François Truffaut divide os filmes em duas categorias: os filmes de personagens e os filmes de situações. E diz que a grande diferença entre os filmes europeus e os filmes de Hollywood (da boa Hollywood, digo eu, não esta do lixo cultural que aí está) é que os filmes realizados na Europa são, em primeiro lugar, filmes de personagens, ao passo que as produções americanas são filmes de situações.
Copio um trecho de seu livro Os filmes de minha vida, editado aqui no Brasil pela Nova Fronteira lá pelos idos dos 90: "Na França, respeitamos muito a verossimilhança, a psicologia, que os americanos apenas roçam, preferindo tratar a situação com vigor, sem desviar-se do ponto de partida. Como, afinal de contas, um filme não passa de uma fita de celulóide de dois mil metros desfilando diante de nossos olhos, é permitido compará-lo a um percurso. Diria então que o filme francês avança como uma carroça ao longo de um caminho tortuoso enquanto o filme americano rola como um trem sobre trilhos." Filme-carroça e filme-trem, portanto.
A julgar pela velocidade estúpida dos filmes contemporâneos, nos quais as tomadas são cada vez mais curtas, os filmes atuais são filmes-trem-bala. O cinema da indústria cultural está inassistível. Reinam, absolutos, os filmes-lixo.
Copio um trecho de seu livro Os filmes de minha vida, editado aqui no Brasil pela Nova Fronteira lá pelos idos dos 90: "Na França, respeitamos muito a verossimilhança, a psicologia, que os americanos apenas roçam, preferindo tratar a situação com vigor, sem desviar-se do ponto de partida. Como, afinal de contas, um filme não passa de uma fita de celulóide de dois mil metros desfilando diante de nossos olhos, é permitido compará-lo a um percurso. Diria então que o filme francês avança como uma carroça ao longo de um caminho tortuoso enquanto o filme americano rola como um trem sobre trilhos." Filme-carroça e filme-trem, portanto.
A julgar pela velocidade estúpida dos filmes contemporâneos, nos quais as tomadas são cada vez mais curtas, os filmes atuais são filmes-trem-bala. O cinema da indústria cultural está inassistível. Reinam, absolutos, os filmes-lixo.
Os filmes contemporâneos se assemelham a games, não passam de jogos, de efeitos. Pessoalmente, não tenho mais paciência para o lixo que se está a oferecer no circuito comercial. É verdade, porém, que, de vez em quando e de quando em vez, aparecem alguns filmes bons e até excelentes, a exemplo de Gran Torino, de Clint Eastwood, Sangue negro, de Paul Thomas Anderson, Antes que o diabo saiba que você está morto, de Sidney Lumet (que faz hoje, dia 25 de junho, 85 anos de idade), etc.
Mas para suavizar a crise, uma imagem de um belo momento do cinema: Gigi (1958), de Vincente Minnelli, com a belíssima Leslie Caron (que, nos anos 90, apareceu num filme de Louis Malle, creio que Perdas e danos (Domage) e assustou seus fãs. O tempo sempre é implacável. Ela está simplesmente um monstro de feiura. Clique na imagem para vê-la na sua dimensão exata.
Comprei, há alguns anos, o DVD de Gigi, mas qual não foi minha surpresa ao constatar que se encontrava no abominável formato full screen (tela cheia), quando o original é em cinemascope. Irritado, não cheguei a vê-lo, tirei-o do aparelho e, com um martelo, dei-o ao lixo, não sem antes estilhaçá-lo em mil pedacinhos. A Coleção Folha anuncia o lançamento de Gigi, mas é preciso saber se o formato está em cinemascope, porque caso contrário não valeria a pena adquiri-lo, apesar da beleza desse canto de cisne do filmusical clássico americano.
A Coleção da Veja é muito boa, os filmes são excelentes, embora alguns descartáveis, mas tem um inconveniente: o envelope que guarda o disquinho é meio apertado e estraga o conteúdo, como bem me alertou o cinéfilo e publicitário Jonga Olivieri, que teve o seu Quanto mais quente melhor danificado.
E Gigi, afinal de contas, seria um filme-carroça ou um filme-trem?
Comprei, há alguns anos, o DVD de Gigi, mas qual não foi minha surpresa ao constatar que se encontrava no abominável formato full screen (tela cheia), quando o original é em cinemascope. Irritado, não cheguei a vê-lo, tirei-o do aparelho e, com um martelo, dei-o ao lixo, não sem antes estilhaçá-lo em mil pedacinhos. A Coleção Folha anuncia o lançamento de Gigi, mas é preciso saber se o formato está em cinemascope, porque caso contrário não valeria a pena adquiri-lo, apesar da beleza desse canto de cisne do filmusical clássico americano.
