauber, por exemplo, compreendia bem o que estava a retratar, fazendo filmes viscerais. Uma coisa que está fazendo falta ao cinema brasileiro atual é a visceralidade. E, neste visceralidade, entenda-se total liberdade de expressão. Rogério Sganzerla, por exemplo, um dos mais geniais cineastas da história do cinema brasileiro, realizou sua obra-prima, O bandido da luz vermelha, em 1968, com um resto de negativo de um outro filme. Não teve que passar uma imagem para ninguém. E suas imagens em movimento são viscerais, assim como as de Deus e o diabo na terra do sol, de Glauber Rocha, A margem, de Ozualdo Candeias, À meia-noite levarei a sua alma (entre outros do mesmo autor), de José Mojica Marins, Lilian M, Alma corsária, de Carlos Reichenbach, Bang bang, de Andreia Tonacci, O viajante, de Paulo César Saraceni, Amarelo Manga, de Cláudio Assis, Contra todos, de Roberto Moreira, entre tantos outros que encheriam, se citados, o espaço deste quilométrico blog.
O cinema brasileiro está sendo assassinado pelos golpes de uma estética televisiva. Daniel Filho é, talvez, o seu maior algoz.


Um comentário:

Anônimo disse...

"O cinema brasileiro está sendo assassinado pelos golpes de uma estética televisiva..."

Voce nao tem o que fazer nao Setario? Todos os "cineastas" que voce citou sao muito ruins. Agora ficar desancando no Daniel, pode?