Saiu, hoje, no jornal soteropolitano A Tarde, uma entrevista comigo, com este blogueiro que vos fala, dentro da série Memória Baiana que, sempre aos domingos, o antigo vespertino (hoje sai com as galinhas) publica com o propósito de resgatar tempos idos e vividos da velha província. A entrevista se encontra na íntegra em A Tarde On Line, gravada em vídeo, e, no jornal impresso, os trechos considerados os mais importantes pela repórter que me fez o interview. Não disse nada, como de hábito, bato nas teclas de sempre. Parece coisa de Narcísio ter colocado minha foto, mas, no afogadilho da pressa, não achei outra. De qualquer modo e de qualquer maneira, encontra-se condizente com o assunto. Muitas vezes, ao falar de certos assuntos, que, penso, são fatos e constatações da verdade, tocam a me chamar de saudosista. Costumo, nestes tempos de farta e abundante mediocridade, falar coisas desagradáveis, principalmente quando se trata da arte baiana, que se encontra em processo de metástase.
Para ver e ouvir a entrevista:
9 comentários:
Vou assitir o vídeo mais tarde e volto a comentar. Sem falta!
Excelente a sua entrevista.
Curta, porém bastante esclarecedora, principalmente no tocante à cultura baiana,
Caro amigo, parabens pela sua entrevista ao A Tarde, muito lúcida e correta. De fato na Bahia a cultura anda miserável e perneta. Eles vivem apenas a dizer que o baiana já nasce artista, estreia, e por ai vão deixando a sabedoria. Para o baiana cultura é apenas carnaval e futebol, e somente isso.
Li a entrevista, acho que algumas críticas são pertinentes, há um certo toque de saudosismo sim... mas afinal temos que lembrar do que foi bom.
Conforme prometido (com certo atraso) segue o comentário sobre a sua entrevista.
Gostei demais de seu posicionamento sobre o vazio que se instalou sobre a cultura baiana. Gostaria de acrescentar, no entanto, que este esvaziamento é muito mais amplo do que se possa imaginar. E que nos centros menores ele se manifesta de forma bem mais evidente.
Estive na semana passada a conversar com um amigo mineiro sobre este fenômeno em Beagá, que é uma cidade do porte de Salvador e que pode muito bem servir de parâmetro. Belo Horizonte também gerou uma riqueza cultural nos anos 1960/70, principalmente através da música e expressões nas artes plásticas.
Em São Paulo e no Rio de Janeiro, a própria imensidão das cidades disfarça um pouco esta decadência. Mas eu posso garantir que embora naquela época tivéssemos menos locais geradores de cultura, qualitativamente tudo era muito mais presente. A velha Cinemateca do MAM exibiu filmes nunca d’antes vistos. O próprio Museu de Belas-Artes tinha uma cinemateca cuja atividade era muito intensa.
Certamente que a facilidade de mídias tecnologicamente avançadas gerou uma manifestação individualista da cultura. E claro que este comportamento interessa à burguesia, pois tudo que determina o fim de manifestações de massa reforça o seu caminho de perpetuar-se no poder através do enfraquecimento de toda e qualquer atitude coletiva.
O que acontece hoje é que cada vez mais ficamos em frente a um aparelho “multimídia”, isolados em nossas conquistas culturais. Outrossim, o cinema, a música e outras manifestações artístico-culturais são geradoras da alienação. Veja a nossa música popular e tente se lembrar que não éramos apenas Axé e música “Country”. E que nosso cinema produzia obras bem superiores a “Se eu fosse você”... Não que tenha nada contra a comédia. Pelo contrário, considero nossa chanchada uma experiência de saudosa memória.
Em suma: os tempos mudaram. A barbárie do sistema tende a isolar a humanidade em pequenos aquários, planetas distintos um do outro que impossibilitem sua manifestação conjunta. A não ser nos conglomerados de consumo que conhecemos como shopping centers. Onde estão os cinemas (cinemas?) multiplexados da vida!
Primo, muito boas as entrevistas e videos. Adorei o video da Ivete Sangalo, pois adoro ela. bjssssssssssss
Cecé
Excelente diagnóstico, Jonga, você tem razão, concordo com tudo que escreveu. Obrigado Cecé, esta, a sua primeira mensagem em meu blog. E Achel Tinoco e Tucha (sim, eu sou assimidamente um saudosista, mas o que tento relatar é a pura verdade, a constatação de uma miséria cultural que a todos nos ofende). Vide o comentário de Jonga.
Sereno e realista, sem passar a mão na cabeça de ninguém. Saudações.
Está no ótimo blog "O Último Baile", e eu concordo com todas as palavras:
"Com todo respeito que tenho a Prof. Setaro, ele incorre num erro comum de sua geração e de outras apenas um cadinho mais velhas do que as que hoje fazem o Pós-Axezismo, e que calhou de ser a minha: falam do passado como se presente fosse. Antônio Risério comete o mesmo erro: suas palavras são exactas para uma realidade de meia década atrás. Pra de hoje, são nefelibatas.
Para-além, Setaro comete um erro a mais: confunde “crítica cultural” com “crítica em jornal (impresso)”. E como a imprensa impressa está a morrer, decreta a morte da crítica. Ora, com a internet nunca o jornalismo (de boa qualidade) esteve tão vivo: e gratuito, colaborativo, livre. Nunca também a crítica foi tão vicejante: os críticos que exercem a crítica via internet (como eu aqui, o Omelete, o Zeta Filmes, Roberto Wagner, Luciano Matos, Filmes do Chico e tantos outros) pela primeira vez ao invés de impor e tutelar uma leitura teórica das obras, sucitam e coordenam debate. Mais: interferem de modo direto na autoralidade, naquilo que Deleuze apenas vislumbrou (sem conseguir por em prática) como “crítica = clínica”.
Aliás, o próprio Setaro diz que a crítica cultural morreu… fazendo crítica cultural! Tanto no Terra Magazine quanto no Coisa de Cinema (embora o formato deste último ainda esteja muito ligado a mídia tradicional – sem poder deixar comentários, por exemplo). É como estar cego de tanto vê-la. Ou como José Saramago dizendo que twitter é uma regressão ao monossílabo: se assim o fosse, os aforismos também o seriam, e também os haikais, bem como as manchetes de jornal e as epígrafes que ele cria para suas obras. Epígrafes que têm sido melhores que as próprias: desde que abandonou sua fase de ficcção histórico-geográfica (que nos deu obras-primas como O Ano Da Morte De Ricardo Reis, Jangada de Pedra e Memorial do Convento), Saramago tem optado por um international style meio Paulo Coelho. Não atoa Ensaio Sobre A Cegueira virou um filme mequetrefe, em inglês. Cousa que jamais aconteceria com o Evangelho Segundo Jesus Cristo, por exemplo."
Fonte: http://ultimobaile.com/?p=1579
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