A Coleção da Veja é muito boa, os filmes são excelentes, embora alguns descartáveis, mas tem um inconveniente: o envelope que guarda o disquinho é meio apertado e estraga o conteúdo, como bem me alertou o cinéfilo e publicitário Jonga Olivieri, que teve o seu Quanto mais quente melhor danificado.
E Gigi, afinal de contas, seria um filme-carroça ou um filme-trem?
7 comentários:
Não vou perder tempo em falar aqui do cinema estadunidense de nossos dias. O grande cinema dos EUA desvirtuou o seu caminho sobre estranhos trilhos após o seu desarrilhamento...
A cinematografia ianque foi sem dúvida a maior de todas durante décadas e décadas do século passado.
Mas eu me fixo num exemplo simples que define a grande diferença entre as duas escolas.
Numa cena de "A Liberdade é Azul" (Trois coleurs: Bleu) de Krzsztof Kizyszlowski (1993), há uma cena em que o carro passa na estradinha interiorana. Corta para um gajo sentado à beira da estrada que com a cabeça acompanha o veículo se deslocando e ouve-se apenas o estrondo da batida. Isto sem mostrar nada do acidente.
O que define a tendência sutil do cinema tipicamente europeu é a sutileza. Não se apóia em trilhas sonoras, nada dramático, além do trágico acontecimento narrado de uma forma em que quase nos colocamos no lugar desta testemunha anônima.
O cinema hollywoodiano sempre explorou (e muito bem) o excesso de narrativas com trilhas explosivas. Sai do cinema a pensar que se fosse um filme estadunidense a trilha teria um papel preponderante.
Isso não é um defeito. Tente assistir "Um corpo que cai" (Vertigo) do mestre Hitch sem a sua trilha sonora intensa e envolvente.
Eu já experimentei. Exibi alguns trechos da obra (mudos) só para fazer um teste. E como perdeu.
Aí está uma das diferenças básicas ente as duas escolas. E afirmo que não tenho preferências. Detesto é a pantomima paranóica e barulhenta dos filmes comerciais dos nossos vizinhos do norte neste continente americano Cada vez mais presentes no cinema videoclipe (como diz o professor Setaro) de nossos tempos.
Jonga,
Excelente o seu exemplo que nos faz ver a beleza de uma elipse bem feita. A sugestão é muito mais significativa do que quando se mostra uma determinada ação. Não se pode esquecer uma elipse fordiana em 'Rastros de ódio', quando, do ataque de índios que destrói a família de Ethan (Wayne), Ford, o grande Ford, evita mostrar o massacre. No cair da noite, e a fotografia avermelhada, uma das meninas abre a janela e dá um grito e, em seguida, o chefe indígena toca um instrumento. Corte. A imagem seguinte é de desolação, e aparece Ethan a gritar: "Martha!!"
Em "Acossado", quando Belmondo mata os policiais, logo no princípio, tudo é muito rápido e, de repente, o vemos a correr pelas ruas de Paris. Mas não é a rapidez dos débeis filmes atuais. É outro tipo de rapidez. É uma elipse 'in progress'
Tem também Henry Fonda matando o menino em "Era uma vez no Oeste", fusão magistral dos estilos europeu( o olhar do pistoleiro com a face tensionada) e americano( o barulho do tiro que lembra um canhão) nessa elipse Leone.
Caro Romero, Henry Fonda supermaquiado, em supercloseup, a cuspir, enquanto olha o menino, pistola na mão, é um precioso exemplo nesse sentido. Acrescente-se que, quando se ouve o tiro, o corte se dá para o barulho do som da locomotiva que chega à cidade trazendo, nela, Claudia Cardinale. O som provocado pelo tiro se confunde com a barulheira do trem em movimento.
"C'era una volta in west' é, realmente, um filmaço.
"o filme francês avança como uma carroça ao longo de um caminho tortuoso enquanto o filme americano rola como um trem sobre trilhos". achei bastante pertinente essa descrição da diferença entre o filme francês e americano. depois que li, parei pra pensar e conclui que é isso mesmo que acontece.
Setaro, GIGI da Coleção Folha também está em fullscreen. E pecado mais que mortal: eles lançaram RASTROS DE ÓDIO também em full!!! Isso devia ser crime. Justiça seja feita, outros filmes, como OS DOZE CONDENADOS, saíram no formato correto. O que será tão difícil nisso, não é?
Como posso ver 'Gigi" em cinemascope? Talvez em DVD importado. Não comprem, por favor, a cópia espúria que a Folha está lançando.
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